quinta-feira, 30 de maio de 2013

A CONTROVÉRSIA DA BRUTALIDADE ANIMAL!

Cultura do estupro, medidas paliativas do governo e as redes sociais como espelho da sociedade
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qua, 29 de mai de 2013 07:49 BRT
Muito tem se falado de cultura do estupro. E muito tem se negado sua existência. É comum ver o discurso de que mulheres precisam “se dar o respeito”, “vestir-se decentemente” ou “não se portar como uma vagabunda” para evitar o crime. Essa é a famosa culpabilização da vítima, um dos recursos mais usados e bem aceitos na cultura do estupro.
A questão é que estupros acontecem em países em que mulheres vestem burcas. Estupros acontecem no exército e na marinha, com mulheres uniformizadas respeitando normas rigidas. Com mulheres que acabaram de sair da igreja. E pesquisadores dizem que o estuprador tem desejo por poder, não só pelo corpo feminino. O sexo é um detalhe, a subjugação é o clímax.
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A cultura do estupro se dá quando a mídia, por exemplo, exibe anúncios em que mulheres são violentadas como se isso fosse algo normal. O site Business Insider lista, regularmente, anúncios que estimulam ou desqualificam a violência contra a mulher. Em um deles, do governo do Egito, representa a mulher por meio de um pirulito com plástico e outro sem, sendo atacado por moscas (representando o homem), com a seguinte frase: "Você não pode parar (as moscas), mas pode proteger-se".

Ao mesmo tempo que grupos lutam para discutir o exemplo social dado a meninos e a cultura que desqualifica a liberdade feminina e dá liberdade para que o homem acredite que nunca poderá receber um não como resposta, o número de casos de estupro, em São Paulo, por exemplo, bateu recordes com uma média de 37 casos por dia. TRINTA E SETE mulheres sofrem abuso sexual POR DIA. Assustador, não?
Resolver o problema não é simples. É necessário mudar uma cultura ligada a interesses financeiros e de controle de massa. Uma cultura que prefere deixar as pessoas ignorantes, odiando umas as outras, para que não se importem com problemas grandes de interesse comum. Mas enxergar o problema e começar trabalhos para transformar a realidade é a saída.
No entanto, ao invés de mostrar que o estupro é errado e que estupradores serão punidos severamente, o governo de São Paulo resolveu criar uma cartilha para que a mulher se proteja. É claro, a vítima deve ser responsável para evitar seu abuso – que em grande parte dos casos é feito por pessoas conhecidas e do seu convívio. Quão maluco é tudo isso?

Imagine que você está atravessando a rua, na faixa e com o farol de pedestres verde, é atropelado. Jogado a uma distância assustadora, tem diversos ossos quebrados e sequelas para o resto da vida. As autoridades dizem, diretamente a você, enquanto você ainda sente as dores, ali, no chão, que o motorista que fez isso está errado, mas que você deveria ter prestado mais atenção antes de passar por ali. É assim que é tratada uma mulher vítima de estupro.
A tal cartilha terá ainda um perfil do homem que estupra, criado a partir de estudos. O que me soa bastante perigoso, já que você, homem correto, pode se parecer com um estuprador e passar a ser alvo de medo feminino.
Nós, mulheres, sabemos como nos proteger. Sabemos que andar por uma rua escura e sozinha não é aconselhado por especialistas em segurança. Mas quem vai nos buscar no ponto de ônibus depois da faculdade? Quem vai passar a noite toda, na balada, ao nosso lado, impedindo que babacas nos puxem pelo braço ou pelo cabelo? Devemos aprender a lutar para agredir quem fizer isso? Deixar nossos estudos, trabalhos e diversão de lado? Nos tornar violentas, agressivas e desconfiadas porque a sociedade prefere isso a tirar os privilégios que seus homens têm? Não é o que queremos.
Em uma sociedade igualitária homens e mulheres têm os mesmos direitos e deveres, as mesmas liberdades, o mesmo respeito. Isso a gente quer. A gente quer não ter medo. Queremos poder andar o caminho para casa pensando na vida e não no momento em que alguém vai aparecer do nada e nos assediar.
Nos últimos dias postei aqui na coluna uma pesquisa que diz que homens enxergam mulheres de biquini como objetos. Os comentários, assustadores como de costume, diziam que se a mulher está mostrando o corpo é assim mesmo que será vista, mas poucos se atentaram para a parte mais assustadora do texto: ele diz que quando certos homens veem a pele feminina passam a ignorar seus direitos e vontades, acreditando que ela é apenas um objeto para satisfazer seus desejos e fantasias. Essa é a base da cultura do estupro sendo inserida no cérebro das pessoas. A ideia de que suas vontades são superiores a vontade do outro. É aí que nasce o estuprador.
Quando falamos sobre esse assunto muita gente diz que é exagero, mas se formos ver o que acontece nas redes sociais, o espelho da nossa sociedade na internet, ficamos assustados. O Facebook, rede mais popular do mundo, tem passado por retaliações sem fim. Sua política de deletar conteúdo ofensivo ignora totalmente apologias ao estupro.
Na última semana um vídeo que mostra uma garota de 12 anos sendo estuprada por três adolescentes ficou na rede por um bom tempo antes que a enxurrada de e-mails conseguisse convencer a equipe de Zuckerberg o quão impróprio o ofensivo era aquilo.
Nesse meio tempo, pessoas de todo o mundo, compartilharam as imagens ofensivas com as quais têm sido bombardeadas diariamente, sem pedir. Os anúncios da rede colocam páginas que glorificam a violência contra a mulher ao lado de grandes empresas que lutam por seu bem-estar. As empresas já começaram a pressionar o Facebook para que imagens desse tipo sejam tiradas do ar o mais rápido possível e que a vista grossa sobre elas acabe.

Banalizar o discurso da violência é o mesmo que glorifica-lo. É mostrar que, no mundo real ou virtual, você não será punido ao violentar – sexualmente ou não – uma mulher. A liberdade de expressão não abre precedente para que o discurso de ódio seja aceito, eles são coisas bastante diferentes. Assim que sua liberdade passa a ofender e machucar outra pessoa, ela se torna crime.
Enquanto aceitarmos que a luta contra a violência seja desqualificada nos meios de comunicação, que as punições sejam em relação a vítima, que é cerceada de seus direitos, e que os projetos contra estupro e abuso sejam focados no comportamento das vítimas ao invés de educar e punir os culpados, estaremos apostando em uma sociedade em que o ódio é a moeda de troca aceita.

Nós precisamos de ações concretas e não pedaços de papel nos dizendo que as culpadas somos nós, por viver em uma sociedade hipersexualizada e que torna os desejos sexuais do outro mais importantes do que nossa vontade e direitos.
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Homens enxergam mulheres como objetos, diz estudo
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 27 de mai de 2013 06:45 BRT

Como os homens te enxergam? (Foto: Thinkstock)
Quando muitas histórias passam a se cruzar na minha vida sinto que devo escrever sobre o assunto. O que aconteceu dessa vez é que diversas amigas e colegas vieram conversar comigo sobre os motivos dos homens sempre acharem que farão sexo com você. Sempre.
É aquela velha história de você ter uma relação super legal com o cara do trabalho, o cara da academia, da faculdade, do cursinho, da padaria e aí, assim que ele tem uma chance, tenta algo contigo. E, espera um momentinho, você nunca teve essa intenção, mas parece que o amigo não entende.
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Dias depois dessas conversas e de muitas mulheres ficando mais magoadas e cansadas do que o normal, apareceu um post incrível na minha frente: “Estudo mostra que homens heterossexuais vêem mulheres como objetos – literalmente”, trabalho que dá título também a este post que você está lendo.
O estudo em questão é da psicóloga Susan Fiske, da Universidade de Princeton. Ela tirou imagens de cérebros de homens heterossexuais enquanto olhavam imagens sexualizadas de mulheres usando biquines. A descoberta foi que a parte do cérebro ativada era aquela que normalmente acende quando as pessoas vão utilizar alguma ferramenta – eles viam mulheres como objetos inanimados que recebiam uma ação sua. Mais nada. Os caras que mais tiveram incidência desse comportamento foram aqueles que mais conseguiam desativar a parte do cérebro que leva em consideração as intenções de outras pessoas (o córtex medial pré-frontal). Eles respondiam frente a essas imagens como se as mulheres fossem não-humanas.
Essa explicação vem do livro “The Equality Illusion: The Truth about Women and Men Today” de Kat Banyard. Caso você se interesse.
E o que ela diz é que homens – nem todos eles, é claro – olham para a mulher como se ela estivesse ali para lhe servir. É quase como se qualquer mulher fosse uma boneca inflável, levando o assunto para o sexo. E isso é extremamente nocivo à sociedade e as relações entre os gêneros.
Só que, ao mesmo tempo, tudo isso é possível de ser mudado. Há milhares de homens que tratam mulheres com respeito, que entendem que nem toda mulher se interessará por ele e que não estará disponível. Mulheres têm vontades e são elas que regem suas decisões.
O homem pode entender isso, mas grande parte deles não quer – assim como uma boa parte das mulheres. E então cabe a nós, mulheres e homens conscientes, colocarmos limites e lutarmos contra a exploração que esse tipo de pensamento tão arraigado na sociedade causa. Esse é o tipo de ideia que faz com que estupradores sintam-se certos, assim como agressores.
A mulher é humana e sente-se ofendida quando tratada de outra maneira. Temos desejos, vontades, sonhos e aspirações e não merecemos nada aquém de respeito. Nós tomamos nossas decisões e devemos escolher com quem queremos dividir nosso tempo, nosso corpo e nossos desejos.
Já os homens, devem repensar a relação que tem com as mulheres. Se você sente que esse tipo de efeito acontece com você, pode lutar contra ele, abrir a cabeça, mudar de posicionamento. Nada é imutável. E estudos desse tipo servem para que a gente note que a sociedade, da forma que é hoje, causa danos permanentes no nosso cérebro.
Mudar não é simples. Sair do padrão imposto pela sociedade também não é. Mas tudo isso é valioso, libertador e faz com que você consiga enxergar o mundo com um pouco mais de clareza. E a mudança está nas mãos de cada um. Deixar de repetir posturas que não acrescentam nada ao mundo só depende de cada um de nós.
É a velha história da Matrix. Qual a cor do seu comprimido?
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Estudo mostra que homens heterossexuais vêem mulheres como objetos - literalmente.

A psicóloga Susan Fiske da Universidade de Princeton tirou imagens de cérebros de homens heterossexuais enquanto olhavam imagens sexualizadas de mulheres usando biquinis. Ela descobriu que a parte do cérebro deles que era ativada era pré-motora - áreas que normalmente acendem quando as pessoas vão utilizar alguma ferramenta. Os homens estavam reagindo às imagens como se as mulheres fossem objetos sobre os quais eles iam agir. Particularmente chocante foi a descoberta que os participantes que tiveram notas máximas em testes de sexismo hostil eram aqueles que mais propensos a desativar a parte do cérebro que leva em consideração as intenções de outras pessoas (o córtex medial pré-frontal) enquanto observando as imagens. Estes homens estavam respondendo a imagens de mulheres como se elas fossem não-humanas.
Via fuckyeahfeminists, do livro “The Equality Illusion: The Truth about Women and Men Today” de Kat Banyard.
Sugestão da Rosa (Obrigada)
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Uma reação que costumo observar quando estudos assim são publicados, é que muitas pessoas encaram essas observações científicas como IMUTÁVEIS. Acham que se o cérebro vê assim, então pronto, lidem com isso, huehue, prende as cabra que meu bode tá solto.
Na verdade, gente fina, esses cérebros de homens heterossexuais não foram gerados na gosminha da matrix. Eram homens heterossexuais que viveram, trabalharam e cresceram neste ambiente que nos cerca. Estudos assim mostram como a cultura preconceituosa entra no nosso cérebro de tal forma, que a própria percepção da pessoa fica alterada. Estudos assim são os que justificam porque um mundo em que há filmes, propagandas, redes sociais, revistas que objetificam mulheres - realmente provocam um resultado na mentalidade humana que fazem com que mulheres sejam vistas e tratadas como objetos - assediadas, assassinadas e estupradas com pouquíssimas consequências para a maioria dos agressores, quando há alguma consequência.
Gostaria de ver esse método de estudo aplicado em outros preconceitos, como o racial e gordofóbico. Seria interessante e/ou terrível ver os resultados.


Agredir psicologicamente também é crime
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qua, 6 de jun de 2012 17:29 BRT
Sempre que lemos colunas sobre relacionamentos buscamos informações que vão nos ajudar a deixar o namoro/casamento/caso/rolo melhor do que está. Buscamos maneiras de nos tornarmos mais interessantes, de aceitar a outra pessoa com suas manias, tentamos entender o melhor para os dois e apimentar tudo na hora h.
Só que esquecemos que algumas relações não devem ser salvas.
Muitos casais baseiam sua vida a dois em um joguinho de dominação em que uma das partes sempre precisa ser superior em todos os sentidos, anulando desejos e negando respeito do outro. Nesse tipo de relação não há agressão física, mas verbalmente as marcas também são deixadas. Com a auto-estima destruída a pessoa se torna frágil, dependente e pode ser alvo de depressões e até tentar o suicídio.
Ao pensar na Lei Maria da Penha, esquecemos que a agressão psicológica também faz parte do artigo. Constrangimento, ridicularização, perseguição e outros danos emocionais estão descritos como motivo de condenação. Mas o que é realmente a agressão psicológica?
Ela pode aparecer de diversas maneiras, desde a maneira como você se relaciona com o parceiro até a forma como um trata o outro publicamente. Quem nunca viu casais se humilhando mutuamente entre amigos como se isso fosse uma coisa engraçada?
Como em um relacionamento trocamos confissões, sonhos e pontos fracos, seu inimigo tem tudo isso a mão na hora de acabar com a sua auto-estima. E você, por sua vez, fica fraca ao ponto de acreditar que merece passar por tudo aquilo.
Se fugir desse tipo de relação é difícil, denunciar é ainda mais complicado. Ninguém quer dar a cara a tapa e ainda assumir que tem um relacionamento cheio de problemas gravíssimos. Além disso, independente de todo o sofrimento, você sente que ainda ama a outra pessoa.
A verdade é que isso pode acontecer em qualquer tipo de casal. Homens e mulheres lindos já acreditaram serem assustadores por causa de tipo de relacionamento. Mulheres e homens já deixaram de ser promovidos por falta de confiança em sua capacidade devido aos comentários maldosos do parceiro.
Quem comete esse tipo de agressão o faz para manter o poder sobre a outra pessoa e acabar com a própria insegurança e quando é enfrentado sobre o assunto diz não fazer por mal, mas por amor. É aí que está o maior perigo, acreditar nessa história.
Amor só existe em paralelo com respeito e aceitação. Qualquer coisa diferente disso não deveria ser aceita.
Você conhece alguém que já passou por isso?
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Ele vai mudar. Por mim.
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qui, 9 de ago de 2012 12:11 BRT
Tenho certeza que, assim que as meninas nascem, é feito algum tipo de lavagem cerebral e colocam na cabeça feminina que o amor muda as pessoas. Digo isso porque o número de mulheres que vejo dizendo que a pessoa mudou por elas é assustador. E o pior de tudo isso é saber que, no fundo, ninguém muda por ninguém — a não ser por si mesmo.
As pessoas nunca são exatamente o que a gente espera, elas têm todos aqueles pequenos defeitos que vamos descobrindo com o tempo e na nossa cabeça, elas são perfeitas, cheias de virtudes e pontos positivos.
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Mas até aí, ok, normal, a gente já sabe disso, certo? Então por que tanta gente insiste em querer mudar o outro? Querer transformar a pessoa em algo que ela não é e nunca a fará feliz ser?
Uma coisa é dar dicas para a pessoa melhorar, crescer. Se você se relaciona com alguém que se atrasa sempre, é ok ajudar a pessoa a se tornar mais pontual e organizada. Mas e se você gosta de alguém que não tem a mínima vontade de casar e seu sonho é esse? Aí não dá pra mudar.
O tempo transforma as pessoas e as relações, mas desde o começo é bom ficar atento ao que não é possível suportar — existem algumas coisas que nos deixam malucas de verdade e não tem como ignorar.
Acredito que o maior problema dos relacionamentos é não enxergar o outro como ele realmente é. Faça esse exercício: olhe para a pessoa amada com os olhos de outras pessoas. Pra fazer isso você vai ter que conversar com grandes amigos e pessoas em quem você confia. Como elas veem essa pessoa? Como enxergam as coisas que incomodam você?
O olhar apaixonado deixa tudo mais bonito. É como um óculos 3D, que coloca as coisas juntinhas, uma sobre a outra; mas sem o óculos está tudo fora de lugar, meio torto e sem sentido. É assim que acontece com a gente.
Nossos sentimentos fazem com que vejamos a pessoa com olhos muito mais doces do que normalmente veríamos. E é aí que mora o perigo. Você começa achando que tudo tem um jeitinho, que se apertar um pouquinho os olhos não vai ser tão difícil enxergar aquilo com outros olhos e que, como o amor transforma, a pessoa vai abrir mão de tudo o que te incomoda. Por você.
E a verdade é que se você quer tanto que a pessoa mude é porque não está apaixonada por ela, mas pela ideia que criou, por alguém que só existe na sua cabeça. Que tal parar de se enganar, parar de apontar defeitos — que muitas vezes nem são mesmo defeitos — e acabar com a autoestima do outro e procurar uma pessoa mais próxima do que você espera? Ou que tal aceitar a pessoa que você ama como ela é e ser feliz?
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Violência contra a mulher: chega!
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 26 de nov de 2012 12:17 BRST
Neste domingo (25) foi celebrado o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher e como o Preliminares, muito mais do que uma coluna sobre sexualidade, é um espaço para refletir sobre a mulher, não poderíamos deixar a data passar em branco.
É claro que muita gente vai falar que devemos lutar contra a violência em geral, e não discordo disso, mas uma luta não anula a outra. A mulher - assim como negros e gays - sofre um tipo de violência bastante específico e que só é possível existir por ela ser mulher.
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Se fosse falar sobre todas as faces desse abuso de gênero poderia usar km de página, então preferi destacar três pontos bastante assustadores dessa coisa toda. Dois deles se referem ao sexo e o outro é sobre o que acontece, algumas vezes, depois do sexo, a gravidez.
Estupro corretivo
Essa foi uma das ideias que mais me assustou ver alguém defender. O que as pessoas a favor dessa prática, que tem até religiosos no meio, acreditam é que você pode mudar a orientação sexual de uma pessoa através da relação sexual.
Ok, cada um acredita no que quer, porém esse grupo pensa que esse sexo pode ser não consentido e então mulheres lésbicas são estupradas para que virem hétero.
A loucura é tanta que parte desses homens acha que se você conseguir engravidar a mulher é porque o serviço foi realmente bem feito. Assustador e nojento.
Direito ao sexo
Outra ideia extremamente sem sentido que existe por aí é que os homens têm direito ao sexo. Querendo a mulher ou não.
Esse grupo acha que se a mulher é bonita e gostosa é para que ela lhe proporcione prazer e por isso pode estuprá-la. Isso mesmo, na cabeça dessas pessoas estupro é um direito masculino.
Essa é só uma evolução da ideia estúpida de que se uma mulher usa saia curta ou decote é porque quer ser abusada. Triste.
Violência obstétrica
E então chegamos na violência que atinge a mulher que dá a luz - momento que, apesar de lindo, deixa qualquer mulher insegura e apreensiva por causa de todas as coisas novas que vai vivenciar.
Nessa hora a agressão é física e verbal. E isso não acontece apenas em hospitais públicos ou comunidades carentes. Esse é um tipo de comportamento tão recorrente que acaba sendo comum, quase aceito pela comunidade médica e raramente questionado pelas mulheres assustadas, que só entendem que sofreram um abuso meses depois, quando se permitem voltar a pensar no assunto.
O vídeo abaixo fala sobre o assunto e mostra, através de imagens e relatos, os maus tratos, a agressão e a falta de humanidade que tem tomado conta de um momento tão único para a mulher que quer ser mãe.
É hora de lutar pelo fim da violência. Não só desses três tipos, mas de todos eles.
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O que é violência sexual?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 3 de set de 2012 11:10 BRT
Esse é um assunto bem pesado e que tenho falado aos pouquinhos aqui, mas em uma conversa essa semana uma pessoa me disse que muita gente não sabe identificar o que é a tal violência sexual. Para mim parece simples, mas resolvi escrever esse post para que homens e mulheres não tenham mais dúvida na hora h.
Em tempos de banda famosinha se aproveitando de fãs, de abuso sexual voltando a ser uma arma de repreensão contra manifestantes e de pais abusando de seus filhos dentro de casa, é bom ter certeza de que você não faz parte dessa coisa horrível.
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Fazer o certo e fazer o errado costuma dar o mesmo trabalho — normalmente, fazer o errado dá mais trabalho, na verdade — e você não quer ser um babaca que passa dos limites, quer?
Não quer dizer não
O primeiro passo é bem simples. Se você fala para qualquer pessoa que quer fazer isso ou aquilo e ela diz que não está com vontade, não há outra opção senão respeitar o que ela quer. Simples, não?
Vencendo pelo cansaço
Você não vai ganhar ninguém pelo cansaço e ninguém vai mudar de ideia se você começar algo sem permissão porque a pessoa vai sentir que, na verdade, queria sim. Isso não funciona dessa maneira!
O papo de vencer pelo cansaço normalmente é atrelado ao assédio moral. Se um cara não quer fazer sexo com uma garota, ela diz que ele deve ter um pênis minúsculo, que parece que não gosta de mulher e tenta ferir, por todos os meios, a masculinidade dele. Quando é uma mulher, ela escuta muito que se não fizer, o cara vai procurar alguém que queira fazer, que ela não está cumprindo seu papel de namorada (ou seja qual for a ligação entre as pessoas) e ela acaba por se sentir insegura e com medo de ficar sozinha.
Isso é simplesmente errado. Não faça. Não rolou hoje, pode rolar amanhã, mas só se os dois tiverem certeza do que querem.
Eu queria, não quero mais
Você tem o direito de mudar de ideia. Você estava louca para fazer sexo, mas algo aconteceu e você não quer mais. Tudo bem. Nessa hora todo mundo tem que parar a brincadeira. Assim que um falou que não quer mais, tudo o que acontece depois é abuso.
E lembre-se, bonita, se o cara que está com você perder a vontade não é para ficar falando que ele é brocha. Ele simplesmente não quer mais. O problema não é você. Na verdade nem existe problema, ele só não está com vontade.
Sexo e violência
Essa combinação pode ser muito legal, divertida e uma delícia, mas só se os dois tiverem tesão por isso. Se você não gosta de apanhar, não tem que apanhar. Se não gosta de bater, não tem que bater. Fácil de entender, não é?
E usar violência para conseguir sexo — seja violência verbal ou física — não é permitido, tá? E quando eu digo que não é permitido, estou falando de lei. Não pode mesmo, dá cadeia e tudo.
Se você tiver tesão por isso, combine antes os limites com o parceiro e assim ninguém vai se machucar.
Acordei com ele dentro de mim
Muita gente diz por aí que acha o máximo quando acorda com o namorado já ali, fazendo as coisas enquanto você dormia. Okay, isso pode ser uma prática comum entre alguns casais, mas não soa bem estranho você estar dormindo e alguém ter tesão em transar com você? Com um corpo meio morto?
Pois é, isso também se enquadra em abuso. Você estava inconsciente e não podia dizer se queria ou não, então ele não deveria começar nada.
Isso também vale para você, que acha sexy acordar o bonitão com um lindo sexo oral. Ele pode não gostar de ser surpreendido assim.
É claro que, dentro de um relacionamento, tudo pode ser aceito e virar brincadeira do casal, mas é legal conversar antes. E fora de um relacionamento, se você dormir em algum lugar e acordar sendo bolinada, isso é crime.
...de bêbado não tem dono
Essa é uma grande mentira. O corpo de todo mundo tem dono, sim, e é só esse dono quem pode decidir o que fazer com ele — pra esclarecer, o dono do seu corpo é você mesma, mais ninguém. Não é porque você bebeu que alguém pode abusar de você, se aproveitando disso. Essa é uma coisa BEM clara. Nada deve ser feito sem o consentimento de todas as partes.
Nem teve penetração...
Outra lenda urbana é que 'passar a mão' não é nada demais. Assim como acham que é engraçado fazer piada sobre mulheres sendo 'encochadas' no metrô. Tudo isso é algo demais, sim. Ninguém, em nenhum momento, pode tocar seu corpo sem seu consentimento.
Outro dia uma amiga comentou que viu uma mulher fazendo um escândalo no ônibus porque um homem tinha passado a mão em suas pernas e muita gente estava achando graça. Não é engraçado. Não é certo invadir a intimidade alheia, simples assim.
Ensine o certo
Muitas campanhas por aí ensinam como uma mulher deve se defender em uma tentativa de abuso, mas o que devemos mesmo é ensinar a homens e mulheres que é errado abusar, é errado passar dos limites impostos pelas outras pessoas.
Nenhuma roupa pede nada. Mesmo se você estiver nua, no meio da rua, ninguém tem direito de abusar de você. Nenhuma atitude torna normal uma pessoa fazer sexo contra sua vontade. Nenhum discurso, paquera ou relação faz com que você se torne um objeto sem poder de veto.
Isso vale para homens e mulheres. Vale para todas as pessoas que acreditam no respeito ao outro e querem ser respeitadas. Abuso sexual, estupro, é sério, é crime.
Se você tem um amigo que acha que isso é normal, conhece alguém que não vê problema em alguma dessas situações, converse, explique o que tem de errado e faça sua parte pra tornar o mundo um lugar um pouquinho melhor!
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Por que a mulher negra é vista como objeto sexual?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – ter, 16 de out de 2012 15:01 BRT
Quando você pensa em uma mulher negra, qual é a imagem que surge na sua mente? Muitas pessoas responderiam que é a mulata do carnaval, com pernão, bundão, peitão e seminua. Outras pessoas diriam que são as empregadas domésticas das novelas. Pode até ter um grupo que contaria que consegue lembrar de mulheres lindas, modelos, atrizes ou anônimas, que têm um estilo e uma beleza única.
Infelizmente, o último grupo é o menor de todos. Nossa sociedade, por mais que finja que não, é racista e ainda encara negros como inferiores. E isso não acontece apenas com as piadinhas de que negro é ladrão, mas também com comentários que são falsos elogios. Por que o homem negro é visto como bem dotado, reprodutor? Porque parte da sociedade acredita que é apenas isso que ele sabe fazer.
E aí chegamos no assunto de hoje: por que a mulher negra é vista como objeto? Porque, culturalmente, a mulher negra era vista como serviçal e aquelas que se destacavam por sua beleza era abusadas sexualmente na era da escravidão — o que, muitas vezes, também era usado como artifício para sobreviver em meio a toda a violência da época.

Agora é o momento em que você diz que eu estou viajando e que isso não acontece mais, certo? Então olha só essa sugestão de pauta que eu recebi de uma amiga. Ela é negra, bonita, de classe média, que se relaciona com pessoas ditas esclarecidas, estudadas e que fazem parte daquele esteriótipo de gente sem preconceitos.
"Quero sugerir uma pauta sobre o estereótipo da mulher negra, dela ser sempre vista como menos atraente ou que serve somente para o sexo. Vivo em um mundo de brancos que nem olham pra mim. E eu acho que é mais comum mulheres brancas com negros, pois as mulheres são menos ligadas nessa questão de padrões de beleza, enxergam o homem como um conjunto; mas eu observo que homens brancos não acham as negras atraentes. Eu observo isso pelas conversas que escuto no trabalho, por exemplo"
E tudo isso realmente acontece! Já ouvi muitos homens dizerem (dizer) que não sentem tesão por mulheres negras e nunca consegui entender o real motivo disso, até que comecei aceitar o preconceito como principal causador de tudo isso.
Pode ser uma questão de modelos, do que a mídia impõe, mas mudar está na mão de cada pessoa e não é algo que vem apenas de estímulos externos. Ninguém é obrigado a achar a (uma) mulher negra linda, é claro, mas é sempre bom pensar de onde está vindo seus padrões de beleza e as coisas em que você acredita.
A mulher negra não é mais fogosa, não está sempre pronta para o sexo e não vive apenas para isso. A mulher negra é mulher — não deveria nem ser necessário especificar a cor da mulher de que estamos falando — e tem outros desejos, planos e anseios, como todas as pessoas.
Aceitar esse papel e esse preconceito faz de nós cumplices da discriminação e não ajuda em nada na transformação do mundo e das relações entre as pessoas.
E você, consegue ver beleza além daquela que alguém te disse que realmente existe?
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A próxima ‘vadia’ é você!


Por Carol Patrocínio | Preliminares – sex, 18 de jan de 2013 09:52 BRST
Há algum tempo vi uma imagem postada no Facebook de uma garoto que tinha acabado o namoro há pouco tempo. Era uma cena do filme “Bonequinha de Luxo”. A legenda era exatamente essa da foto abaixo. Ele diz: eu te amo. E ela responde: “Obrigada”.

Ela deveria ter mentido?
Essa não é a fala da personagem no filme, como dá para ver nesse vídeo, mas a imagem fala tanto sobre o momento que vivemos quanto o comentário que o garoto colocou nesse compartilhamento: “Bitch”. Sim, ele estava exteriorizando a dor de ter sido deixando por alguém que amava a chamando de vadia. Sim, ele amava uma vadia. Ops, não, ela virou vadia apenas quando não o amou de volta.
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E a palavra vadia tem um peso enorme na nossa vida. Vadia é usado para falar, majoritariamente, de comportamento sexual. Mulheres e homens usam e nem se dão conta de quão infantil é querer colocar parâmetros para o que é ser “certa” e o que é ser “vadia”. Ainda mais quando esses parâmetros mudam num piscar de olhos.
E é nesse momento que chegamos ao ponto central do post de hoje. O que faz de você uma vadia? Você sabe? Por que eu digo que você será a próxima vadia? E isso vai acontecer. Um homem vai dizer por aí que você é uma vadia. Invariavelmente. Sabe por quê? Porque vadia é toda mulher que não corresponde às expectativas masculinas.
Se ele queria fazer sexo e você disse não, é uma vadia moralista.
Se você queria fazer sexo e ele também, você é uma vadia rodada.
Se ele quer ter um relacionamento com você e você não quer nada com ele, é uma vadia que se acha melhor que os outros.
Se você quer ter um relacionamento com ele e ele não, você é uma vadia interesseira.
Se ele disse “eu te amo” e você não respondeu porque não sente o mesmo, é uma vadia que não se importa com o sentimento dos outros.
Se você disse “eu te amo” mesmo sem ter um relacionamento, é uma vadia querendo se fazer de sentimental.
E esses são só alguns exemplos que pensei agora. Mas notou que todos eles têm sexo ou sentimentos românticos no meio? Quantas vezes a gente não vê homens falando sobre a ex-namorada como se ela fosse o maior problema do mundo quando há dias ela era a salvação do planeta? Mulheres também fazem isso? Claro, mas o comportamento é muito mais comum no mundo masculino.
Homens não sabem lidar muito bem com negativas. Sim, estou generalizando porque estou falando de uma maioria, de uma cultura em que o homem pode ter tudo o que quiser, quando quiser e ai de quem não deixar. Se você atrapalha isso, vira uma vadia.
Não importa o que você faça, você é considerada uma delas – de nós – em algum momento. Nem as religiosas, que tanto se mantém dentro dos princípios da igreja, escapam. Viram “crentes do rabo quente” apenas porque conversam com as pessoas, se interessam e sorriem, são felizes.
A única mulher que um cara nunca vai considerar uma vadia é a mãe. A própria, é claro, porque a dos outros já fez barbaridades por aí. Imagina só, fez até sexo para engravidar! ;)
O que precisamos entender é que esse é um tipo de violência silenciosa. Você está sendo agredida. E qual o motivo? Ser mulher. Se você fosse um homem, ninguém julgaria sua vida sexual, suas decisões – talvez julgassem suas negativas, o que também precisa mudar, já que ninguém tem obrigação de nada.
Existem mulheres que propagam esse pensamento? Claro! Todos vivemos no mesmo meio, e ele influencia nossas decisões. Mas é aí que temos que nos perguntar, a cada vez que formos usar a palavra: o que eu quero dizer com isso? O que estou julgando? Tenho esse direito?
E quando você for chamada de vadia, porque você vai, saiba que isso não quer dizer nada demais. Só mostra que você colocou suas vontades e desejos em primeiro lugar ao invés de privilegiar outra pessoa. Num mundo perfeito diriam que você é decidida e tem amor próprio – continue assim!
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A quem interessa uma mulher submissa?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – ter, 18 de dez de 2012 08:58 BRST

Você gosta de pessoas omissas? (Foto: iStock)
Ontem diversas pessoas me mandaram o link de um vídeo chamado "Como ser submissa a uma pessoa omissa?". Pois é, quem conhece esse blog sabe muito bem que só de ler o nome já tive calafrios.
A primeira pergunta que me fiz foi: por que estar com alguém omisso? Se a pessoa é omissa é porque não está interessada em você, não se importa e não quer se importar, então, por que raios você dedicaria sua vida a isso?
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Aí a gente lembra da primeira parte do nome do vídeo "como ser submissa". Essa é a hora de respirar fundo. Não estamos falando de submissão sexual por prazer ou diversão, estamos falando de ser uma pessoa que abaixa a cabeça às decisões, presença, ideias e vontades do outro. No meu mundo não tem como ser feliz desse jeito, apagando quem você.
A crença ali é que, da porta de casa pra fora, você deve ser uma mulher forte, incrível, de atitude. Mas dentro de casa deve ficar bem quietinha e mostrar que meu marido é o rei do mundo.
Para piorar, estamos falando de religião. E quando o assunto é religião as pessoas deixam de pensar e simplesmente aceitam o que está sendo dito por um "enviado de Deus".
Não sei de onde as pessoas tiraram essa interpretação de que mulher tem que servir o homem — apesar de entender muito bem que tem gente ganhando muito com isso. Minha educação religiosa — sim eu tive, não vim do inferno como muitos pensam, e é por isso que me sinto à vontade para falar de religião — não teve nada desse papo.
Escolhi algumas partes do vídeo para discutir aqui com vocês e ver se salvamos algumas almas do lado de cá.
O homem é omisso porque a mulher é forte demais
O primeiro assunto que elas tratam é o homem omisso. E uma das participantes faz rapidinho o desserviço de dizer que — frisando que não quer generalizar - quando um homem é omisso é porque a mulher é independente demais.
Então, além de você ter que passar a vida ao lado de um cara que não dá a mínima pra você, ainda é bom lidar com a culpa, afinal, é tudo culpa sua, mulher competente.
Vou contar um segredinho pra vocês: sabe por que o homem é omisso? Porque ELE é omisso. Você não tem nada com isso. É um problema dele, que só ele pode resolver. E meu conselho seria: deixe-o sozinho para pensar no assunto.
Mudança de papel
Aí vem o papo de que você pode, sim, ser forte na rua, no trabalho e na vida social, mas tudo deve mudar dentro de casa. Em casa você deve ser uma linda mulher do começo do século que espera seu marido de banho tomado, linda, de unhas feitas, depilada, com a casa limpa por você mesma e ainda com aroma de uma deliciosa torta de frango que você preparou.
O que? Você não consegue dar conta de tudo isso? É por isso que seu casamento vai mal...
Ops, piada, gente!
Você não é mãe do seu marido. Você não é paga para limpar a casa. E você não é modelo de biquíni para estar sempre linda, sensual e depiladíssima. Você é uma pessoa que tem muitas responsabilidades e não vive apenas para agradar seu homem. Certo?
É claro que, de vez em quando, você pode fazer uma surpresa. Um jantar, roupinha especial, lingerie nova, depilação incrível (ou não, se você preferir). Assim como ele também pode fazer essa mesma surpresa.
A beleza da vida é essa: ser surpreendido. Se o cara quer alguém que tenha um escalda pés pronto a cada vez que ele passa pela porta é melhor contratar uma governanta.
"Criando filhas não para serem esposas, para serem mães, mas para sua carreira profissional"
Essa aqui doeu no fundo da minha alma. Vocês sabiam que está errado passar em primeiro lugar numa grande universidade, meninas? Sabiam também que conquistar um bom emprego, um bom salário e comprar seu próprio carro e casa não é desejável? Sabe por que não?
Porque você não se empenha em casar. Aí vai acabar ficando com um cara interesseiro. E é claro que não é ele que está errado em ser interesseiro, você que está pedindo isso sendo tão competente, né? Pfffff.
Pior do que isso só se sobrar um cara divorciado. E sabe como é, esses caras que têm coragem de acabar com um casamento que não faz uma — ou ambas — parte feliz não prestam mesmo... (Até parece)
O que sinto é que essas mulheres simplesmente odeiam mulheres e não querem que ninguém seja feliz de verdade. Ou a interpretação de texto delas tá muito ruim. Ou elas seguem ordens bem claras dos homens que comandam certas religiões.
"É muito importante que as meninas aqui sonhem ser esposas"
E lá vamos nós para o papo de que toda mulher quer casar e ter filhos. Não, nem toda mulher quer casar e ter filhos. Algumas querem só casar. Outras querem só ter filhos. Outras querem ser freiras, viver reclusas, curtir a vida, fazer sexo sem compromisso pra sempre, amar alguém e morar em casas separadas...
Note outra coisa: a menina não precisa sonhar em casar, mas sim em ser esposa. A diferença não é banal. Se a menina sonha em casar, ela sonha com algo em que duas pessoas são importantes. Quando ela sonha ser esposa, ela sonhar em ser algo de alguém e topa, numa boa, se anular para fazer outra pessoa feliz.
"A espera pelo pai no final do dia é muito importante"
Esse momento chega a ser engraçado pra não dizer trágico. Elas acreditam que, assim que o homem cruza a porta de casa, a mulher e os filhos devem correr em sua direção e gritar "papai, papai". Sério mesmo?
A única explicação para uma cena dessa é filme demais na cabeça.
Honrar o marido
Não, você não honra seu marido sendo fiel, companheira e cúmplice. Você honra seu marido o esperando em casa na hora que ele chega e mudando o canal da TV pra que ele decida o que assistir. Faz sentido pra você?
E ele, precisa te honrar ou tudo bem ser daqueles que leva clientes da empresa em casas de prostituição porque faz parte do trabalho dele, por exemplo?
"Compreensão de quem é o homem no contexto da família"
O homem, no contexto familiar, é igual a mulher. Só que ele tem pênis. Essa deveria ser a explicação delas caso a intenção fosse uma família feliz.
Mas o que elas acreditam é que o homem é o Deus dentro da casa e que você, mulher, é só um teco da costela dele e deve ser lembrada disso por toda a eternidade. Alguém precisa explicar o Big Bang para essa gente...
O vídeo é esse aqui, caso você tenha paciência e estômago para assistir tanta besteira. Ah, depois dele, aproveite pra assistir o que fala sobre roupa e descubra que a anágua — sim, isso ainda existe — é um coringa no guarda-roupa.
Adendo
Ok, você quer ser submissa, acha que vai ser mais feliz assim e que é essa a melhor maneira de ter um relacionamento de sucesso? É um direito seu, claro. Mas busque entender por que as mulheres eram submissas antigamente e por que tudo isso evoluiu para a sociedade que temos hoje.
Você pode ter tudo o que quiser: um casamento feliz, um trabalho interessante e bem remunerado, filhos e amigos. Tudo ao mesmo tempo. Não é sua obrigação cuidar de tudo e você pode, sim, pedir para que seu marido participe de todos os processos que envolvem a casa e a criação dos filhos. Isso se chama família.
O que o vídeo nos mostra é que o homem, mesmo não sendo presente e participativo, deve ser colocado pela mulher para os filhos como um herói. Mas uma hora os filhos crescem e passam a pensar sozinhos. Muito pior do que colocar seu marido para fazer o que deve ser feito é ver a ilusão dos seus filhos se desmoronando frente a realidade.
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De quem é a culpa da violência contra a mulher?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qui, 10 de jan de 2013 15:37 BRST

Você acredita que a mulher é culpada pela violência contra ela? (Foto: iStock)Os últimos meses foram especialmente difíceis para as mulheres. E qualquer pessoa que sinta amor pelo próximo, compaixão e acredite num mundo melhor, ficou chocada com os crimes bárbaros dos quais vou falar agora.
No Ocidente, temos o costume de nos acharmos civilizados e intelectualizados, mas nem sempre a maneira como nos enxergamos reflete o que realmente somos. Os dados abaixo são de diversas partes do mundo e nos deixa claro que, apesar do problema ser o mesmo, a reação das pessoas não é. Aceitar o que acontece é, sempre, uma opção.
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Vamos falar aqui sobre o corpo feminino e todas as reações que ele desperta, as relações de poder, de desejo, o respeito e os abusos que permeiam nossa experiência de sair de casa todos os dias. Vamos falar basicamente da violência sofrida por um único motivo: ser mulher.
Estupro coletivo
Depois de ir ao cinema com o namorado, Jyoti Singh Pandey, uma estudante de medicina, entrou no ônibus para voltar para casa. O casal encontrou um grupo de homens que achou que não havia problema espancar o rapaz e estuprar a garota. Além de ser abusada sexualmente repetidas vezes, ela foi agredida com um barra de ferro e depois atirada do veículo seminua junto com sua companhia.
Jyoti foi levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos, três cirurgias e uma parada cardíaca e faleceu após alguns dias. Os réus, apesar de terem sangue da vítima em suas roupas e terem os rostos do retrato-falado, declaram-se inocentes.
O caso incitou manifestações e levou pessoas às ruas para pedir mais segurança às mulheres, o que fez com que a investigação ocorresse mais rapidamente e medidas de melhoria estejam sendo estudadas pela polícia. Em 2011 foram registrados 568 estupros em Nova Délhi.
Homens da lei
Viviane Alves Guimarães Wahbe foi a uma festa do trabalho. A estagiária do escritório Machado Meyer, um dos maiores do país, que estudava direito na PUC, escreveu um relato sobre aquele dia. Ela conta que bebeu duas taças de champanhe e não lembra das coisas, o que tinha na cabeça eram flashs. Esses flashs a mostram sendo estuprada. Nos relatos, ela escreveu que havia sido drogada e estuprada.
A festa aconteceu no dia 24 de novembro, a família disse ter notado sua mudança de comportamento já no dia seguinte e, em 3 de dezembro, a jovem se matou atirando-se do 7º andar do prédio em que morava.
No Brasil, o caso não repercutiu. A morte só foi divulgada no dia 30 de dezembro, apesar de ouvir-se entre jornalistas que a informação já estava correndo nas redações dos maiores jornais de SP. Por aqui não houve manifestações, ninguém pediu justiça e o caso corre em segredo de justiça, como tantos outros que envolvem ricos e poderosos.
A culpa é delas
Apesar dos pedidos de justiça e de mudanças na sociedade que aconteceram na Índia, um guru espiritual chamado Bapu ganhou o papel de vilão nessa história, por mais que isso possa ser assustador. De acordo com a imprensa indiana, ele disse que a vítima deveria ter sido mais gentil com os violentadores, se quisesse preservar sua vida. "Apenas cinco ou seis pessoas não são réus. A vítima é tão culpada quanto os seus estupradores. Ela deveria ter chamado os agressores de irmãos e ter implorado para que eles parassem. Isto teria salvado a sua dignidade e a sua vida. Uma mão pode aplaudir? Acho que não”.
Culpar a mulher por ser vítima de violência não acontece apenas entre religiões orientais. O padre Don Piero Corsi, da cidade de San Terenzo, na Itália, afixou na porta da igreja um comunicado dizendo que a culpa é das mulheres. De acordo com ele, “as mulheres com roupas justas se afastam da vida virtuosa e da família e provocam os piores instintos dos homens”. Além disso, disse que o homem fica louco porque as mulheres são arrogantes e autossuficientes.
Mas esse pensamento não é novo. Ele foi o principal impulso para a Marcha das Vadias, que acontece anualmente em diversos países, e pede respeito, mostrando que a mulher pode ter a vida sexual que quiser e vestir a roupa que escolher sem precisar ter medo de ser violentada.
Eugenia* moderna
Uma juíza decidiu que, levando em conta os dados socioeconômicos de uma mulher de 27 anos de Amparo (SP), que sofre retardamento mental moderado – o que significa uma pequena regressão intelectual –, o melhor, para a sociedade, seria que ela passasse por uma laqueadura e se tornasse estéril.
Durante todo o julgamento, a mulher, que não tem filhos e não tem nenhum aborto ou problemas relacionados a gravidez informados, deixou clara sua vontade de, no momento certo e com o companheiro certo, ter filhos.
Ainda assim o julgamento ocorreu, a obrigaram a usar o DIU como método contraceptivo e, no último mês, quando o dispositivo precisaria ser trocado, a paciente fugiu alegando medo de que a laqueadura fosse feita contra sua vontade.
A Defensoria Pública trabalha, agora, para que a decisão seja revertida e os direitos constitucionais da mulher sejam respeitados.
* Eugenia é um controle para que só se reproduzam pessoas com certas características físicas e mentais. A ideia é que assim seriam evitados todos os tipos de deficiência. Esse foi um artifício usado por Hitler durante o Nazismo.
Dados nacionais
Uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal Correio da Paraiba aponta que nos estados da Paraíba, Rio de Janeiro e Tocantins, 67% das pessoas acreditam que a violência contra a mulher é culpa dela mesma, e 64% acreditam que esse tipo de violência não deve ser combatida.
Essa violência citada no estudo não fala apenas sobre a questão sexual. Ela é também a violência doméstica, os maus tratos conjugais e a humilhação praticada pelo parceiro. Segundo dados da Fundação Perseu Abramo, a violência conjugal atinge um terço das mulheres em áreas de SP e PE. A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.
Em relação a violência sexual, 1 bilhão de mulheres, ou uma em cada três do planeta, já foram espancadas, forçadas a ter relações sexuais ou submetidas a algum outro tipo de abuso.
E como isso mexe com a sua vida?
Mexe em todas as relações que você trata diariamente, seja comprando o café da manhã na padaria, dentro do transporte público lotado, ao voltar para casa de noite, quando sai do trabalho, ou quando você começa um novo relacionamento amoroso.
O problema do abuso é tão presente na nossa sociedade, tão aceito e cheio de desculpas, que não é percebido com facilidade. Existe estupro dentro de um casamento. Existe abuso sexual quando um homem acredita que pode “encoxar” uma mulher no metrô. Existe abuso emocional quando o homem humilha sua parceira. E nós não podemos simplesmente aceitar.
O corpo da mulher não é dela. O corpo da mulher, na nossa sociedade, é visto como um meio de satisfazer desejos e expectativas. Ele é feito para dar satisfação sexual, trazer filhos ao mundo e servir a classe dominante.
Os reflexos disso na sociedade são como o caso acima em que a mulher não tem o direito a ter filhos, assim como as mulheres não têm direitos a não quererem ter filhos. Na Índia, meninas são mortas ao nascer. No Brasil, elas morrem diariamente pelos abusos sofridos. Nossos mundos não estão tão distantes como muita gente acha.
É obrigação de cada pessoa lutar por uma sociedade respeitosa, que garanta dignidade a todas as pessoas, independentemente do seu gênero. A violência não é culpa da vítima e essa mentalidade precisa ser combatida.
Para fechar, deixo aqui um e-mail que recebi por causa da coluna e que me deixou com lágrimas nos olhos. Misoginia é o ódio e o desprezo pela mulher apenas por ela ser mulher. Não é uma doença ou um problema psicológio e emocional, é uma escolha, uma maneira de ver o mundo e lidar com as pessoas a sua volta. E talvez seja um dos maiores males modernos e culpados pela sociedade agressiva em que vivemos.
“Olá Carol. Gostaria que você escrevesse sobre misoginia. Como vivem mulheres que são casada com misóginos; se elas apresentam quadros de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, causados pela alta pressão em que vivem, e com o pouco afeto que recebem, principalmente as que não têm filhos. Também poderia ser pesquisado se este tipo de personalidade tem cura. Seria possível ele se reconhecer como doente, que precisa de ajuda. Se não qual a melhor forma de lidar com os misóginos para não adoecer com ou por causa do seu comportamento, ou se só resta o divórcio como solução. Obrigada pela atenção”.
A única saída para essa e tantas outras mulheres é a mudança da sociedade inteira. E essa mudança começa nas suas mãos. De que mundo você quer fazer parte?
Você tem alguma dúvida sobre sexo? Manda para mim no preliminarescomcarol@yahoo.com.br e siga-me no Twitter (@carolpatrocinio).