quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Jornada Continental convoca a luta unitária dos povos do continente contra a agenda neoliberal e em defesa da democracia

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Jornada Continental convoca a luta unitária dos povos do continente contra a agenda neoliberal e em defesa da democracia

Montevidéu, capital uruguaia, sediou na última semana o Encontro da Jornada Continental pela Democracia e contra o neoliberalismo. Cerca de 3000 militantes, de 23 países, estiveram reunidos para debater os impactos da ofensiva neoliberal na nossa região e discutir estratégias e agendas de luta, entre eles um expressiva delegação brasileira, da CUT e da CSD – CUT Socialista e Democrática.

A Jornada teve início em 2015, quando dezenas de organizações de luta reuniram-se em Havana, nos marcos dos 10 anos da derrota da ALCA e buscam, desde então, a rearticulação das ações frente à ofensiva neoliberal e o ataque às democracias. Para este ano, definimos a construção prioritária do Encontro de Montevidéu como um espaço capaz de ampliar o alcance da jornada e impulsionar um calendário de luta internacional unitário para 2018.

Como forma de organizar nossa unidade e nosso debate, ao longo do processo da jornada, definimos quatro eixos fundamentais de debate, elaboração e organização das nossas lutas: a defesa da democracia e da soberania, a luta contra o livre comércio, o combate ao poder das transnacionais e a integração dos povos.
Em Montevidéu realizamos atividades de luta, a exemplo de uma grande marcha de abertura, e ao longo de dois dias debatemos em painéis e mesas de discussão a conjuntura, os parâmetros da nossa unidade e os desafios das nossas lutas em torno de cada um dos eixos da jornada.

A síntese dessas discussões nos levou a uma plenária de convergência, na qual foi apresentada e debatida a declaração final do encontro que sistematizou os parâmetros da nossa unidade e nossas principais agendas de luta, iniciando ainda este ano com a mobilização em repúdio a Cúpula Ministerial da OMC em Buenos Aires no mês de dezembro.

Para 2018 definimos como prioridades as mobilização unitária no dia 8 de março e no 1º de maio; a presença e defesa da nossa agenda comum contra o livre comércio, no Fórum Alternativo Mundial da Água - FAMA, em Brasília, no mês de março; a mobilização contrária e o repúdio à Cúpula das Américas em junho, no Peru, e à cúpula do G20 que acontecerá no segundo semestre, em Buenos Aires, espaços que buscam restabelecer a hegemonia neoliberal no continente e, por fim, convocar os povos e movimentos do continente a mobilizarem-se de maneira unitária, combativa e solidária, em todos os países na semana de 19 a 25 de novembro, reivindicando a agenda acordada em Montevidéu, como expressão da ação dos nossos povos em defesa da democracia e contra o neoliberalismo.

Acesse ou veja abaixo (Formato PDF) a íntegra da Declaração Final do Encontro de Montevidéu (espanhol): http://bit.ly/JornadaDeclaração

ANEXO
A CUT e a CSD participaram ativamente da cobertura colaborativa do Encontro de Montevidéu. Acesse conteúdos que selecionamos para você:

📹 Nalu Faria sobre a agenda unitária definida no Encontro de Montevideu - http://bit.ly/JornadaNaluFaria

📹 Dr. Rosinha fala sobre o debate de integração dos povos na jornada - http://bit.ly/JornadaDrRosinhaIntegracao

📹 Daniel Gaio fala sobre o Fórum Alternativo Mundial da Água - FAMA na agenda da Jornada - http://bit.ly/JornadaDaniel

📹 Rafael Freire fala sobre os desafios da Jornada – http://bit.ly/JornadaRafaelFreire

📹 Dr. Rosinha, Professor Lemos e Miguel Rossetto falam diretamente da Jornada Continental - http://bit.ly/JornadaLemosRosinhaRossetto

📹 Íntegra do Ato político de Abertura - http://bit.ly/JornadaAtoAbertura

📹 Íntegra do painel Povos em Movimento - http://bit.ly/JornadaPovosemMovimento

📹 Íntegra do painel Desafios frente a onda conservadora e os ataques às democracias com Pepe Mujica   http://bit.ly/JornadaMesa2

📹 Íntegra do debate sobre Livre Comércio, com Daniel Gaio da CUT e Ticiana Studart da Marcha Mundial das Mulheres - http://bit.ly/JornadaLivreComercio

📹 Íntegra da Plenária Final de Convergência - http://bit.ly/JornadaPlenária

📹 Veja vídeo com um pouco da participação da Marcha Mundial das Mulheres na Jornada - http://bit.ly/JornadaMMM

📄 Em Montevidéu, Jornada Continental debate avanço do neoliberalismo - http://bit.ly/JornadaDemocraciaSoberania

📄 Com uma grande marcha, começa o Encontro de Montevidéu por Democracia e contra o Neoliberalismo - http://bit.ly/JornadaAbertura

📄 "Vida humana não pode se resumir a trabalhar e pagar contas", diz Mujica - http://bit.ly/JornadaMujica

📷 Veja a galeria de imagens da Jornada Continental no Flick - http://bit.ly/JornadaFlickr

terça-feira, 7 de novembro de 2017

A que servimos afinal?

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Por Mia Couto "Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho acadêmico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais. Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.

Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido..,) . Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas. Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.

É preciso remar contra toda essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros."

(Mia Couto)
 

BASTA DE PAULO FREIRE: A Controvérsia entre a Idiotice e a Insanidade!

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Ivo e Ivanio

Olá pessoal... é o Ivo e o Ivanio por aqui... tudo beleza...
Você deve ter visto ou ouvido falar da manifestação conservadora que pedia "BASTA DE PAULO FREIRE", veja a foto da manifestação abaixo:

Nós sabemos... foi lamentável... mas foi real e estamos compartilhando ela pra manter viva em nossa memória que optar pelo modelo freiriano de educar é causar desconforto no modelo vigente... é ser a tensão para a mudança... é decisão e compromisso com a transformação... e não será um caminho fácil (nós sabemos bem disso!).
Mas, nossa esperança e nossa ousadia fez com que construíssemos a Semana Paulo Freire como um momento onde possamos nos encontrar e dialogar sobre a Vida e a Obra de Freire, sobre o método Paulo Freire e sobre a Didática Freiriana (no vídeo 03 de segunda feira).
Gostaríamos que todos e todas que estão participando da Segunda Semana Paulo Freire possam se alimentar dos saberes partilhados e manter vivas as lutas nos seus espaços pedagógicos. Vamos gritar juntos: "Queremos MAIS Paulo Freire!". Compartilhe este e-mail e vamos criar uma grande corrente de freirianos e freirianas...
Se você quer saber mesmo O NOSSO PORQUÊ, queremos compartilhar um vídeo incidental que gravamos durante a 1ª Semana Paulo Freire, onde nós dialogávamos sobre os motivos que nos levavam a realizar o evento online: CLIQUE AQUI PRA ASSISTIR
E pra você ver as duas videoaulas que já estão disponíveis é só CLICAR AQUI PRA VER AS DUAS VIDEOAULAS
Nos vemos lá... deixe seus comentários pra irmos dialogando...
Um grande abraço e força na luta!
Ivo e Ivanio
P.S.: Curta nossa PÁGINA NO FACEBOOK pra ficarmos sempre conectados.

domingo, 5 de novembro de 2017

A cadela do fascismo está sempre no cio...

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[12:06, 5/11/2017] +55 61 8183-0934: Vamos vencê-los irmão não só no campo político más no ideológico também! Temos que escrever e não só divulgar ideias boas de outros!
[12:06, 5/11/2017] +55 61 8183-0934: Infelizmente, como Nação, temos isso pra nos envergonhar...
[12:06, 5/11/2017] +55 61 8183-0934: Mas também temos que nos perguntar: como, uma Nação que produziu LULA produz uma ABERRAÇÃO como esta? Será uma questão geográfica? O Nordeste produz melhores frutos?
[12:06, 5/11/2017] +55 61 8183-0934: Mesmo eu sendo preconceituoso...

Ser analfabeto histórico não basta...tem que demonstrar que é midiota otário!!!

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[19:51, 4/11/2017] EVANDIR: Ser analfabeto histórico não basta...tem que demonstrar que é midiota otário!!!
[19:52, 4/11/2017] EVANDIR: Será que teremos argumentos assim na redação amanhã??

Mais uma vez o porreta Josué

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O problema do Brasil é o ódio ao pobre

EDIÇÃO - 122 | BRASIL
por Jessé Souza
agosto 31, 2017

As noções de patrimonialismo e populismo são as ideias-guia que permitem à elite arregimentar a classe média. Elas, afinal, são as guardiãs da “distância social” em relação aos pobres, que é a pedra de toque da aliança antipopular construída no Brasil para preservar o privilégio, acesso aos capitais econômico e cultural, de 20% contra os 80% de excluídos



ODIO_AOS_POBRES



Este artigo é o resumo parcial de um fio condutor que percorre meu último livro, lançado em setembro pela editora Leya com o título A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Na publicação, busco enfrentar o desafio ambicioso de formular uma gênese histórica alternativa à narrativa hoje dominante, seja na direita, seja na esquerda do espectro político, da sociedade brasileira contemporânea. Como já defendi em outras obras,1 minha tese é a de que o liberalismo conservador é a narrativa oficial do Brasil moderno, inclusive para a esquerda colonizada intelectualmente pela direita. Os pais fundadores dessa leitura são Sérgio Buarque e Raymundo Faoro. A partir da entronização desses autores como referência universitária para a formação de todas as elites e, como consequência dessa consagração, também de tudo que a grande imprensa diz sobre o país, passa a existir um grande consenso inarticulado e pré-reflexivo que contamina praticamente tudo que se formule sobre o país no nível mais explícito dos argumentos.

É necessário quebrar a hegemonia dessas ideias arcaicas e conservadoras para que a teoria e a prática política brasileira possam mudar de modo efetivo. A histeria acerca da corrupção política, por exemplo, identificada pela população e pela imprensa como o maior problema nacional, advém do domínio dessas ideias. A identificação de uma suposta elite todo-poderosa no Estado, e não no mercado, suprema tolice que possibilita a virtual invisibilidade da ação predatória dos oligopólios e da intermediação financeira, também é fruto dessa hegemonia. De resto, toda a cantilena da corrupção como herança cultural portuguesa, do advento de um patrimonialismo pré-moderno cujo racismo implícito já critiquei,2 serve para que supostas “heranças culturais” pensadas como “heranças de sangue” fiquem no lugar de uma análise científica dos conflitos sociais e da gênese da desigualdade social. A tese dominante do patrimonialismo, como leitura hegemônica sobre a sociedade brasileira, foi a responsável por tomar a corrupção política como aspecto central e a desigualdade social como questão secundária. É essa inversão absurda de perspectiva e de prioridade que o livro pretende corrigir.

Essa tese do patrimonialismo ocupa o lugar da centralidade da escravidão entre nós e representa uma estratégia de tornar invisível a própria herança desta. Embora no livro eu reconstrua a escravidão e seus efeitos desde o Brasil Colônia, aqui a limitação de espaço me obriga a inquirir acerca de sua feição mais moderna. Como se constrói, no século XX, uma sociedade que reproduz todas as iniquidades do ódio, humilhação e desprezo contra os mais frágeis que caracterizam a escravidão?

Minha tese é que isso foi realizado como programa político conduzido conscientemente pela elite econômica, em primeiro lugar a elite paulistana, como forma de assegurar para si a condução ideológica da sociedade e limitar a ação política dos setores populares mesmo em um contexto de sufrágio universal. A astúcia da elite foi perceber, já no início do século XX, quando uma classe média começa a despontar de modo incipiente nas grandes cidades brasileiras, que, se os pobres poderiam ser oprimidos pelo cassetete e pelo fuzil dos policiais, a classe média exigia uma estratégia alternativa. Ao contrário da violência material, aplicada indiscriminadamente contra os pobres, contra a classe média a violência teria de ser “simbólica” para produzir cooptação e “convencimento”.

A perda do poder político para Getúlio Vargas vai ser o ponto de inflexão dessa estratégia. Nesse momento, a elite econômica paulistana vai procurar se utilizar de seu “poder material” para construir as bases do seu “poder simbólico”. A ideia-guia foi construir uma hegemonia ideológica como forma tanto de reconquistar o poder político como de limitar o poder dos eventuais inimigos de classe alçados ao controle do Estado.

A classe média não é uma classe necessariamente conservadora. Também não é uma classe homogênea. O Movimento Tenentista, conhecido como o primeiro movimento político comandado pelos “setores médios” no Brasil, revela bem essas características. Ainda que tenha sido protagonizado por oficiais militares de baixa e média patente (daí o nome “tenentismo”) a partir dos anos 1920, o movimento refletia já a nova sociedade mais urbana e moderna que se criava. A parte rebelde da instituição militar era uma expressão desses novos anseios.

A oposição ao pacto conservador da República Velha, com suas eleições fraudadas e restritas, era o ponto de união entre os tenentistas. Dentro do movimento, no entanto, conviviam desde as demandas liberais por voto secreto e por maior liberdade de imprensa até o desejo de um Estado forte como meio de se contrapor ao mandonismo rural. Parte do grupo se radicalizou politicamente na Coluna Prestes, cujo líder, Carlos Prestes, seria o fundador do partido comunista brasileiro. Parte do grupo se alinhou desde a Revolução de 1930 com Getúlio Vargas, enquanto outra parte exerceu ferrenha oposição a ele todo o tempo. O nosso primeiro movimento político com claro suporte e apoio da classe média já mostra a extraordinária multiplicidade de posições políticas que essa classe pode abrigar.

Quando Sérgio Buarque elegia o “patrimonialismo” das elites que habitam o Estado como o grande problema nacional, ele não estava dando vida, portanto, a nenhum sentimento novo. A “corrupção do Estado” era uma das bandeiras centrais do tenentismo. Poder-se-ia, por exemplo, perceber a corrupção do Estado como efeito da captura deste pela própria elite econômica que o usa para defender e aprofundar seus privilégios. Isso teria levado a uma conscientização coletiva dos desmandos de uma elite apenas interessada na perpetuação de seus privilégios.

Não foi essa a interpretação que prevaleceu. A elite do dinheiro paulista, que havia perdido o poder político, ainda que mantido o econômico, agiu de modo astucioso, calculado e planejado. Percebeu claramente os sinais do novo tempo. A truculência do “voto de cabresto” estava com os dias contados. No lugar da “violência física” deveria entrar a “violência simbólica” como meio de garantir a sobrevivência e a longevidade dos proprietários e seus privilégios.

Com o Estado na mão dos inimigos, a elite do dinheiro paulistana descobre a “esfera pública” como arma. Se não se controla mais a sociedade com a farsa eleitoral acompanhada da truculência e da violência física, a nova forma de controle oligárquico tem de assumir novas vestes para se preservar. O domínio da “opinião pública” parece ser a arma adequada contra inimigos também poderosos. O que estava em jogo aqui era a captura agora intelectual e simbólica da classe média letrada pela elite do dinheiro, formando a “aliança de classe dominante” que marcaria o Brasil daí em diante.

Como se construiu esse projeto no alvorecer do século XX?

A USP, a universidade do estado de São Paulo, foi criada por essa mesma elite desbancada do poder político e pensada como a base simbólica, uma espécie de think tank gigantesco do liberalismo brasileiro a partir de então, desse projeto bem urdido de contrapor a força das ideias generalizadas na sociedade contra o poder estatal, desde que este seja ocupado pelo inimigo político, à época representado por Getúlio Vargas.

Sérgio Buarque é menos o criador e mais o sistematizador mais convincente do moralismo “vira-lata” que irá valer, a partir de então, como versão oficial pseudocrítica do país acerca de si mesmo. Como o “Estado corrupto” passa a ser identificado como o mal maior da nação, a elite do dinheiro ganha uma espécie de “carta na manga” que pode ser usada sempre que a “soberania popular” ponha no governo, inadvertidamente, alguém contrário aos interesses do poder econômico.

Com base nesse eixo intelectual eivado de prestígio, essa concepção se torna dominante no país inteiro. Toda a vida intelectual e letrada vai respirar os novos ares. Isso não significa obviamente dizer que a USP não tenha produzido coisa distinta do liberalismo conservador das elites. Florestan Fernandes e sua atenção aos conflitos sociais realmente fundamentais provam o contrário. Existe uma tradição nesse sentido também por lá. Mas essa tendência é menos poderosa que a versão dominante, posto que sem a network com as editoras, as agências de financiamento, a grande imprensa e seus mecanismos de consagração; além de ela própria ter assimilado aspectos importantes da tradição conservadora elitista como a aceitação implícita ou explícita da tese do patrimonialismo.

Desde essa época o “liberalismo conservador”, baseado no falso moralismo da “higiene moral” da nação, vai ser a pedra de toque da arregimentação da classe média. Isso não significa dizer que o moralismo não tenha eco também nas outras classes. Em alguma medida esse discurso nos toca a todos. Mas na classe média ele está em “casa”. É que as classes sociais estão sempre disputando não apenas bens materiais e salários, mas também prestígio e reconhecimento, ou em uma palavra: legitimação do próprio comportamento e da própria vida.

As classes superiores, que monopolizam capital econômico e cultural, têm de justificar, portanto, seus privilégios. O capital econômico se legitima com o “empreendedorismo” de quem “dá emprego” e ergue impérios, e com o suposto bom gosto inato de seu estilo de vida, como se a posse do dinheiro fosse mero detalhe sem importância.

A legitimação dos privilégios da classe média é distinta. Como seu privilégio é invisível pela reprodução da socialização familiar que esconde seu trabalho prévio de “formar vencedores”, ela é a classe por excelência da meritocracia e da superioridade moral. Estas servem para distingui-la e para justificar seus privilégios em relação tanto aos pobres como aos ricos. É que, se os pobres são desprezados, os ricos são invejados. Existe uma ambiguidade nesse sentimento, em relação aos ricos, que vincula admiração e ressentimento.

A suposta superioridade moral da classe média dá à sua clientela tudo aquilo que ela mais deseja: o sentimento de representar o melhor da sociedade. Não só é a classe que “merece” o que tem por esforço próprio, conforto que a falsa ideia da meritocracia propicia, mas também a classe que tem algo que ninguém tem, nem os ricos, que é a certeza de sua “perfeição moral”.

Como na imensa maioria dos casos não possui os meios para se envolver nas grandes negociatas que manipulam milhões, a classe média não tem sequer, na prática, o dilema moral de se deixar ou não corromper. Como justificação e legitimação da própria vida, o esquema moralista é, portanto, perfeito. Em relação aos poderosos, a classe média pode se ver sempre como “virgem imaculada” e moralmente perfeita.

A elite do dinheiro soube muito bem aproveitar as necessidades de justificação e de autojustificação dos setores médios. “Comprou” uma inteligência para formular uma “teoria liberal moralista” feita com precisão de alfaiate para as necessidades do público que queria arregimentar e controlar. Esse tipo de “compra” da elite intelectual pela elite do dinheiro não se dá apenas nem principalmente com dinheiro. São os “mecanismos de consagração” de um autor e de uma ideia seguindo, aparentemente, todas as regras específicas do campo científico.

Mas a quem pertencem os jornais, as editoras e os bancos e empresas que financiam os prêmios científicos? Desse modo, sem parecer “compra”, o expediente é muito mais bem-sucedido. Depois, usou sua posição de proprietária dos meios de produção material para se apropriar dos meios simbólicos de produção e reprodução da sociedade. É aqui que entra a relação que existe até hoje entre imprensa, universidade, editoras e capital econômico.

Todo o discurso elitista e conservador do liberalismo brasileiro está contido em duas noções que foram desenvolvidas na USP – a universidade criada pela elite antiestatal paulistana – e depois ganharam o Brasil: as ideias de “patrimonialismo” e de “populismo”.

Se o patrimonialismo torna invisível a base real do poder social ao estigmatizar o Estado e seus ocupantes sempre que as eleições ponham alguém não palatável pela elite da rapina econômica na disputa eleitoral, o populismo estigmatiza qualquer pretensão popular.

A noção de “populismo”, atrelada a qualquer política de interesse dos mais pobres, serve para mitigar a importância da soberania popular como critério fundamental de qualquer sociedade democrática. Afinal, como os pobres, coitadinhos, não têm mesmo nenhuma consciência política, a soberania popular e sua validade podem ser sempre, em graus variados, postas em questão.

O “voto inconsciente” corromperia a validade do princípio democrático por dentro. A proliferação dessa ideia na “esfera pública” por meio da sua “respeitabilidade científica” e depois pelo aparato legitimador midiático, que o repercute todos os dias de modos variados, é impressionante. Os best-sellers da ciência política conservadora comprovam a eficácia dessa balela.3

As noções de patrimonialismo e de populismo, distribuídas em pílulas pelo veneno midiático diariamente, são as ideias-guia que permitem à elite arregimentar a classe média como sua “tropa de choque” sempre que necessário. Elas, afinal, são as guardiãs da “distância social” em relação aos pobres, que é a pedra de toque da aliança antipopular construída no Brasil para preservar o privilégio, acesso aos capitais econômico e cultural, de 20% contra os 80% de excluídos em alguma medida significativa.

O segundo ponto da justificação da classe média para baixo, em relação às classes populares, é o ponto mais interessante e que a transforma definitivamente na marionete perfeita da elite do dinheiro. A classe média brasileira possui um ódio e um desprezo pelo “povo” cevados secularmente. Essa é talvez nossa maior herança intocada da escravidão, nunca verdadeiramente compreendida e criticada entre nós. Para que se possa odiar o pobre e humilhá-lo, tem-se de construí-lo como culpado de sua própria (falta de) sorte e ainda torná-lo perigoso e ameaçador. Se possível, deve-se humilhá-lo, enganá-lo, desumanizá-lo, maltratá-lo e matá-lo cotidianamente. Era isso que se fazia com o escravo e é exatamente a mesma coisa que se faz com a “ralé de novos escravos” hoje em dia. Transformava-se o trabalho manual e produtivo em vergonha suprema, como “coisa de preto”, e depois se espantava que o negro não enfrentasse o trabalho produtivo com a mesma naturalidade que os imigrantes estrangeiros, para quem o trabalho era símbolo de dignidade. Dificultava-se de todas as formas a formação da família escrava, e nos espantamos com as famílias desestruturadas dos nossos excluídos de hoje, mera continuidade de um ativismo perverso para desumanizar os escravos de ontem e de hoje.

Os escravos foram sistematicamente enganados, compravam a alforria nas minas e eram escravizados novamente e vendidos para outras regiões, eram brutalizados, assassinados covardemente. A matança continua também agora, com os novos escravos de todas as cores. O Brasil tem mais assassinatos – de pobres – que qualquer outro país do mundo. São 60 mil pobres assassinados por ano no Brasil. Existe uma guerra de classes hoje declarada e aberta. Construiu-se toda uma percepção negativa dos escravos e dos seus descendentes como feios, fedorentos, incapazes, perigosos e preguiçosos, isso tudo de forma irônica, povoando o cotidiano com ditos e piadas preconceituosas, e hoje muitos se comprazem em ver a profecia realizada. Não se entende a miséria permanente e secular dos nossos excluídos sociais sem esse ativismo social e político covarde e perverso de nossas classes “superiores”.

O ódio secular às classes populares parece-me a mais brasileira de todas as nossas singularidades sociais. Como os preconceitos são sociais, e não individuais, como somos inclinados a pensar, todas as classes superiores no Brasil partilham desse preconceito. Ainda que, mais uma vez, ele esteja verdadeiramente “em casa” na classe média. Ainda que a classe média seja muito heterogênea, toda ela, sem exceção, inclusive o autor que aqui escreve, é portadora em maior ou menor grau desse tipo de preconceito. De alguma maneira “nascemos” com ele, o introjetamos e o incorporamos, seja de modo inconsciente e pré-reflexivo, seja de modo refletido e consciente, como ódio aberto. Mesmo quem critica os preconceitos os têm dentro de si, como qualquer outra pessoa criada no mesmo ambiente social. O que nos diferencia é a vigilância em relação a eles e a tentativa de criticá-los de modo refletido em alguns, e não em outros. Mas todos nós somos suas vítimas.

*Jessé Souza é sociólogo e autor, entre outros livros, de A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato (Leya, 2017), lançado em setembro e do qual este artigo foi extraído.
[Publicado na edição 122 do Le Monde Diplomatique Brasil – setembro 2017]

A controvérsia das nossa "elites" burras

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Gente querida, queremos compartilhar uma bela notícia é uma grande alegria com todos vcs! 

O Acervo de Paulo Freire já possui reconhecimento do Conarq e do Programa Memória do Mundo da UNESCO em nível nacional e latino-americano. 

Acabamos de receber a notícia de que foi reconhecido também como patrimônio da humanidade! 

Ganhamos o prêmio em nível internacional! No momento em que desejam tirar o título de patrono da educação brasileira, sua obra é reconhecida como patrimônio da humanidade! 

O patrimônio documental do Arquivo Paulo freire foi aprovado no Registro Internacional do Programa Memória do Mundo da UNESCO. 

 O programa Memória do Mundo equivale ao prêmio de Patrimônio Histórico da Humanidade, só que para documentos. A escolha é feita a cada dois anos. Os países submetem seus acervos.



https://en.unesco.org/news/international-advisory-committee-recommends-78-new-nominations-unesco-memory-world

https://en.unesco.org/programme/mow/register-2016-2017

Um abraço 🤗 a todos e todas

Líder do sindicato autor do projeto anti-Uber: "pobre não quer carro na porta, tem que se conformar que é pobre

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A disfarçatez do Mercado

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Só os oprimidos podem "salvar" a humanidade

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Coluna | Só os sem-terra e sem-teto salvam o Brasil; por Xico Sá https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/03/opinion/1509706065_184302.html?id_externo_rsoc=whatsapp