terça-feira, 20 de agosto de 2013

Carta para Darcy: a Controvérsia de quem sabe e quer e quem imagina que sabe e quer... Ou seja, o engodo de quem, na verdade, não quer que nada mude!

Amigos, permito-me partilhar convosco a minha reação ao anúncio de uma "reforma".
Abraço fraterno.
José



Carta para Darcy
Sofreste o exílio, enquanto o teu país dormia distraído, sem perceber que era subtraído em tenebrosas transações. Vão sacrifício o teu, porque as escolas continuam a não ensinar. E o que prevalece, como disseste, é um monstruoso sistema de comunicação de massa, impondo padrões de consumo inatingíveis e desejos inalcançáveis.
A lei, que fizeste aprovar nos idos de 96, continua sendo letra morta. Imagina que os autores de uma anunciada reforma creem que o sistema irá melhorar com boletins e reprovações, ou quando, pelo menos um período por dia seja dedicado ao desenvolvimento de atividades interdisciplinares. Leste bem, Darcy: um período por dia! Ou quando houver espaço para que professores trabalhem por projetos em algumas disciplinas. Em algumas disciplinas! Ou, ainda, quando no último ciclo, os alunos sejam protagonistas do próprio aprendizado. Somente no último ciclo acontecerá a emancipação social e cidadã dos alunos (sic!).
É triste, caro Darcy, verificar que aqueles que detêm o poder de mudar não entendam que, junto com Anísio Teixeira, Paulo Freire e Lauro de Oliveira Lima, tu formas o quarteto mais fecundo, fértil e injustiçado da história da educação em nosso país. É lamentável que ousem afirmar que, há décadas, foi implantada a chamada progressão continuada, quando, na verdade, ela nunca foi implantada. É lamentável que continues ostracizado e que equívocos entre avaliação e classificação gerem inúteis “mudanças” de conceito para nota. Que se promovam inúteis alterações na cartesiana segmentação em ciclo. Que se confunda trabalho de projeto com caricaturas de trabalho de projeto…
Os nossos governantes lamentam que apenas 34% dos alunos apresentem conhecimento adequado ou avançado em português e 27% em matemática; ou que, na 8ª série, 23% estejam com nível adequado e avançado em português e 10% apresentem esse resultado em matemática, mas cometem o despudor de ressuscitar medidas que, no passado, deram origem a esse descalabro.São medidas de retrocesso, que perenizam o velho paradigma escolar, reprodutor de oprimidos e opressores, que o malogrado secretário de educação Paulo Freire tanto denunciou. Medidas de manutenção do desperdício de dinheiro e de gente, que servirão para perpetuar o analfabetismo, numa escola que já produziu mais de 30 milhões de analfabetos.
Ficamos sem saber se os nossos reformadores agem por ignorância ou loucura. São ignorantes aqueles que desprezam a produção científica, que ignoram a existência de práxis coerentes com a tua Lei de Bases, quem toma decisões desprovidas de bom senso. Também um súbito acesso de loucura pode ter acontecido, pois já o sábio Einstein nos avisava que a maior insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.
Essas e outras inúteis “medidas” são apregoadas na comunicação social, com pompa e circunstância, como de algo sério se tratasse. Eu sei que custa a crer, caro Darcy, mas é verdade. Se não me engano, foste tu quem fez esta afirmação: o Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso. Não desesperes. Fica sabendo que já muitos educadores e escolas são sensíveis aos teus apelos. Depois de tenebrosos tempos, luminosos tempos hão-de vir. Ainda que, entretanto, milhões de jovens sejam condenados à ignorância e ao sofrimento, por via de desastrosas polícias públicas.
Sei que te confessas ateu. Mas, se alguma influência tiveres junto de Deus, pede-Lhe que perdoe os nossos governantes, porque eles não sabem o que fazem.

terça-feira, 2 de julho de 2013

NÃO AO PLEBISCITO? ... CONTROVÉRSIA DAS FORÇAS POLÍTICAS CONSERVADORAS E REACIONÁRIAS!


Sim ao Plebiscito sobre a reforma, mas com participação popular!



Nos últimos dias, o povo tomou as ruas para demonstrar o seu descontentamento e  repúdio  a forma como se faz política no Brasil, num profundo questionamento de como as decisões são tomadas, por quem são tomadas e em nome de quem são tomadas. O que está sendo questionado é o nosso sistema político como um todo, que em resumo podemos definir como uma democracia sem povo.

Nós da Plataforma dos  Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político  fazemos parte deste movimento e reafirmamos a nossa convicção da necessidade de uma profunda reforma do sistema político, que começa com o fortalecimento da democracia direta e a reforma do sistema eleitoral.

Saudamos o discurso da presidenta Dilma Rousseff e das demais forças políticas que agora defendem uma reforma política que amplie os mecanismos de participação da população nas decisões. Lamentamos que só agora esta questão fundamental para a nossa democracia assuma centralidade no debate público. Não foi por falta de mobilização, pressão e propostas da sociedade. Esperamos que isso não seja apenas uma tentativa para “acalmar” as ruas.

Estranhamos o "lugar" do anúncio da proposta  feita pela  presidenta  Dilma. O lugar  escolhido  foi a reunião com governadores e prefeitos, reforçando a ideia que  reforma política  diz respeito somente aos "políticos",  sendo que no nosso entendimento este pacto deveria ser  feito e negociado com as  diversas representaç&otilde ;es da sociedade. Precisamos entender o que a população que está nas ruas estão nos  dizendo: o povo quer participar diretamente das grandes  decisões e não  ficar a reboque de uma institucionalidade que não representa  mais a complexidade da sociedade  brasileira.

Para nós da Plataforma só faz sentido uma  reforma política que resgate a soberania popular  através do  fortalecimento dos  instrumentos da  democracia direta. Queremos e defendemos que o povo tenha o direito de participar diretamente das grandes decisões e não apenas dos momentos eleitorais.  Defendemos  também a necessidade do aperfeiçoamento do nosso sistema de representação, que passa pelo barateamento das campanhas, pelo fim da  influência do poder econômico e pelos mecanismos de  inclusão d os  grupos sub-representados nos espaços de poder.

Defendemos que uma  verdadeira reforma política deva ser construída pelos instrumentos de democracia direta que  já temos garantidos na  Constituição de 1988. A nossa defesa é por um plebiscito para definir as principais questões da reforma política. Queremos que o povo defina o conteúdo da reforma política e para isso já temos o instrumento político que é o plebiscito.

Defendemos que todo o processo da reforma política seja protagonizado também pela sociedade. Para  isso, propomos que o Congresso Nacional convoque a Conferência Nacional da Reforma Política com o objetivo de definir os temas e as perguntas para o plebiscito.

Defendemos também que todo o processo de campanha do plebiscito da reforma política seja compartilhado com a sociedade civil e não algo exclusivo dos partidos.

Por entendermos que esse tema precisa ser protagonizado pela sociedade, pois todo poder emana do povo, nós movimentos e organizações  que construíram e constroem a Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política, decidimos  manter   a Campanha  de coleta de  1,5 milhões de assinaturas que pode ser acessada no site www.reformapolitica.org.br<http://www.reformapolitica.org.br/>

*A Plataforma dos  Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema político  articula  39  redes da sociedade civil desde 2004.  Estas redes  congregam mais de  900 grupos/organizações em todo o Brasil. Este conjunto de movimentos sociais e organizaçõe s  reafirma a sua convicção da necessidade da radicalização da democracia, uma democracia onde todos/as se sintam representadas e possuam todos os instrumentos para exercer o poder.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES SEM CONSCIÊNCIA DE CLASSE... CONTROVÉRSIA DE QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 5 - A POSIÇÃO DO SINPRO DF!

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Quinta-Feira, 27 de Junho de 2013
:: Nota do Sinpro-DF sobre as manifestações populares ::
O movimento social organizado, partidos, entidades representativas da classe trabalhadora, sindicatos e centrais sindicais estão em intenso debate sobre as manifestações que tomaram conta das ruas do país nas últimas semanas.
Neste contexto de mobilizações populares e intenso debate que toma conta das ruas e noticiários, o Sinpro-DF vem à público trazer sua posição à categoria e à sociedade.
Primeiramente, nem o Sinpro, nem a Central Única dos Trabalhadores nem nenhuma das demais centrais sindicais, que são as legítimas representantes da classe trabalhadora, convocaram greve geral para qualquer categoria.
Preocupa-nos a tentativa de figuras anônimas que se escondem atrás de máscaras, utilizando as redes sociais para criar confusão e definir greves sem o devido debate com qualquer base em suas organizações instituídas.
O Sinpro-DF alerta ainda para paralisações programadas por empresários sem escrúpulos que estão, em nome de urgentes mudanças que a juventude e os trabalhadores exigem nas ruas, tentando perpetuar privilégios de minorias. As paralisações programadas por empresas ou patrões caracteriza “lockout”, atividade proibida pela Constituição Federal.
Por fim, reconhecemos como legítimas as manifestações pacíficas, que fazem parte do exercício da democracia, e reivindicam mudanças urgentes nos sistemas de transportes, educação e saúde. O Sinpro está, há mais de 30 anos, não só apoiando essa luta, mas participando ativamente dela. Somente em um regime democrático é possível que cidadãos e cidadãs possam propor o debate, a partir de posições às vezes divergentes, com a possibilidade de construir consensos ou sínteses capazes de avançar na melhoria de condições de vida para o conjunto da sociedade. Todavia, em algumas destas manifestações têm ocorrido atos de violência contra pessoas e militantes que se identificam com partidos, movimentos sociais e organizações representativas dos trabalhadores.
O Sinpro repudia toda e qualquer manifestação de caráter antidemocrático. Em especial, o clima de rechaço às entidades organizadas do movimento social, o apartidarismo, a criminalização dos sindicatos e do movimento estudantil.
É um equívoco desconsiderar a história dessas entidades representativas na construção da democracia. Nosso Sindicato tem dialogado com as diversas organizações de classe trabalhadora, movimento estudantil e movimentos sociais para juntos, em uma frente única, nos organizarmos para mostrar que as ruas sempre foram nosso espaço de manifestação. E que não admitiremos que nos tirem e deturpem nossa pauta. Não seremos rechaçados por um crescente clima de fascismo, travestido de apartidarismo.
Por fim, a exemplo do que sempre fizemos, convocamos a categoria para estar atenta e continuar mobilizada em torno da luta pela pauta que realmente interessa à classe trabalhadora brasileira, tais como: a aplicação de 10% do PIB na educação pública; destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação, aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), extinção do fator previdenciário…
Convocamos, ainda, a categoria para participar da Agenda de Luta dos Movimentos Populares, divulgada na página da CUT-DF (www.cutdf.org.br), bem como do grande ato chamado pela CUT Nacional, junto com as demais centrais sindicais e com o MST, a se realizar no dia 11 de julho, com o objetivo de destravar a pauta da classe trabalhadora no Congresso Nacional e nos gabinetes dos ministérios e, também, construir e impulsionar a pauta que veio das ruas nas manifestações realizadas em todo o país, nos últimos dias.
rodape

A VINDA DOS MÉDICOS CUBANOS PARA O BRASIL: A CONTROVÉRSIA DE QUEM GANHA COM A MEDICALIZAÇÃO E NÃO COM A PREVENÇÃO!

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Quinta-Feira, 27 de Junho de 2013
:: Por que os médicos cubanos assustam ::
Por Pedro Porfírio, em seu blog, via Cebes

Elite corporativista teme que mudança do foco no atendimento abale o nosso sistema mercantil de saúde

A virulenta reação do Conselho Federal de Medicina contra a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país é muito mais do que uma atitude corporativista: expõe o pavor que uma certa elite da classe médica tem diante dos êxitos inevitáveis do modelo adotado na ilha, que prioriza a prevenção e a educação para a saúde, reduzindo não apenas os índices de enfermidades, mas sobretudo a necessidade de atendimento e os custos com a saúde.
Essa não é a primeira investid a radical do CFM e da Associação Médica Brasileira contra a prática vitoriosa dos médicos cubanos entre nós. Em 2005, quando o governador de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país.

A reação das entidades médicas de Tocantins, comprometidas com a baixa qualidade da medicina pública que favorece o atendimento privado, foi quase de desespero. Elas só descansaram quando obtiveram uma liminar de um juiz de primeira instância determinando em 2007 a imediata “expulsão” dos médicos cubanos.

No Brasil, o apego às grandes cidades

Dos 371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regi ões Sul e Sudeste

Neste momento, o governo da presidenta Dilma Rousseff só está cogitando de trazer os médicos cubanos, responsáveis pelos melhores índices de saúde do Continente, diante da impossibilidade de assegurar a presença de profissionais brasileiros em mais de um milhar de municípios, mesmo com a oferta de vencimentos bem superiores aos pagos nos grandes centros urbanos.

E isso não acontece por acaso. O próprio modelo de formação de profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia, aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas particulares, alimentados pe los planos de saúde.

Mesmo com consultas e procedimentos pagos segundo a tabela da AMB, o volume de clientes é programado para que possam atender no mínimo dez por turnos de cinco horas. O sistema é tão direcionado que na maioria das especialidades o segurado pode ter de esperar mais de dois meses por uma consulta.

Além disso, dependendo da especialidade e do caráter de cada médico, é possível auferir faturamentos paralelos em comissões pelo direcionamento dos exames pedidos como rotinas em cada consulta.

Sem compromisso em retribuir os cursos públicos

Há no Brasil uma grande “injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro a todos os brasileiros, não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto não se aprova o projeto do senador Cristóvam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.

Cruzando informações, podemos chegar a um custo de R$ 792.000,00 reais para o curso de um aluno de faculdades públicas de Medicina, sem incluir a residência. E se considerarmos o perfil de quem consegue passar em vestibulares que chegam a ter 185 candidatos por vaga (UNESP), vamos nos deparar com estudantes de classe média alta, isso onde não há cotas sociais.

Um levantamento do Ministério da Educação detectou que na medicina os estudantes que vieram de escolas particulares respondem por 88% das matrículas nas universidades bancadas pelo Estado. Na odontologia, eles são 80%.

Em faculdades públicas ou privadas, os quase 13 mil médicos formados anualmente no Brasil não estão nem preparados, nem motivados para atender às populações dos grotões. E não estão por que não se habituaram à rotina da medicina preventiva e não aprenderam como atender sem as parafernálias tecnológicas de que se tornaram dependentes.

Concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades

Números oficiais do próprio CFM indicam que 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas grandes cidades. Boa parte da clientela dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, por exemplo, é formada por pacientes de municípios do interior.

Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho, se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.

A pesquisa “Demografia Médica no Brasil” revela que há uma forte tendência de o médico fixar moradia na cidade onde fez graduação ou residência. As que abrigam escolas médicas também concentram maior número de serviços de saúde, públicos ou privados, o que significa mais oportunidade de trabalho. Isso explica, em parte, a concentração de médicos em capitais com mais faculdades de medicina. A cidade de São Paulo, por exemplo, contava, em 2011 , com oito escolas médicas, 876 vagas – uma vaga para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33 médicos por mil habitantes na capital.

Mesmo nas áreas de concentração de profissionais, no setor público, o paciente dispõe de quatro vezes menos médicos que no privado. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o número de usuários de planos de saúde hoje no Brasil é de 46.634.678 e o de postos de trabalho em estabelecimentos privados e consultórios particulares, 354.536.Já o número de habitantes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 144.098.016 pessoas, e o de postos ocupados por médicos nos estabelecimentos públicos, 281.481.

A falta de atendimento de saúde nos grotões é uma dos fatores de migração. Muitos campon eses preferem ir morar em condições mais precárias nas cidades, pois sabem que, bem ou mal, poderão recorrer a um atendimento em casos de emergência.

A solução dos médicos cubanos é mais transcendental pelas características do seu atendimento, que mudam o seu foco no sentido de evitar o aparecimento da doença. Na Venezuela, os Centros de Diagnósticos Integrais espalhados nas periferias e grotões, que contam com 20 mil médicos cubanos, são responsáveis por uma melhoria radical nos seus índices de saúde.

Cuba é reconhecida por seus êxitos na medicina e na biotecnologia

Em sua nota ameaçadora, o CFM afirma claramente que confiar populações periféricas aos cuidados de médicos cubanos é submetê-las a profissionais não qualificados. E esbanja hipocrisia na defesa dos direitos daquelas pessoas.

Não é isso que consta dos números da Organização Mundial de Saúde. Cuba, país submetido a um asfixiante bloqueio econômico, mostra que nesse quesito é um exemplo para o mundo e tem resultados melhores do que os do Brasil.

Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas.

Com um médico para cada 148 habitantes (78.622 no total) distribuídos por todos os seus rincões que registram 100% de co bertura, Cuba é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a nação melhor dotada do mundo neste setor.

Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.

O Brasil forma 13 mil médicos por ano em 200 faculdades: 116 privadas, 48 federais, 29 estaduais e 7 municipais. De 2000 a 2013, foram criadas 94 escolas médicas: 26 públicas e 68 particulares.

Formando médicos de 69 países

Em 2012, Cuba, com cerca de 13 milhões de h abitantes, formou em suas 25 faculdades, inclusive uma voltada para estrangeiros, mais de 11 mil novos médicos: 5.315 cubanos e 5.694 de 69 países da América Latina, África, Ásia e inclusive dos Estados Unidos.

Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba.

Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Escola Latino-Americana de Medicina. As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas.

Isso se reflete nos avanços em vários tipos de tratamento, inclusive em altos desafios, como vacinas para câncer do pulmão, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue. Hoje, a ind&uacut e;stria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países.

Presença de médicos cubanos no exterior

Desde 1963, com o envio da primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de populações pobres no planeta. Nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária internacional. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países.

No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo.

No &acir c;mbito da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre, que consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a plena visão.

Quando se insurge contra a vinda de médicos cubanos, com argumentos pueris, o CFM adota também uma atitude po lítica suspeita: não quer que se desmascare a propaganda contra o regime de Havana, segundo a qual o sonho de todo cubano é fugir para o exterior. Os mais de 30 mil médicos espalhados pelo mundo permanecem fiéis aos compromissos sociais de quem teve todo o ensino pago pelo Estado, desde a pré-escola e de que, mais do que enriquecer, cumpre ao médico salvar vidas e prestar serviços humanitários.

         
rodape

terça-feira, 25 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES SEM CONSCIÊNCIA DE CLASSE... CONTROVÉRSIA DE QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 4!


Republicando com vistas a divulgação e contribuição ao diálogo verdadeiramente construtivo!

Siga o link caso não queira ler tudo aqui!











Está tudo tão estranho, e não é à toa.

Um relato do quebra-cabeças que fui montando nos últimos dias. Aviso que o post é longo, mas prometo fazer valer cada palavra.


[*nota da autora, adicionada após muitos comentários e compartilhamentos desviando um pouco o sentido do texto: este é um texto de esquerda]
Começo explicando que não ia postar este texto na internet. Com medo. Pode parecer bobagem, mas um pressentimento me dizia que o papel impresso seria melhor. O papel impresso garantiria maiores chances de as pessoas lerem tudo, menores chances de copiarem trechos isolados destruindo todo o raciocínio necessário.
Enquanto forma de comunicação, o texto exige uma linearidade que é difícil. Difícil transformar os fatos, as coisas que vi e vivi nos últimos dias em texto. Estou falando aqui das ruas de São Paulo e da diferença entre o que vejo acontecer e o que está sendo propagandeado nos meios de comunicação e até mesmo em alguns blogs.
Talvez essa dimensão da coisa me seja possível porque conheço realmente muita gente, de vários círculos; talvez porque sempre tenha sido ligada à militância política, desde adolescente; talvez porque tenha tido a oportunidade de ir às ruas; talvez porque pude estar conectada na maior parte do tempo. Não sei. Mas gostaria de compartilhar com vocês.
E gostaria que, ao fim, me dissessem se estou louca. Eu espero verdadeiramente que sim, pois a minha impressão é a de que tudo é muito mais grave do que está parecendo.

Tentei escrever este texto mais ou menos em ordem cronológica. Se não foi uma boa estratégia, por favor me avisem e eu busco uma maneira melhor de contar. Peço paciência. O texto é longo.

1. Contexto é bom e mantém a pauta no lugar

Hoje é dia 18 de junho de 2013. Há uma semana, no dia 10, cerca de 5 mil pessoas foram violentamente reprimidas pela Policia Militar paulista na Avenida Paulista, símbolo da cidade de São Paulo. Com a transmissão dos horrores provocados pela PM pela internet, muitas pessoas se mobilizaram para participar do ato seguinte, que seria realizado no dia 13. A pauta era a revogação no aumento das tarifas de ônibus, que já são caras e já excluem diversos cidadãos de seu direito de ir e vir, frequentando a própria cidade onde moram.
No dia 13, então, aconteceu a primeira coisa estranha, que acendeu uma luzinha amarela (quase vermelha de tão laranja) na minha cabeça: os editoriais da folha e do estadão aprovavam o que a PM tinha feito no dia 10 de junho e, mais do que isso, incentivavam ações violentas da pm “em nome do trânsito” [aliás, alguém me faz um documentário sensacional com esse título, faz favor? ]. Guardem essa informação.
Logo após esses editoriais, no fim do dia, a PM reprimiu cerca de 20mil pessoas. Acompanhei tudo de casa, em outra cidade. Na primeira hora de concentração para a manifestação foram presas 70 pessoas, por sua intenção de participar do protesto. Essa intenção era identificada pela PM com o agora famoso “porte de vinagre” (já que vinagre atenua efeitos do gás lacrimogêneo). Muitas pessoas saíram feridas nesse dia e, com os horrores novamente transmitidos - mas dessa vez também pelos grandes meios de comunicação, inclusive esses dos editoriais da manhã, que tiveram suas equipes de reportagem gravemente feridas -, muita gente se mobilizou para o próximo ato.

2. Desonestidade pouca é bobagem

No próprio dia 13, à noite, aconteceu a segunda “coisa estranha”. Logo no final da pancadaria na região da Paulista, sabíamos que o próximo ato seria na segunda-feira, dia 17 de junho. Me incluíram num evento no Facebook, com exatamente o mesmo nome dos eventos do MPL, as mesmas imagens, bandeiras, etc. Só que marcado para sexta-feira, o dia seguinte. Eu dei “ok”, entrei no evento, e comecei a reparar em posts muito, mas muito esquisitos. Bandeiras que não eram as do MPL (que conheço desde adolescente), discursos muito voltados à direita, entre outros. O que estava ali não era o projeto de cidade e de país que eu defendo, ou que o MPL defende.
Dei uma olhada melhor: eram três pessoas que haviam criado o evento. Fucei o pouco que fica público no perfil de cada um. Não encontrei nenhuma postagem sobre nenhuma causa política. Apenas postagens sobre outros assuntos. Lá no fim de um dos perfis, porém, encontrei uma postagem com um grupo de pessoas em alguma das tais marchas contra a corrupção. Alguma coisa com a palavra “Juventude”, não me lembro bem. Ficou claro que não tinha nada a ver com o MPL e, pior que isso, estavam tentando se passar pelo MPL.
Alguém me deu um toque e observei que a descrição dizia o trajeto da manifestação (coisa que o MPL nunca fez, até hoje, sabiamente). Além disso, na descrição havia propostas como “ir ao prédio da rede globo” e “cantar o hino nacional”, “todos vestidos de branco”. O alerta vermelho novamente acendeu na minha cabeça. Hino nacional é coisa de integralista, de fascista. Vestir branco é coisa de movimentos em geral muito ou totalmente despolitizados. Basta um mínimo de perspectiva histórica pra sacar. Pois bem.
Ajudei a alertar sobre a desonestidade de quem quer que estivesse organizando aquilo e meu alerta chegou a uma das pessoas que, parece, estavam envolvidas nessa organização (ou conhecia quem estava). O discurso dela, que conhece alguém que eu conheço, era totalmente despolitizado. Ela falava em “paz”, “corrupção” e outras palavras de ordem vazias que não representam reivindicação concreta alguma, e muito menos um projeto de qualquer tipo para a sociedade, a cidade de São Paulo, etc. Mais um pouco de perspectiva histórica e a gente entende no que é que palavras de ordem e reivindicações vazias aleatórias acabam. Depois de fazer essa breve mobilização na internet com várias outras pessoas, acabaram mudando o nome e a foto do evento, no próprio dia 13 de noitão. No dia seguinte transferiram o evento para a segunda-feira, “para unir as forças”, diziam.

3. E o juiz apita! Começa a partida!

Seguiu-se um final de semana extremamente violento em diversos lugares do país. Era o início da Copa das Confederações e muitos manifestantes foram protestar pelo direito de protestarem. O que houve em sp mostrou que esse direito estava ameaçado. Além disso, com a tal “lei da copa”, uma legislação provisória que vale durante os eventos da FIFA, em algumas áreas publicas se tornam proibidas quaisquer tipos de manifestações políticas. Quer dizer, mais uma ameaça a esse direito tão fundamental numa [suposta] democracia.
No final de semana as manifestações não foram tão grandes, mas significativas em ao menos três cidades: Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. No DF e no RJ as polícias militares seguiram a receita paulista e foram extremamente violentas. A polícia mineira, porém, parecia um exemplo de atuação cidadã, que repassamos, compartilhamos e apoiamos em redes sociais do lado de cá do sudeste.
Não me lembro bem, mas acho que foi no intervalo entre uma coisa e outra que percebi a terceira “coisa estranha”. Um pouco depois do massacre na região da Paulista, e um pouco antes do final de semana de horrores, mais um sinal: ficamos sabendo que uma conhecida distante, depois do dia 13, pegou um ônibus para ir ao Rio de Janeiro. Essa pessoa contou que a PM paulista parou o ônibus na estrada, antes de sair do Estado de São Paulo. Mandaram os passageiros descerem e policiais entraram no veículo. Quando os passageiros subiram novamente, todas as coisas, bolsas, malas e mochilas estavam reviradas. A policial perguntou a essa pessoa se ela tinha participado de algum dos protestos. Pediu pra ver o celular e checou se havia vídeos, fotografias, etc.
Não à toa e no mesmo “clima”, conto pra vocês a quarta “coisa estranha”: descobrimos que, após o ato em BH, um rapaz identificado como uma das lideranças políticas de lá foi preso, em sua casa. Parece que a nossa polícia exemplar não era tão exemplar assim, mas agora ninguém compartilhava mais. Coisas semelhantes aconteceram em Brasília, antes mesmo das manifestações começarem.

4. Sequestraram a pauta?

Então veio a segunda-feira. Dia 17 de junho de 2013. Ontem. Havia muita gente se prontificando a participar dos protestos, guias de segurança compartilhados nas redes, gente montando pontos de apoio, etc. Uma verdadeira mobilização para que muita gente se mobilizasse. Estávamos otimistas.
Curiosamente, os mesmos meios de comunicação conservadores que incentivaram as ações violentas da PM na quinta-feira anterior (13) de manhã, em seus editoriais, agora diziam que de fato as pessoas deveriam ir às ruas. Só que com outras bandeiras. Isso não seria um problema, se as pessoas não tivessem, de fato, ido à rua com as bandeiras pautadas por esses grupos políticos (representados por esses meios de comunicação). O clima, na segunda-feira, era outro. Era como se a manifestação não fosse política e como se não estivesse acontecendo no mesmo planeta em que eu vivo. Meu otimismo começou a decair.
A pauta foi sequestrada por pessoas que estavam, havia alguns dias, condenando os manifestantes por terem parado o trânsito, e que são parte dos grupos sociais que sempre criminalizaram os movimentos sociais no Brasil (representados por um pedaço da classe política, estatisticamente o mais corrupto - não, não está nem perto de ser o PT -, e pelos meios de comunicações que se beneficiam de uma política de concessões da época da ditadura). De repente se falava em impeachment da presidenta. As pessoas usavam a bandeira nacional e se pintavam de verde e amarelo como ordenado por grandes figurões da mídia de massas, colunistas de opinião extremamente populares e conservadores.
As reações de militantes variavam. Houve quem achasse lindo, afinal de contas, era o povo nas ruas. Houve quem desconfiasse. Houve quem se revoltasse. Houve quem, entre todos os sentimentos possíveis, ficasse absolutamente confuso. Qualquer levante popular em que a pauta não eh muito definida cria uma situação de instabilidade política que pode virar qualquer coisa. Vimos isso no início do Estado Novo e no golpe de 1964, ambos extremamente fascistas. Não quer dizer que desta vez seria igual, mas a história me dizia pra ficar atenta.

5. Não, sequestraram o ato!

A passeata do dia 17, segunda-feira, estava marcada para sair do Largo da Batata, que fica numa das pontas da avenida Faria Lima. Não se sabia, não havia decisão ainda, do que se faria depois. Aos que não entendem, a falta de um trajeto pré-definido se justifica muito bem por duas percepções: (i) a de que é fácil armar emboscadas para repressão quando divulga-se o trajeto; e, (ii) mais importante do que isso, a percepção de que são as pessoas se manifestando, na rua, que devem definir na hora o que fazer. [e aqui, se vocês forem espertos, verão exatamente onde está a minha contradição - que não nego, também me confunde]
A passeata parecia uma comemoração de final de copa do mundo. Irônico, não? Começamos a teorizar (sem muita teoria) que talvez essa fosse a única referência de manifestações públicas que as pessoas tivessem, em massa:o futebol. Os gritos eram do futebol, as palavras de ordem eram do futebol. Muitas camisetas também eram do futebol. Havia inclusive uns imbecis soltando rojões, o que não é muito esperto pois pode gerar muito pânico considerando que havia poucos dias muita gente ali tinha sido bombardeada com gás lacrimogêneo. Havia pessoas brincando com fogo. [guardem essa informação do fogo também]
Agora uma pausa: vocês se lembram do fato estranho número dois? O evento falso no facebook? Bom, o trajeto desse evento falso incluía a Berrini, a ponte Estaiada e o palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado. Reparem só.
Quando a passeata chegou ao cruzamento da Faria Lima com a Juscelino, fomos praticamente empurrados para o lado direito. Nessa hora achamos aquilo muito esquisito. Em nossas cabeças, só fazia sentido ir à Paulista, onde havíamos sido proibidos de entrar havia alguns dias. Era uma questão de honra, de simbologia, de tudo. Resolvemos parar para descobrir se havia gente indo para o lado oposto e subindo a Brigadeiro até a Paulista. Umas amigas disseram que estavam na boca do túnel. Avisei pra não irem pelo túnel que era roubada. Elas disseram então que estavam seguindo a passeata pela ponte, atravessando a Marginal Pinheiros.
Demoramos um tanto pra descobrirmos, já prontos pra ir para casa broxados, que havia gente subindo para o outro lado. Gente indo à esquerda. Era lá que preferíamos estar. Encontramos um outro grupo de pessoas conhecidas e amigas e seguimos juntos. As palavras de ordem não mudaram. Eram as mesmas em todos os lugares. As pessoas reproduziam qualquer frase de efeito tosca de maneira acrítica, sem pensar no que estavam dizendo. Efeito “multidão”, deve ser.
As frases me incomodaram muito. Nem uma só palavra sobre o governador que ordenara à PM descer bala, cassetete e gás na galera havia poucos dias. Que promove o genocídio da juventude negra nessa cidade todos os dias, há 20 anos. Nem mesmo uma. Os culpados de todos os problemas do mundo, para os verde-amarelos-bandeira-hino eram o prefeito e a presidenta. Ou essas pessoas são ignorantes, ou são extremamente desonestas.
Nem chegamos à Paulista, incomodados com aquilo. Fomos para casa nos sentindo muito esquisitos. Aí então conseguimos entender que aquelas pessoas do evento falso no facebook tinham conseguido de alguma maneira manobrar uma parte muito grande de pessoas que queria ir se manifestar em outro lugar. A falta de informação foi o que deu poder para esse grupo naquele momento específico. Mas quem era esse grupo? Não sei exatamente. Mas fiquei incomodada.

6. O centro em chamas.

Quem diria que essa sensação bizarra e sem nome da segunda-feira faria todo sentido no dia seguinte? Fez. Infelizmente fez. O dia seguinte, “hoje”, dia 18 de junho de 2013, seria decisivo. Veríamos se as pessoas se desmobilizariam, se a pauta da revogação do aumento se fortaleceria. Essa era minha esperança que, infelizmente, não se confirmou. A partir daqui são todos fatos recentes, enquanto escrevo e vou tentar explica-los em ordem cronológica. Aviso que foram fazendo sentido aos poucos, conforme falávamos com pessoas, ouvíamos relatos, descobríamos novas informações. Essa é minha tentativa de relatar o que eu vi, vivi, experienciei.
No fim da tarde, pegamos o metrô Faria Lima lotadíssimo um pouco depois do horário marcado para a manifestação. Perguntei na internet, em redes sociais, se o ato ainda estava na concentração ou se estava andando, e para onde. Minha intenção era saber em qual estação descer. Me disseram, tomando a televisão como referencia (que é a referencia possível, já que não havia um único comunicado oficial do MPL em lugar algum) que o ato estava na prefeitura. Guardem essa informação.
Fomos então até o metrô República. Helicópteros diversos sobrevoavam a praça e reparei na quinta “coisa estranha”: quase não havia polícia. Acho que vimos uns três ou quatro controlando curiosamente a ENTRADA do metrô e não a saída… Quer dizer, quem entrasse no metro tinha mais chance de ser abordado do que quem estava saindo, ao contrário do dia 13.
A manifestação estava passando ali e fomos seguindo, até que percebemos que a prefeitura era outro lado. Para onde estavam indo essas pessoas? Não sabíamos, mas pelos gritos, pelo clima de torcida de futebol, sabíamos que não queríamos estar ali, endossando algo em que não acreditávamos nem um pouco e que já estávamos julgando ser meio perigoso. Quando passamos em frente à câmara de vereadores, a manifestação começou a vaiar e xingar em massa. Oras, não foram eles também que encheram aquela câmara com vereadores? O discurso de ser “apolítico” ou “contra” a classe política serve a um único interesse, a história e a sociologia nos mostram: o dos grupos conservadores para continuarem tocando a estrutura social injusta como ela é, sem grandes mudanças. Pois era esse o discurso repetido ali.
Resolvemos então descer pela rua Jandaia e tentar voltar à Sé, pois disseram nas redes sociais que o ato real, do MPL, estava no Parque Dom Pedro. Como aquilo fazia mais sentido do que um monte de pessoas bem esquisitas, com cartazes bem bizarros, subindo para a Paulista, lá fomos nós.
Outro fato estranho, número seis: no meio da Rua Jandaia, num local bem visível para qualquer passante nos viadutos do centro, um colchão em chamas. A manifestação sequer tinha passado ali. Uma rua deserta e um colchão em chamas. Para quê? Que tipo de sinal era aquele? Quem estava mandando e quem estava recebendo? Guardamos as mascaras de proteção com medo de sermos culpados por algo que não sabíamos sequer de onde tinha vindo e passamos rápido pela rua.
Cruzamos com a mesma passeata, mais para cima, que vinha lá da região que fica mais abaixo da Sé, mas não sabíamos ainda de onde. Atrás da catedral, esperamos amigos. Uma amiga disse que o marido estava chateado porque não conseguiu pegar trem na Vila Olímpia. Achamos normal, às vezes a CPTM trava mesmo, daí essa porcaria de transporte e os protestos, etc. pois bem. Guardem a informação.
Uma amiga ligou dizendo que estava perto do teatro municipal e do Vale do Anhangabaú, que estava “pegando fogo”. Imbecil que me sinto agora, na hora achei que ela estava falando que estava cheio de gente, bacana, legal. [que tonta!] Perguntei se era o ato do MPL, se tinha as faixas do MPL. Ela disse que sim mas não confiei muito. Resolvemos ir ver.
[A partir daqui todos os fatos são “estranhos”. Bem estranhos.]
O clima no centro era muito tenso quando chegamos lá. Em nenhum dos outros lugares estava tão tenso. Tudo muito esquisito sem sabermos bem o quê. Os moradores de rua não estavam como quem está em suas casas. Os moradores de rua estavam atentos, em cantos, em grupos. Poucos dormiam. Parecia noite de operação especial da PM (quem frequenta de verdade a cidade de São Paulo, e não apenas o próprio bairro, sabe bem o que é isso entre os moradores de rua).
Só que era ainda mais estranho: não havia polícia. Não havia polícia no centro de São Paulo à noite. No meio de toda essa onda. Não havia polícia alguma. Nadinha de nada, em lugar nenhum.
Na Sé, descobrimos mais ou menos o caminho e fomos mais ou menos andando perto de outras pessoas. Um grupo de franciscanos estava andando perto de nós, também. Vimos uma fumaça preta. Fogo. MUITO fogo. Muito alto. O centro em chamas.
Tentamos chegar mais perto e ver. Havia pessoas trepadas em construções com latas de spray enquanto outros bradavam em volta daquela coisa queimando que não conseguíamos identificar. Outro colchão? Os mesmos que deixaram o colchão queimando na Jandaia? Mas quem eram eles?
De repente algumas pessoas gritaram e nós,mais outros e os franciscanos, corremos achando que talvez o choque estaria avançando. Afinal de contas, era óbvio que a polícia iria descer o cacete em quem tinha levantado aquele fogaréu (aliás, será q ela só tinha visto agora, que estava daquele tamanho todo?). Só que não.
Na corrida descobrimos que era a equipe da TV Record. Estavam fugindo do local - a multidão indo pra cima deles - depois de terem o carro da reportagem queimado. Não, não era um colchão. Era o carro de reportagem de uma rede de televisão. O olhar no rosto da repórter me comoveu. Ela, como nós, não conseguia encontrar muito sentido em tudo que estava acontecendo. Ao lado de onde conversávamos, uns quatro policiais militares. Parados. Assistindo o fogo, a equipe sendo perseguida… Resolvemos dar no pé que bobos nós não somos. Tinha algo muito, mas muito errado (e estranho) ali.
Voltamos andando bem rápido para a Sé, onde os moradores de rua continuavam alertas, e os franciscanos tentavam recolher pertences caídos pelo chão na fuga e se organizarem novamente para dar continuidade a sua missão. Nós não fomos tão bravos e decidimos voltar para nossas casas.

7. Prelúdio de um… golpe?

No metrô um aviso: as estações de trem estavam fechadas. É, pois é, aquela coisa que havíamos falado antes e tal. Mal havíamos chegado em casa, porém, uma conhecida posta no facebook que um amigo não conseguiu chegar em lugar nenhum porque algumas pessoas invadiram os trilhos da CPTM e várias estações ficaram paradas, fechadas. Não era caos “normal” da CPTM, nem problemas “técnicos” como a moça anunciava. Era de propósito. Seriam os mesmos do colchão, do carro da Record?
Lemos, em seguida, em redes sociais, que havia pessoas saqueando lojas e destruindo bancos no centro. Sabíamos que eram o mesmos. Recebi um relato de que uma ocupação de sem-teto foi alvo de tentativa (?) de incêndio. Naquele momento sabíamos que, quem quer que estivesse por trás do “caos” no centro, da depredação de ônibus na frente do Palácio dos Bandeirantes no dia anterior, de tentativas de criar caos na prefeitura, etc. não era o MPL. Também sabíamos que não era nenhum grupo de esquerda: gente de esquerda não quer exterminar sem-teto. Esse plano é de outro grupo político, esse que manteve a PM funcionando nos últimos 20 anos com a mesma estrutura da época da ditadura militar.
Algum tempo depois, mais uma notícia: em Belo Horizonte, onde já se fala de chamar a Força Nacional e onde os protestos foram violentíssimos na segunda-feira, havia ocorrido a mesma coisa. Depredação total do centro da cidade, sem nenhum policial por perto. Nenhunzinho. Muito estranho.
Nessa hora eu já estava convencida de que estamos diante de uma tentativa muito séria de golpe, instauração de estado de exceção, ou algo do tipo. Muito séria. Muito, muito, muito séria. Postei algumas coisas no facebook, vi que havia pessoas compartilhando da minha sensação. Sobretudo quem havia ido às ruas no dia de hoje.
Um pouquinho depois, outra notícia: a nova embaixadora dos EUA no Brasil é a mesma embaixadora que estava trabalhando no Paraguai quando deram um golpe de estado em Fernando Lugo.
Me perguntaram e eu não sei responder qual golpe, nem por que. Mas se o debate pela desmilitarização da polícia e pelo fim da PM parece que finalmente havia irrompido pelos portões da USP, esse seria um ótimo motivo. Nem sempre um golpe é um golpe de Estado. Em 1989 vivemos um golpe midiático de opinião pública, por exemplo. Pode ser que estejamos diante de outro. Essa é a impressão que, ligando esses pontos, eu tenho.
Já vieram me falar que supor golpe “desmobiliza” as pessoas, que ficam em casa com medo. De forma alguma. Um “golpe” não são exércitos adentrando a cidade. Não necessariamente. Um “golpe” pode estar baseado na ideia errônea de que devemos apoiar todo e qualquer tipo de indignação, apenas porque “o povo na rua é tão bonito!”.
Curiosamente, quando falei sobre a manifestação do dia 13 com meus alunos, no dia 14, vários deles me perguntaram se havia chances de golpes militares, tomadas de poder, novas ditaduras. A minha resposta foi apenas uma, que ainda sustento sobre este possível golpe de opinião pública/mídia: em toda e qualquer tentativa de golpe, o que faz com que ela seja ou não bem-sucedida é a resposta popular ao ataque. Em 1964, a resposta popular foi o apoio e passamos a viver numa ditadura. Nos anos 2000, a reposta do povo venezuelano à tentativa de golpe em Chávez foi a de rechaço, e a democracia foi restabelecida.
O ponto é que depende de nós. Depende de estarmos nas ruas apoiando as bandeiras certas (e há pessoas se mobilizando para divulgar em tempo real, de maneira eficaz, onde está o ato contra o aumento da passagem, porque já não podemos dizer que é apenas “um” movimento, como fez Haddad em sua entrevista coletiva). Depende de nos recusarmos a comprar toda e qualquer informação. Depende de levantarmos e irmos ver com nossos próprios olhos o que está acontecendo.

[update: escrevi um pouco melhor sobre como eu acho que esse “golpe” continua se desenhando; somando novas peças ao quebra-cabeças. leia aqui se interessar]

Se essa sequencia de fatos faz sentido pra você, por favor leia e repasse o papel. Faça uma cópia. Guarde. Compartilhe. Só peço o cuidado de compartilharem sempre integralmente. Qualquer pessoa mal-intencionada pode usar coisas que eu disse para outros fins. Não quero isso.
Quero apenas que vocês sigam minha linha de raciocínio e me digam: estamos mesmo diante da possibilidade iminente de um golpe?
Estou louca?
Espero sinceramente que sim. Mas acho que não.

MANIFESTAÇÕES SEM CONSCIÊNCIA DE CLASSE... CONTROVÉRSIA DE QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 3!


Republicando com vistas a divulgação e contribuição ao diálogo verdadeiramente construtivo!

Um pouco além dos protestos

Os protestos pegaram o mundo político de calças curtas.

Comecemos pela oposição.
Depois de passar a última década procurando convencer a população a sair às ruas com base num moralismo falso e seletivo, a oposição reagiu de acordo com o reflexo condicionado do conservadorismo brasileiro.
Sua primeira atitude foi clássica: dar porrada nos protestos e na mobilização popular. Tratou todo mundo como baderneiro e aplaudiu balas de borracha. No momento mais difícil, vangloriou-se do que fazia. 
Ao perceber que os “vândalos”  e “baderneiros”  poderiam ter uma função útil caso fossem instrumentalizados para combater o governo Dilma, a oposição procura promover uma transmutação política.
Quer entrar no vácuo da luta contra os 0,20 centavos e encontrar novos aliados em sua guerra eleitoral para 2014. 
É por isso que muitos observadores e comentaristas insistem em dizer que a luta envolve bandeiras maiores e mais amplas. Receosos de entrar num terreno perigoso, o das reivindicações populares, a tática é criar um guarda-chuva ideológico. 
Tenta-se diluir um compromisso que interessa à maioria da população, para criar um atalho para 2014.
Vamos combinar.
Para quem perdeu três eleições presidenciais desde 2002 e arranca os cabelos diante das pesquisas eleitorais disponíveis para 2014, até uma insólita aproximação com o anarquismo e práticas autonomistas se tornou uma esperança.
E se pelo menos uma fatia dessa juventude resolver engrossar o bloco de oposição no ano que vem?
É este o exercício que o conservadorismo brasileiro decidiu experimentar.
Resta saber se será bem-sucedido neste canto de sereia – ou não.
Em vez de seguir o tratamento de “vândalos” pré-criminosos, eles foram repaginados, tomaram um banho de butique ideológica e agora são apresentados com bons moços,  herdeiros das melhores lutas políticas de um país onde, mais uma vez, se diz que “tudo” precisa mudar.
(Na real, este “tudo” consiste em revogar as principais conquistas sociais instituídas de 2003 para cá e dar um jeito de tirar essa discussão sobre tarifa de ônibus da frente...)
Mas a mobilização também pegou o PT e seus aliados no contrapé.
Os protestos revelaram a distancia entre um partido que tem um histórico na melhoria do transporte público, a começar pela criação do Bilhete Único, e os militantes independentes que há anos se dedicam a esse combate, preferindo seguir uma direção própria, com métodos próprios de organização e reivindicação.
Há anos que o MPL denuncia o preço das passagens nas principais capitais do país. A história lhe deu razão.
Centro das manifestações em função de um aumento de 0,20 centavos, a prefeitura de São Paulo perdeu uma ótima oportunidade para negociar. 
Durante três dias, Fernando Haddad fez companhia a Geraldo Alckmin, o governador que tem imposto um ambiente de Estado Policial a São Paulo toda vez que é colocado diante de mobilizações de caráter político.
Não vamos esquecer. Neste período foram feitas dezenas de prisões arbitrárias e vários militantes foram enquadrados em crimes absurdos e inaceitáveis para quem exerce o direito legítimo de defender seus direitos – como formação de quadrilha.
Neste jogo delicado, incerto, pode-se resolver um trunfo importante da campanha de 2014.
Todos estarão atentos e cada movimento pode ser decisivo.
Ninguém é bobo embora muita gente goste de se fazer de ingênuo.

Paulo Moreira Leite Desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor dos livros A Mulher que era o General da Casa e O Outro Lado do Mensalão.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

MANIFESTAÇÕES SEM CONSCIÊNCIA DE CLASSE... CONTROVÉRSIA DE QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 2!


Republicando com vistas a divulgação e contribuição ao diálogo verdadeiramente construtivo!

Entre democracia e fascismo

O movimento de caráter semi-insurrecional que vemos no país de hoje exige uma reflexão cuidadosa.


Começou como uma luta justíssima pela redução de tarifas de ônibus.
Auxiliada pela postura irredutível das autoridades e pela brutalidade policial, esta mobilização transformou-se numa luta nacional pela democracia.
Se a redução da tarifa foi vitoriosa, a defesa dos direitos democráticos também deu resultado na medida em que o Estado deixou de empregar a violência como método preferencial para impor suas políticas.
Mas hoje a mobilização assumiu outra fisionomia.
Seu traços anti-democráticos acentuados. Até o MPL, entidade que havia organizado o movimento em sua primeira fase, decidiu retirar-se das mobilizações.
Os manifestantes combatem os partidos políticos, que são a forma mais democrática de participação no Estado.
Seu argumento é típico do fascismo: “povo unido não precisa de partido.”
Claro que precisa. Não há saída na sociedade moderna. Às vezes, uma pessoa escolhe entrar num partido. Outras vezes, é massa de manobra e nem sabe.  
A criação de partidos políticos é a forma democrática de uma sociedade debater e negociar interesses diferentes, que não nascem na política, como se tenta acreditar, mas da própria vida social, das classes sociais.
Em São Paulo, em Brasília, os protestos exibiram faixa com caráter golpista. 
“Chega de políticos incompetentes!!! Intervenção Militar Já!!!”
No mesmo movimento, militantes de esquerda, com bandeiras de esquerda, foram forçados a deixar uma passeata na porrada. Uma bandeira do movimento negro foi rasgada.
A baderna cumpre um papel essencial na conjuntura atual. Reforça a sensação de desordem, cria o ambiente favorável a medidas de força – tão convenientes  para quem tem precisa desgastar de qualquer maneira um bloco político que ocupa o Planalto após três eleições consecutivas.  
A baderna é uma provocação que procura emparedar o governo Dilma criando uma situação sem saída.
Se reprime, é autoritária. Se cruza os braços, é omissa.
Outro efeito é embaralhar a situação política do país, confundir quem fala pela maioria e quem apenas pretende representá-la.
É bom recordar que a maioria escolhe seu governo pelo voto, o critério mais democrático que existe.
Nenhum brasileiro chegou perto do paraíso e todos nós temos reivindicações legítimas que precisam de uma resposta.
Também sabemos das mazelas de um sistema político criado para defender a ordem vigente – e que, com muita dificuldade, através de brechas sempre estreitas, criou benefícios para a maioria.
Olhando para a maioria dos brasileiros, aqueles que foram excluídos da história ao longo de séculos, cabe perguntar, porém: os políticos atuais são incompetentes para quem, mascarados?
Para a empregada doméstica, que emancipou-se das últimas heranças da escravidão?
Para 40 milhões que recebem o bolsa-família?
Para os milhões de jovens pobres que nunca puderam entrar numa faculdade? Para os negros? Quem vive do mínimo?
Ou para quem vai ao mercado de trabalho e encontra um índice de desemprego invejado no resto do mundo?
Mascarados que arrebentam vidraças, incendeiam ônibus e invadem edifícios trabalham contra a ordem democrática, onde os partidos são legítimos, as pessoas têm direitos iguais  – e  o poder, que emana do povo, não se resolve na arruaça, pelo sangue, mas pelo voto.
É óbvio que a baderna, em sua fase atual, não quer objetivos claros nem reivindicações específicas. Não quer negociações, não quer o funcionamento da democracia. Quer travá-la.  
Enquanto não avançar pela violência direta, fará o possível para criar pedidos difusos, que não sejam possíveis de avaliar nem responder.
O objetivo é manter a raiva, a febre, a multidão eletrizada.
É delírio enxergar o que está acontecendo no país como um conflito entre direita e esquerda. É uma luta muito maior, como aprenderam todas as pessoas que vivenciaram e estudaram as trevas de uma ditadura.
A questão colocada é a defesa da democracia, este regime insubstituível para a criação do bem-estar social e do progresso econômico.
O conflito é este: democracia ou fascismo. Não há alternativa no horizonte.
Quem não perceber isso está condenado a travar a luta errada, com métodos errados e chegar a um desfecho errado. 

MANIFESTAÇÕES SEM CONSCIÊNCIA DE CLASSE... CONTROVÉRSIA DE QUEM NÃO TEM CONSCIÊNCIA HISTÓRICA!

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Facebook não
traz o progresso

Em Maio de 1968, o De Gaulle voltou mais forte ainda


Em maio de 1968, o gaullismo ficou mais forte ainda.

Na Praça da Paz Celestial, Deng Xiao-Ping mandou os liberais embora.

Na Praça Tahir, ganhou a direita muçulmana.

Os indignados da Plaza Mayor, em Madrid, elegeram o Rajoy, um neo-franquista.

Se Facebook fosse instrumento do progresso, o meu neto Francisco, de 5 anos, assumia o controle da CacauShow, muito mais importante para ele que o Palácio do Itamaraty.

Paulo Henrique Amorim

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A CONTROVÉRSIA DA BRUTALIDADE ANIMAL!

Cultura do estupro, medidas paliativas do governo e as redes sociais como espelho da sociedade
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qua, 29 de mai de 2013 07:49 BRT
Muito tem se falado de cultura do estupro. E muito tem se negado sua existência. É comum ver o discurso de que mulheres precisam “se dar o respeito”, “vestir-se decentemente” ou “não se portar como uma vagabunda” para evitar o crime. Essa é a famosa culpabilização da vítima, um dos recursos mais usados e bem aceitos na cultura do estupro.
A questão é que estupros acontecem em países em que mulheres vestem burcas. Estupros acontecem no exército e na marinha, com mulheres uniformizadas respeitando normas rigidas. Com mulheres que acabaram de sair da igreja. E pesquisadores dizem que o estuprador tem desejo por poder, não só pelo corpo feminino. O sexo é um detalhe, a subjugação é o clímax.
Leia também:
A cultura do estupro se dá quando a mídia, por exemplo, exibe anúncios em que mulheres são violentadas como se isso fosse algo normal. O site Business Insider lista, regularmente, anúncios que estimulam ou desqualificam a violência contra a mulher. Em um deles, do governo do Egito, representa a mulher por meio de um pirulito com plástico e outro sem, sendo atacado por moscas (representando o homem), com a seguinte frase: "Você não pode parar (as moscas), mas pode proteger-se".

Ao mesmo tempo que grupos lutam para discutir o exemplo social dado a meninos e a cultura que desqualifica a liberdade feminina e dá liberdade para que o homem acredite que nunca poderá receber um não como resposta, o número de casos de estupro, em São Paulo, por exemplo, bateu recordes com uma média de 37 casos por dia. TRINTA E SETE mulheres sofrem abuso sexual POR DIA. Assustador, não?
Resolver o problema não é simples. É necessário mudar uma cultura ligada a interesses financeiros e de controle de massa. Uma cultura que prefere deixar as pessoas ignorantes, odiando umas as outras, para que não se importem com problemas grandes de interesse comum. Mas enxergar o problema e começar trabalhos para transformar a realidade é a saída.
No entanto, ao invés de mostrar que o estupro é errado e que estupradores serão punidos severamente, o governo de São Paulo resolveu criar uma cartilha para que a mulher se proteja. É claro, a vítima deve ser responsável para evitar seu abuso – que em grande parte dos casos é feito por pessoas conhecidas e do seu convívio. Quão maluco é tudo isso?

Imagine que você está atravessando a rua, na faixa e com o farol de pedestres verde, é atropelado. Jogado a uma distância assustadora, tem diversos ossos quebrados e sequelas para o resto da vida. As autoridades dizem, diretamente a você, enquanto você ainda sente as dores, ali, no chão, que o motorista que fez isso está errado, mas que você deveria ter prestado mais atenção antes de passar por ali. É assim que é tratada uma mulher vítima de estupro.
A tal cartilha terá ainda um perfil do homem que estupra, criado a partir de estudos. O que me soa bastante perigoso, já que você, homem correto, pode se parecer com um estuprador e passar a ser alvo de medo feminino.
Nós, mulheres, sabemos como nos proteger. Sabemos que andar por uma rua escura e sozinha não é aconselhado por especialistas em segurança. Mas quem vai nos buscar no ponto de ônibus depois da faculdade? Quem vai passar a noite toda, na balada, ao nosso lado, impedindo que babacas nos puxem pelo braço ou pelo cabelo? Devemos aprender a lutar para agredir quem fizer isso? Deixar nossos estudos, trabalhos e diversão de lado? Nos tornar violentas, agressivas e desconfiadas porque a sociedade prefere isso a tirar os privilégios que seus homens têm? Não é o que queremos.
Em uma sociedade igualitária homens e mulheres têm os mesmos direitos e deveres, as mesmas liberdades, o mesmo respeito. Isso a gente quer. A gente quer não ter medo. Queremos poder andar o caminho para casa pensando na vida e não no momento em que alguém vai aparecer do nada e nos assediar.
Nos últimos dias postei aqui na coluna uma pesquisa que diz que homens enxergam mulheres de biquini como objetos. Os comentários, assustadores como de costume, diziam que se a mulher está mostrando o corpo é assim mesmo que será vista, mas poucos se atentaram para a parte mais assustadora do texto: ele diz que quando certos homens veem a pele feminina passam a ignorar seus direitos e vontades, acreditando que ela é apenas um objeto para satisfazer seus desejos e fantasias. Essa é a base da cultura do estupro sendo inserida no cérebro das pessoas. A ideia de que suas vontades são superiores a vontade do outro. É aí que nasce o estuprador.
Quando falamos sobre esse assunto muita gente diz que é exagero, mas se formos ver o que acontece nas redes sociais, o espelho da nossa sociedade na internet, ficamos assustados. O Facebook, rede mais popular do mundo, tem passado por retaliações sem fim. Sua política de deletar conteúdo ofensivo ignora totalmente apologias ao estupro.
Na última semana um vídeo que mostra uma garota de 12 anos sendo estuprada por três adolescentes ficou na rede por um bom tempo antes que a enxurrada de e-mails conseguisse convencer a equipe de Zuckerberg o quão impróprio o ofensivo era aquilo.
Nesse meio tempo, pessoas de todo o mundo, compartilharam as imagens ofensivas com as quais têm sido bombardeadas diariamente, sem pedir. Os anúncios da rede colocam páginas que glorificam a violência contra a mulher ao lado de grandes empresas que lutam por seu bem-estar. As empresas já começaram a pressionar o Facebook para que imagens desse tipo sejam tiradas do ar o mais rápido possível e que a vista grossa sobre elas acabe.

Banalizar o discurso da violência é o mesmo que glorifica-lo. É mostrar que, no mundo real ou virtual, você não será punido ao violentar – sexualmente ou não – uma mulher. A liberdade de expressão não abre precedente para que o discurso de ódio seja aceito, eles são coisas bastante diferentes. Assim que sua liberdade passa a ofender e machucar outra pessoa, ela se torna crime.
Enquanto aceitarmos que a luta contra a violência seja desqualificada nos meios de comunicação, que as punições sejam em relação a vítima, que é cerceada de seus direitos, e que os projetos contra estupro e abuso sejam focados no comportamento das vítimas ao invés de educar e punir os culpados, estaremos apostando em uma sociedade em que o ódio é a moeda de troca aceita.

Nós precisamos de ações concretas e não pedaços de papel nos dizendo que as culpadas somos nós, por viver em uma sociedade hipersexualizada e que torna os desejos sexuais do outro mais importantes do que nossa vontade e direitos.
Você tem alguma dúvida sobre sexo? Manda para mim no preliminarescomcarol@yahoo.com.br e siga-me no Twitter (@carolpatrocinio).


Homens enxergam mulheres como objetos, diz estudo
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 27 de mai de 2013 06:45 BRT

Como os homens te enxergam? (Foto: Thinkstock)
Quando muitas histórias passam a se cruzar na minha vida sinto que devo escrever sobre o assunto. O que aconteceu dessa vez é que diversas amigas e colegas vieram conversar comigo sobre os motivos dos homens sempre acharem que farão sexo com você. Sempre.
É aquela velha história de você ter uma relação super legal com o cara do trabalho, o cara da academia, da faculdade, do cursinho, da padaria e aí, assim que ele tem uma chance, tenta algo contigo. E, espera um momentinho, você nunca teve essa intenção, mas parece que o amigo não entende.
Leia também:
Dias depois dessas conversas e de muitas mulheres ficando mais magoadas e cansadas do que o normal, apareceu um post incrível na minha frente: “Estudo mostra que homens heterossexuais vêem mulheres como objetos – literalmente”, trabalho que dá título também a este post que você está lendo.
O estudo em questão é da psicóloga Susan Fiske, da Universidade de Princeton. Ela tirou imagens de cérebros de homens heterossexuais enquanto olhavam imagens sexualizadas de mulheres usando biquines. A descoberta foi que a parte do cérebro ativada era aquela que normalmente acende quando as pessoas vão utilizar alguma ferramenta – eles viam mulheres como objetos inanimados que recebiam uma ação sua. Mais nada. Os caras que mais tiveram incidência desse comportamento foram aqueles que mais conseguiam desativar a parte do cérebro que leva em consideração as intenções de outras pessoas (o córtex medial pré-frontal). Eles respondiam frente a essas imagens como se as mulheres fossem não-humanas.
Essa explicação vem do livro “The Equality Illusion: The Truth about Women and Men Today” de Kat Banyard. Caso você se interesse.
E o que ela diz é que homens – nem todos eles, é claro – olham para a mulher como se ela estivesse ali para lhe servir. É quase como se qualquer mulher fosse uma boneca inflável, levando o assunto para o sexo. E isso é extremamente nocivo à sociedade e as relações entre os gêneros.
Só que, ao mesmo tempo, tudo isso é possível de ser mudado. Há milhares de homens que tratam mulheres com respeito, que entendem que nem toda mulher se interessará por ele e que não estará disponível. Mulheres têm vontades e são elas que regem suas decisões.
O homem pode entender isso, mas grande parte deles não quer – assim como uma boa parte das mulheres. E então cabe a nós, mulheres e homens conscientes, colocarmos limites e lutarmos contra a exploração que esse tipo de pensamento tão arraigado na sociedade causa. Esse é o tipo de ideia que faz com que estupradores sintam-se certos, assim como agressores.
A mulher é humana e sente-se ofendida quando tratada de outra maneira. Temos desejos, vontades, sonhos e aspirações e não merecemos nada aquém de respeito. Nós tomamos nossas decisões e devemos escolher com quem queremos dividir nosso tempo, nosso corpo e nossos desejos.
Já os homens, devem repensar a relação que tem com as mulheres. Se você sente que esse tipo de efeito acontece com você, pode lutar contra ele, abrir a cabeça, mudar de posicionamento. Nada é imutável. E estudos desse tipo servem para que a gente note que a sociedade, da forma que é hoje, causa danos permanentes no nosso cérebro.
Mudar não é simples. Sair do padrão imposto pela sociedade também não é. Mas tudo isso é valioso, libertador e faz com que você consiga enxergar o mundo com um pouco mais de clareza. E a mudança está nas mãos de cada um. Deixar de repetir posturas que não acrescentam nada ao mundo só depende de cada um de nós.
É a velha história da Matrix. Qual a cor do seu comprimido?
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Estudo mostra que homens heterossexuais vêem mulheres como objetos - literalmente.

A psicóloga Susan Fiske da Universidade de Princeton tirou imagens de cérebros de homens heterossexuais enquanto olhavam imagens sexualizadas de mulheres usando biquinis. Ela descobriu que a parte do cérebro deles que era ativada era pré-motora - áreas que normalmente acendem quando as pessoas vão utilizar alguma ferramenta. Os homens estavam reagindo às imagens como se as mulheres fossem objetos sobre os quais eles iam agir. Particularmente chocante foi a descoberta que os participantes que tiveram notas máximas em testes de sexismo hostil eram aqueles que mais propensos a desativar a parte do cérebro que leva em consideração as intenções de outras pessoas (o córtex medial pré-frontal) enquanto observando as imagens. Estes homens estavam respondendo a imagens de mulheres como se elas fossem não-humanas.
Via fuckyeahfeminists, do livro “The Equality Illusion: The Truth about Women and Men Today” de Kat Banyard.
Sugestão da Rosa (Obrigada)
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Uma reação que costumo observar quando estudos assim são publicados, é que muitas pessoas encaram essas observações científicas como IMUTÁVEIS. Acham que se o cérebro vê assim, então pronto, lidem com isso, huehue, prende as cabra que meu bode tá solto.
Na verdade, gente fina, esses cérebros de homens heterossexuais não foram gerados na gosminha da matrix. Eram homens heterossexuais que viveram, trabalharam e cresceram neste ambiente que nos cerca. Estudos assim mostram como a cultura preconceituosa entra no nosso cérebro de tal forma, que a própria percepção da pessoa fica alterada. Estudos assim são os que justificam porque um mundo em que há filmes, propagandas, redes sociais, revistas que objetificam mulheres - realmente provocam um resultado na mentalidade humana que fazem com que mulheres sejam vistas e tratadas como objetos - assediadas, assassinadas e estupradas com pouquíssimas consequências para a maioria dos agressores, quando há alguma consequência.
Gostaria de ver esse método de estudo aplicado em outros preconceitos, como o racial e gordofóbico. Seria interessante e/ou terrível ver os resultados.


Agredir psicologicamente também é crime
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qua, 6 de jun de 2012 17:29 BRT
Sempre que lemos colunas sobre relacionamentos buscamos informações que vão nos ajudar a deixar o namoro/casamento/caso/rolo melhor do que está. Buscamos maneiras de nos tornarmos mais interessantes, de aceitar a outra pessoa com suas manias, tentamos entender o melhor para os dois e apimentar tudo na hora h.
Só que esquecemos que algumas relações não devem ser salvas.
Muitos casais baseiam sua vida a dois em um joguinho de dominação em que uma das partes sempre precisa ser superior em todos os sentidos, anulando desejos e negando respeito do outro. Nesse tipo de relação não há agressão física, mas verbalmente as marcas também são deixadas. Com a auto-estima destruída a pessoa se torna frágil, dependente e pode ser alvo de depressões e até tentar o suicídio.
Ao pensar na Lei Maria da Penha, esquecemos que a agressão psicológica também faz parte do artigo. Constrangimento, ridicularização, perseguição e outros danos emocionais estão descritos como motivo de condenação. Mas o que é realmente a agressão psicológica?
Ela pode aparecer de diversas maneiras, desde a maneira como você se relaciona com o parceiro até a forma como um trata o outro publicamente. Quem nunca viu casais se humilhando mutuamente entre amigos como se isso fosse uma coisa engraçada?
Como em um relacionamento trocamos confissões, sonhos e pontos fracos, seu inimigo tem tudo isso a mão na hora de acabar com a sua auto-estima. E você, por sua vez, fica fraca ao ponto de acreditar que merece passar por tudo aquilo.
Se fugir desse tipo de relação é difícil, denunciar é ainda mais complicado. Ninguém quer dar a cara a tapa e ainda assumir que tem um relacionamento cheio de problemas gravíssimos. Além disso, independente de todo o sofrimento, você sente que ainda ama a outra pessoa.
A verdade é que isso pode acontecer em qualquer tipo de casal. Homens e mulheres lindos já acreditaram serem assustadores por causa de tipo de relacionamento. Mulheres e homens já deixaram de ser promovidos por falta de confiança em sua capacidade devido aos comentários maldosos do parceiro.
Quem comete esse tipo de agressão o faz para manter o poder sobre a outra pessoa e acabar com a própria insegurança e quando é enfrentado sobre o assunto diz não fazer por mal, mas por amor. É aí que está o maior perigo, acreditar nessa história.
Amor só existe em paralelo com respeito e aceitação. Qualquer coisa diferente disso não deveria ser aceita.
Você conhece alguém que já passou por isso?
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Ele vai mudar. Por mim.
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qui, 9 de ago de 2012 12:11 BRT
Tenho certeza que, assim que as meninas nascem, é feito algum tipo de lavagem cerebral e colocam na cabeça feminina que o amor muda as pessoas. Digo isso porque o número de mulheres que vejo dizendo que a pessoa mudou por elas é assustador. E o pior de tudo isso é saber que, no fundo, ninguém muda por ninguém — a não ser por si mesmo.
As pessoas nunca são exatamente o que a gente espera, elas têm todos aqueles pequenos defeitos que vamos descobrindo com o tempo e na nossa cabeça, elas são perfeitas, cheias de virtudes e pontos positivos.
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Mas até aí, ok, normal, a gente já sabe disso, certo? Então por que tanta gente insiste em querer mudar o outro? Querer transformar a pessoa em algo que ela não é e nunca a fará feliz ser?
Uma coisa é dar dicas para a pessoa melhorar, crescer. Se você se relaciona com alguém que se atrasa sempre, é ok ajudar a pessoa a se tornar mais pontual e organizada. Mas e se você gosta de alguém que não tem a mínima vontade de casar e seu sonho é esse? Aí não dá pra mudar.
O tempo transforma as pessoas e as relações, mas desde o começo é bom ficar atento ao que não é possível suportar — existem algumas coisas que nos deixam malucas de verdade e não tem como ignorar.
Acredito que o maior problema dos relacionamentos é não enxergar o outro como ele realmente é. Faça esse exercício: olhe para a pessoa amada com os olhos de outras pessoas. Pra fazer isso você vai ter que conversar com grandes amigos e pessoas em quem você confia. Como elas veem essa pessoa? Como enxergam as coisas que incomodam você?
O olhar apaixonado deixa tudo mais bonito. É como um óculos 3D, que coloca as coisas juntinhas, uma sobre a outra; mas sem o óculos está tudo fora de lugar, meio torto e sem sentido. É assim que acontece com a gente.
Nossos sentimentos fazem com que vejamos a pessoa com olhos muito mais doces do que normalmente veríamos. E é aí que mora o perigo. Você começa achando que tudo tem um jeitinho, que se apertar um pouquinho os olhos não vai ser tão difícil enxergar aquilo com outros olhos e que, como o amor transforma, a pessoa vai abrir mão de tudo o que te incomoda. Por você.
E a verdade é que se você quer tanto que a pessoa mude é porque não está apaixonada por ela, mas pela ideia que criou, por alguém que só existe na sua cabeça. Que tal parar de se enganar, parar de apontar defeitos — que muitas vezes nem são mesmo defeitos — e acabar com a autoestima do outro e procurar uma pessoa mais próxima do que você espera? Ou que tal aceitar a pessoa que você ama como ela é e ser feliz?
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Violência contra a mulher: chega!
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 26 de nov de 2012 12:17 BRST
Neste domingo (25) foi celebrado o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher e como o Preliminares, muito mais do que uma coluna sobre sexualidade, é um espaço para refletir sobre a mulher, não poderíamos deixar a data passar em branco.
É claro que muita gente vai falar que devemos lutar contra a violência em geral, e não discordo disso, mas uma luta não anula a outra. A mulher - assim como negros e gays - sofre um tipo de violência bastante específico e que só é possível existir por ela ser mulher.
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Se fosse falar sobre todas as faces desse abuso de gênero poderia usar km de página, então preferi destacar três pontos bastante assustadores dessa coisa toda. Dois deles se referem ao sexo e o outro é sobre o que acontece, algumas vezes, depois do sexo, a gravidez.
Estupro corretivo
Essa foi uma das ideias que mais me assustou ver alguém defender. O que as pessoas a favor dessa prática, que tem até religiosos no meio, acreditam é que você pode mudar a orientação sexual de uma pessoa através da relação sexual.
Ok, cada um acredita no que quer, porém esse grupo pensa que esse sexo pode ser não consentido e então mulheres lésbicas são estupradas para que virem hétero.
A loucura é tanta que parte desses homens acha que se você conseguir engravidar a mulher é porque o serviço foi realmente bem feito. Assustador e nojento.
Direito ao sexo
Outra ideia extremamente sem sentido que existe por aí é que os homens têm direito ao sexo. Querendo a mulher ou não.
Esse grupo acha que se a mulher é bonita e gostosa é para que ela lhe proporcione prazer e por isso pode estuprá-la. Isso mesmo, na cabeça dessas pessoas estupro é um direito masculino.
Essa é só uma evolução da ideia estúpida de que se uma mulher usa saia curta ou decote é porque quer ser abusada. Triste.
Violência obstétrica
E então chegamos na violência que atinge a mulher que dá a luz - momento que, apesar de lindo, deixa qualquer mulher insegura e apreensiva por causa de todas as coisas novas que vai vivenciar.
Nessa hora a agressão é física e verbal. E isso não acontece apenas em hospitais públicos ou comunidades carentes. Esse é um tipo de comportamento tão recorrente que acaba sendo comum, quase aceito pela comunidade médica e raramente questionado pelas mulheres assustadas, que só entendem que sofreram um abuso meses depois, quando se permitem voltar a pensar no assunto.
O vídeo abaixo fala sobre o assunto e mostra, através de imagens e relatos, os maus tratos, a agressão e a falta de humanidade que tem tomado conta de um momento tão único para a mulher que quer ser mãe.
É hora de lutar pelo fim da violência. Não só desses três tipos, mas de todos eles.
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O que é violência sexual?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – seg, 3 de set de 2012 11:10 BRT
Esse é um assunto bem pesado e que tenho falado aos pouquinhos aqui, mas em uma conversa essa semana uma pessoa me disse que muita gente não sabe identificar o que é a tal violência sexual. Para mim parece simples, mas resolvi escrever esse post para que homens e mulheres não tenham mais dúvida na hora h.
Em tempos de banda famosinha se aproveitando de fãs, de abuso sexual voltando a ser uma arma de repreensão contra manifestantes e de pais abusando de seus filhos dentro de casa, é bom ter certeza de que você não faz parte dessa coisa horrível.
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Fazer o certo e fazer o errado costuma dar o mesmo trabalho — normalmente, fazer o errado dá mais trabalho, na verdade — e você não quer ser um babaca que passa dos limites, quer?
Não quer dizer não
O primeiro passo é bem simples. Se você fala para qualquer pessoa que quer fazer isso ou aquilo e ela diz que não está com vontade, não há outra opção senão respeitar o que ela quer. Simples, não?
Vencendo pelo cansaço
Você não vai ganhar ninguém pelo cansaço e ninguém vai mudar de ideia se você começar algo sem permissão porque a pessoa vai sentir que, na verdade, queria sim. Isso não funciona dessa maneira!
O papo de vencer pelo cansaço normalmente é atrelado ao assédio moral. Se um cara não quer fazer sexo com uma garota, ela diz que ele deve ter um pênis minúsculo, que parece que não gosta de mulher e tenta ferir, por todos os meios, a masculinidade dele. Quando é uma mulher, ela escuta muito que se não fizer, o cara vai procurar alguém que queira fazer, que ela não está cumprindo seu papel de namorada (ou seja qual for a ligação entre as pessoas) e ela acaba por se sentir insegura e com medo de ficar sozinha.
Isso é simplesmente errado. Não faça. Não rolou hoje, pode rolar amanhã, mas só se os dois tiverem certeza do que querem.
Eu queria, não quero mais
Você tem o direito de mudar de ideia. Você estava louca para fazer sexo, mas algo aconteceu e você não quer mais. Tudo bem. Nessa hora todo mundo tem que parar a brincadeira. Assim que um falou que não quer mais, tudo o que acontece depois é abuso.
E lembre-se, bonita, se o cara que está com você perder a vontade não é para ficar falando que ele é brocha. Ele simplesmente não quer mais. O problema não é você. Na verdade nem existe problema, ele só não está com vontade.
Sexo e violência
Essa combinação pode ser muito legal, divertida e uma delícia, mas só se os dois tiverem tesão por isso. Se você não gosta de apanhar, não tem que apanhar. Se não gosta de bater, não tem que bater. Fácil de entender, não é?
E usar violência para conseguir sexo — seja violência verbal ou física — não é permitido, tá? E quando eu digo que não é permitido, estou falando de lei. Não pode mesmo, dá cadeia e tudo.
Se você tiver tesão por isso, combine antes os limites com o parceiro e assim ninguém vai se machucar.
Acordei com ele dentro de mim
Muita gente diz por aí que acha o máximo quando acorda com o namorado já ali, fazendo as coisas enquanto você dormia. Okay, isso pode ser uma prática comum entre alguns casais, mas não soa bem estranho você estar dormindo e alguém ter tesão em transar com você? Com um corpo meio morto?
Pois é, isso também se enquadra em abuso. Você estava inconsciente e não podia dizer se queria ou não, então ele não deveria começar nada.
Isso também vale para você, que acha sexy acordar o bonitão com um lindo sexo oral. Ele pode não gostar de ser surpreendido assim.
É claro que, dentro de um relacionamento, tudo pode ser aceito e virar brincadeira do casal, mas é legal conversar antes. E fora de um relacionamento, se você dormir em algum lugar e acordar sendo bolinada, isso é crime.
...de bêbado não tem dono
Essa é uma grande mentira. O corpo de todo mundo tem dono, sim, e é só esse dono quem pode decidir o que fazer com ele — pra esclarecer, o dono do seu corpo é você mesma, mais ninguém. Não é porque você bebeu que alguém pode abusar de você, se aproveitando disso. Essa é uma coisa BEM clara. Nada deve ser feito sem o consentimento de todas as partes.
Nem teve penetração...
Outra lenda urbana é que 'passar a mão' não é nada demais. Assim como acham que é engraçado fazer piada sobre mulheres sendo 'encochadas' no metrô. Tudo isso é algo demais, sim. Ninguém, em nenhum momento, pode tocar seu corpo sem seu consentimento.
Outro dia uma amiga comentou que viu uma mulher fazendo um escândalo no ônibus porque um homem tinha passado a mão em suas pernas e muita gente estava achando graça. Não é engraçado. Não é certo invadir a intimidade alheia, simples assim.
Ensine o certo
Muitas campanhas por aí ensinam como uma mulher deve se defender em uma tentativa de abuso, mas o que devemos mesmo é ensinar a homens e mulheres que é errado abusar, é errado passar dos limites impostos pelas outras pessoas.
Nenhuma roupa pede nada. Mesmo se você estiver nua, no meio da rua, ninguém tem direito de abusar de você. Nenhuma atitude torna normal uma pessoa fazer sexo contra sua vontade. Nenhum discurso, paquera ou relação faz com que você se torne um objeto sem poder de veto.
Isso vale para homens e mulheres. Vale para todas as pessoas que acreditam no respeito ao outro e querem ser respeitadas. Abuso sexual, estupro, é sério, é crime.
Se você tem um amigo que acha que isso é normal, conhece alguém que não vê problema em alguma dessas situações, converse, explique o que tem de errado e faça sua parte pra tornar o mundo um lugar um pouquinho melhor!
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Por que a mulher negra é vista como objeto sexual?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – ter, 16 de out de 2012 15:01 BRT
Quando você pensa em uma mulher negra, qual é a imagem que surge na sua mente? Muitas pessoas responderiam que é a mulata do carnaval, com pernão, bundão, peitão e seminua. Outras pessoas diriam que são as empregadas domésticas das novelas. Pode até ter um grupo que contaria que consegue lembrar de mulheres lindas, modelos, atrizes ou anônimas, que têm um estilo e uma beleza única.
Infelizmente, o último grupo é o menor de todos. Nossa sociedade, por mais que finja que não, é racista e ainda encara negros como inferiores. E isso não acontece apenas com as piadinhas de que negro é ladrão, mas também com comentários que são falsos elogios. Por que o homem negro é visto como bem dotado, reprodutor? Porque parte da sociedade acredita que é apenas isso que ele sabe fazer.
E aí chegamos no assunto de hoje: por que a mulher negra é vista como objeto? Porque, culturalmente, a mulher negra era vista como serviçal e aquelas que se destacavam por sua beleza era abusadas sexualmente na era da escravidão — o que, muitas vezes, também era usado como artifício para sobreviver em meio a toda a violência da época.

Agora é o momento em que você diz que eu estou viajando e que isso não acontece mais, certo? Então olha só essa sugestão de pauta que eu recebi de uma amiga. Ela é negra, bonita, de classe média, que se relaciona com pessoas ditas esclarecidas, estudadas e que fazem parte daquele esteriótipo de gente sem preconceitos.
"Quero sugerir uma pauta sobre o estereótipo da mulher negra, dela ser sempre vista como menos atraente ou que serve somente para o sexo. Vivo em um mundo de brancos que nem olham pra mim. E eu acho que é mais comum mulheres brancas com negros, pois as mulheres são menos ligadas nessa questão de padrões de beleza, enxergam o homem como um conjunto; mas eu observo que homens brancos não acham as negras atraentes. Eu observo isso pelas conversas que escuto no trabalho, por exemplo"
E tudo isso realmente acontece! Já ouvi muitos homens dizerem (dizer) que não sentem tesão por mulheres negras e nunca consegui entender o real motivo disso, até que comecei aceitar o preconceito como principal causador de tudo isso.
Pode ser uma questão de modelos, do que a mídia impõe, mas mudar está na mão de cada pessoa e não é algo que vem apenas de estímulos externos. Ninguém é obrigado a achar a (uma) mulher negra linda, é claro, mas é sempre bom pensar de onde está vindo seus padrões de beleza e as coisas em que você acredita.
A mulher negra não é mais fogosa, não está sempre pronta para o sexo e não vive apenas para isso. A mulher negra é mulher — não deveria nem ser necessário especificar a cor da mulher de que estamos falando — e tem outros desejos, planos e anseios, como todas as pessoas.
Aceitar esse papel e esse preconceito faz de nós cumplices da discriminação e não ajuda em nada na transformação do mundo e das relações entre as pessoas.
E você, consegue ver beleza além daquela que alguém te disse que realmente existe?
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A próxima ‘vadia’ é você!


Por Carol Patrocínio | Preliminares – sex, 18 de jan de 2013 09:52 BRST
Há algum tempo vi uma imagem postada no Facebook de uma garoto que tinha acabado o namoro há pouco tempo. Era uma cena do filme “Bonequinha de Luxo”. A legenda era exatamente essa da foto abaixo. Ele diz: eu te amo. E ela responde: “Obrigada”.

Ela deveria ter mentido?
Essa não é a fala da personagem no filme, como dá para ver nesse vídeo, mas a imagem fala tanto sobre o momento que vivemos quanto o comentário que o garoto colocou nesse compartilhamento: “Bitch”. Sim, ele estava exteriorizando a dor de ter sido deixando por alguém que amava a chamando de vadia. Sim, ele amava uma vadia. Ops, não, ela virou vadia apenas quando não o amou de volta.
Leia também:
E a palavra vadia tem um peso enorme na nossa vida. Vadia é usado para falar, majoritariamente, de comportamento sexual. Mulheres e homens usam e nem se dão conta de quão infantil é querer colocar parâmetros para o que é ser “certa” e o que é ser “vadia”. Ainda mais quando esses parâmetros mudam num piscar de olhos.
E é nesse momento que chegamos ao ponto central do post de hoje. O que faz de você uma vadia? Você sabe? Por que eu digo que você será a próxima vadia? E isso vai acontecer. Um homem vai dizer por aí que você é uma vadia. Invariavelmente. Sabe por quê? Porque vadia é toda mulher que não corresponde às expectativas masculinas.
Se ele queria fazer sexo e você disse não, é uma vadia moralista.
Se você queria fazer sexo e ele também, você é uma vadia rodada.
Se ele quer ter um relacionamento com você e você não quer nada com ele, é uma vadia que se acha melhor que os outros.
Se você quer ter um relacionamento com ele e ele não, você é uma vadia interesseira.
Se ele disse “eu te amo” e você não respondeu porque não sente o mesmo, é uma vadia que não se importa com o sentimento dos outros.
Se você disse “eu te amo” mesmo sem ter um relacionamento, é uma vadia querendo se fazer de sentimental.
E esses são só alguns exemplos que pensei agora. Mas notou que todos eles têm sexo ou sentimentos românticos no meio? Quantas vezes a gente não vê homens falando sobre a ex-namorada como se ela fosse o maior problema do mundo quando há dias ela era a salvação do planeta? Mulheres também fazem isso? Claro, mas o comportamento é muito mais comum no mundo masculino.
Homens não sabem lidar muito bem com negativas. Sim, estou generalizando porque estou falando de uma maioria, de uma cultura em que o homem pode ter tudo o que quiser, quando quiser e ai de quem não deixar. Se você atrapalha isso, vira uma vadia.
Não importa o que você faça, você é considerada uma delas – de nós – em algum momento. Nem as religiosas, que tanto se mantém dentro dos princípios da igreja, escapam. Viram “crentes do rabo quente” apenas porque conversam com as pessoas, se interessam e sorriem, são felizes.
A única mulher que um cara nunca vai considerar uma vadia é a mãe. A própria, é claro, porque a dos outros já fez barbaridades por aí. Imagina só, fez até sexo para engravidar! ;)
O que precisamos entender é que esse é um tipo de violência silenciosa. Você está sendo agredida. E qual o motivo? Ser mulher. Se você fosse um homem, ninguém julgaria sua vida sexual, suas decisões – talvez julgassem suas negativas, o que também precisa mudar, já que ninguém tem obrigação de nada.
Existem mulheres que propagam esse pensamento? Claro! Todos vivemos no mesmo meio, e ele influencia nossas decisões. Mas é aí que temos que nos perguntar, a cada vez que formos usar a palavra: o que eu quero dizer com isso? O que estou julgando? Tenho esse direito?
E quando você for chamada de vadia, porque você vai, saiba que isso não quer dizer nada demais. Só mostra que você colocou suas vontades e desejos em primeiro lugar ao invés de privilegiar outra pessoa. Num mundo perfeito diriam que você é decidida e tem amor próprio – continue assim!
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A quem interessa uma mulher submissa?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – ter, 18 de dez de 2012 08:58 BRST

Você gosta de pessoas omissas? (Foto: iStock)
Ontem diversas pessoas me mandaram o link de um vídeo chamado "Como ser submissa a uma pessoa omissa?". Pois é, quem conhece esse blog sabe muito bem que só de ler o nome já tive calafrios.
A primeira pergunta que me fiz foi: por que estar com alguém omisso? Se a pessoa é omissa é porque não está interessada em você, não se importa e não quer se importar, então, por que raios você dedicaria sua vida a isso?
Leia também:
Aí a gente lembra da primeira parte do nome do vídeo "como ser submissa". Essa é a hora de respirar fundo. Não estamos falando de submissão sexual por prazer ou diversão, estamos falando de ser uma pessoa que abaixa a cabeça às decisões, presença, ideias e vontades do outro. No meu mundo não tem como ser feliz desse jeito, apagando quem você.
A crença ali é que, da porta de casa pra fora, você deve ser uma mulher forte, incrível, de atitude. Mas dentro de casa deve ficar bem quietinha e mostrar que meu marido é o rei do mundo.
Para piorar, estamos falando de religião. E quando o assunto é religião as pessoas deixam de pensar e simplesmente aceitam o que está sendo dito por um "enviado de Deus".
Não sei de onde as pessoas tiraram essa interpretação de que mulher tem que servir o homem — apesar de entender muito bem que tem gente ganhando muito com isso. Minha educação religiosa — sim eu tive, não vim do inferno como muitos pensam, e é por isso que me sinto à vontade para falar de religião — não teve nada desse papo.
Escolhi algumas partes do vídeo para discutir aqui com vocês e ver se salvamos algumas almas do lado de cá.
O homem é omisso porque a mulher é forte demais
O primeiro assunto que elas tratam é o homem omisso. E uma das participantes faz rapidinho o desserviço de dizer que — frisando que não quer generalizar - quando um homem é omisso é porque a mulher é independente demais.
Então, além de você ter que passar a vida ao lado de um cara que não dá a mínima pra você, ainda é bom lidar com a culpa, afinal, é tudo culpa sua, mulher competente.
Vou contar um segredinho pra vocês: sabe por que o homem é omisso? Porque ELE é omisso. Você não tem nada com isso. É um problema dele, que só ele pode resolver. E meu conselho seria: deixe-o sozinho para pensar no assunto.
Mudança de papel
Aí vem o papo de que você pode, sim, ser forte na rua, no trabalho e na vida social, mas tudo deve mudar dentro de casa. Em casa você deve ser uma linda mulher do começo do século que espera seu marido de banho tomado, linda, de unhas feitas, depilada, com a casa limpa por você mesma e ainda com aroma de uma deliciosa torta de frango que você preparou.
O que? Você não consegue dar conta de tudo isso? É por isso que seu casamento vai mal...
Ops, piada, gente!
Você não é mãe do seu marido. Você não é paga para limpar a casa. E você não é modelo de biquíni para estar sempre linda, sensual e depiladíssima. Você é uma pessoa que tem muitas responsabilidades e não vive apenas para agradar seu homem. Certo?
É claro que, de vez em quando, você pode fazer uma surpresa. Um jantar, roupinha especial, lingerie nova, depilação incrível (ou não, se você preferir). Assim como ele também pode fazer essa mesma surpresa.
A beleza da vida é essa: ser surpreendido. Se o cara quer alguém que tenha um escalda pés pronto a cada vez que ele passa pela porta é melhor contratar uma governanta.
"Criando filhas não para serem esposas, para serem mães, mas para sua carreira profissional"
Essa aqui doeu no fundo da minha alma. Vocês sabiam que está errado passar em primeiro lugar numa grande universidade, meninas? Sabiam também que conquistar um bom emprego, um bom salário e comprar seu próprio carro e casa não é desejável? Sabe por que não?
Porque você não se empenha em casar. Aí vai acabar ficando com um cara interesseiro. E é claro que não é ele que está errado em ser interesseiro, você que está pedindo isso sendo tão competente, né? Pfffff.
Pior do que isso só se sobrar um cara divorciado. E sabe como é, esses caras que têm coragem de acabar com um casamento que não faz uma — ou ambas — parte feliz não prestam mesmo... (Até parece)
O que sinto é que essas mulheres simplesmente odeiam mulheres e não querem que ninguém seja feliz de verdade. Ou a interpretação de texto delas tá muito ruim. Ou elas seguem ordens bem claras dos homens que comandam certas religiões.
"É muito importante que as meninas aqui sonhem ser esposas"
E lá vamos nós para o papo de que toda mulher quer casar e ter filhos. Não, nem toda mulher quer casar e ter filhos. Algumas querem só casar. Outras querem só ter filhos. Outras querem ser freiras, viver reclusas, curtir a vida, fazer sexo sem compromisso pra sempre, amar alguém e morar em casas separadas...
Note outra coisa: a menina não precisa sonhar em casar, mas sim em ser esposa. A diferença não é banal. Se a menina sonha em casar, ela sonha com algo em que duas pessoas são importantes. Quando ela sonha ser esposa, ela sonhar em ser algo de alguém e topa, numa boa, se anular para fazer outra pessoa feliz.
"A espera pelo pai no final do dia é muito importante"
Esse momento chega a ser engraçado pra não dizer trágico. Elas acreditam que, assim que o homem cruza a porta de casa, a mulher e os filhos devem correr em sua direção e gritar "papai, papai". Sério mesmo?
A única explicação para uma cena dessa é filme demais na cabeça.
Honrar o marido
Não, você não honra seu marido sendo fiel, companheira e cúmplice. Você honra seu marido o esperando em casa na hora que ele chega e mudando o canal da TV pra que ele decida o que assistir. Faz sentido pra você?
E ele, precisa te honrar ou tudo bem ser daqueles que leva clientes da empresa em casas de prostituição porque faz parte do trabalho dele, por exemplo?
"Compreensão de quem é o homem no contexto da família"
O homem, no contexto familiar, é igual a mulher. Só que ele tem pênis. Essa deveria ser a explicação delas caso a intenção fosse uma família feliz.
Mas o que elas acreditam é que o homem é o Deus dentro da casa e que você, mulher, é só um teco da costela dele e deve ser lembrada disso por toda a eternidade. Alguém precisa explicar o Big Bang para essa gente...
O vídeo é esse aqui, caso você tenha paciência e estômago para assistir tanta besteira. Ah, depois dele, aproveite pra assistir o que fala sobre roupa e descubra que a anágua — sim, isso ainda existe — é um coringa no guarda-roupa.
Adendo
Ok, você quer ser submissa, acha que vai ser mais feliz assim e que é essa a melhor maneira de ter um relacionamento de sucesso? É um direito seu, claro. Mas busque entender por que as mulheres eram submissas antigamente e por que tudo isso evoluiu para a sociedade que temos hoje.
Você pode ter tudo o que quiser: um casamento feliz, um trabalho interessante e bem remunerado, filhos e amigos. Tudo ao mesmo tempo. Não é sua obrigação cuidar de tudo e você pode, sim, pedir para que seu marido participe de todos os processos que envolvem a casa e a criação dos filhos. Isso se chama família.
O que o vídeo nos mostra é que o homem, mesmo não sendo presente e participativo, deve ser colocado pela mulher para os filhos como um herói. Mas uma hora os filhos crescem e passam a pensar sozinhos. Muito pior do que colocar seu marido para fazer o que deve ser feito é ver a ilusão dos seus filhos se desmoronando frente a realidade.
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De quem é a culpa da violência contra a mulher?
Por Carol Patrocínio | Preliminares – qui, 10 de jan de 2013 15:37 BRST

Você acredita que a mulher é culpada pela violência contra ela? (Foto: iStock)Os últimos meses foram especialmente difíceis para as mulheres. E qualquer pessoa que sinta amor pelo próximo, compaixão e acredite num mundo melhor, ficou chocada com os crimes bárbaros dos quais vou falar agora.
No Ocidente, temos o costume de nos acharmos civilizados e intelectualizados, mas nem sempre a maneira como nos enxergamos reflete o que realmente somos. Os dados abaixo são de diversas partes do mundo e nos deixa claro que, apesar do problema ser o mesmo, a reação das pessoas não é. Aceitar o que acontece é, sempre, uma opção.
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Vamos falar aqui sobre o corpo feminino e todas as reações que ele desperta, as relações de poder, de desejo, o respeito e os abusos que permeiam nossa experiência de sair de casa todos os dias. Vamos falar basicamente da violência sofrida por um único motivo: ser mulher.
Estupro coletivo
Depois de ir ao cinema com o namorado, Jyoti Singh Pandey, uma estudante de medicina, entrou no ônibus para voltar para casa. O casal encontrou um grupo de homens que achou que não havia problema espancar o rapaz e estuprar a garota. Além de ser abusada sexualmente repetidas vezes, ela foi agredida com um barra de ferro e depois atirada do veículo seminua junto com sua companhia.
Jyoti foi levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos, três cirurgias e uma parada cardíaca e faleceu após alguns dias. Os réus, apesar de terem sangue da vítima em suas roupas e terem os rostos do retrato-falado, declaram-se inocentes.
O caso incitou manifestações e levou pessoas às ruas para pedir mais segurança às mulheres, o que fez com que a investigação ocorresse mais rapidamente e medidas de melhoria estejam sendo estudadas pela polícia. Em 2011 foram registrados 568 estupros em Nova Délhi.
Homens da lei
Viviane Alves Guimarães Wahbe foi a uma festa do trabalho. A estagiária do escritório Machado Meyer, um dos maiores do país, que estudava direito na PUC, escreveu um relato sobre aquele dia. Ela conta que bebeu duas taças de champanhe e não lembra das coisas, o que tinha na cabeça eram flashs. Esses flashs a mostram sendo estuprada. Nos relatos, ela escreveu que havia sido drogada e estuprada.
A festa aconteceu no dia 24 de novembro, a família disse ter notado sua mudança de comportamento já no dia seguinte e, em 3 de dezembro, a jovem se matou atirando-se do 7º andar do prédio em que morava.
No Brasil, o caso não repercutiu. A morte só foi divulgada no dia 30 de dezembro, apesar de ouvir-se entre jornalistas que a informação já estava correndo nas redações dos maiores jornais de SP. Por aqui não houve manifestações, ninguém pediu justiça e o caso corre em segredo de justiça, como tantos outros que envolvem ricos e poderosos.
A culpa é delas
Apesar dos pedidos de justiça e de mudanças na sociedade que aconteceram na Índia, um guru espiritual chamado Bapu ganhou o papel de vilão nessa história, por mais que isso possa ser assustador. De acordo com a imprensa indiana, ele disse que a vítima deveria ter sido mais gentil com os violentadores, se quisesse preservar sua vida. "Apenas cinco ou seis pessoas não são réus. A vítima é tão culpada quanto os seus estupradores. Ela deveria ter chamado os agressores de irmãos e ter implorado para que eles parassem. Isto teria salvado a sua dignidade e a sua vida. Uma mão pode aplaudir? Acho que não”.
Culpar a mulher por ser vítima de violência não acontece apenas entre religiões orientais. O padre Don Piero Corsi, da cidade de San Terenzo, na Itália, afixou na porta da igreja um comunicado dizendo que a culpa é das mulheres. De acordo com ele, “as mulheres com roupas justas se afastam da vida virtuosa e da família e provocam os piores instintos dos homens”. Além disso, disse que o homem fica louco porque as mulheres são arrogantes e autossuficientes.
Mas esse pensamento não é novo. Ele foi o principal impulso para a Marcha das Vadias, que acontece anualmente em diversos países, e pede respeito, mostrando que a mulher pode ter a vida sexual que quiser e vestir a roupa que escolher sem precisar ter medo de ser violentada.
Eugenia* moderna
Uma juíza decidiu que, levando em conta os dados socioeconômicos de uma mulher de 27 anos de Amparo (SP), que sofre retardamento mental moderado – o que significa uma pequena regressão intelectual –, o melhor, para a sociedade, seria que ela passasse por uma laqueadura e se tornasse estéril.
Durante todo o julgamento, a mulher, que não tem filhos e não tem nenhum aborto ou problemas relacionados a gravidez informados, deixou clara sua vontade de, no momento certo e com o companheiro certo, ter filhos.
Ainda assim o julgamento ocorreu, a obrigaram a usar o DIU como método contraceptivo e, no último mês, quando o dispositivo precisaria ser trocado, a paciente fugiu alegando medo de que a laqueadura fosse feita contra sua vontade.
A Defensoria Pública trabalha, agora, para que a decisão seja revertida e os direitos constitucionais da mulher sejam respeitados.
* Eugenia é um controle para que só se reproduzam pessoas com certas características físicas e mentais. A ideia é que assim seriam evitados todos os tipos de deficiência. Esse foi um artifício usado por Hitler durante o Nazismo.
Dados nacionais
Uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal Correio da Paraiba aponta que nos estados da Paraíba, Rio de Janeiro e Tocantins, 67% das pessoas acreditam que a violência contra a mulher é culpa dela mesma, e 64% acreditam que esse tipo de violência não deve ser combatida.
Essa violência citada no estudo não fala apenas sobre a questão sexual. Ela é também a violência doméstica, os maus tratos conjugais e a humilhação praticada pelo parceiro. Segundo dados da Fundação Perseu Abramo, a violência conjugal atinge um terço das mulheres em áreas de SP e PE. A cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem no Brasil.
Em relação a violência sexual, 1 bilhão de mulheres, ou uma em cada três do planeta, já foram espancadas, forçadas a ter relações sexuais ou submetidas a algum outro tipo de abuso.
E como isso mexe com a sua vida?
Mexe em todas as relações que você trata diariamente, seja comprando o café da manhã na padaria, dentro do transporte público lotado, ao voltar para casa de noite, quando sai do trabalho, ou quando você começa um novo relacionamento amoroso.
O problema do abuso é tão presente na nossa sociedade, tão aceito e cheio de desculpas, que não é percebido com facilidade. Existe estupro dentro de um casamento. Existe abuso sexual quando um homem acredita que pode “encoxar” uma mulher no metrô. Existe abuso emocional quando o homem humilha sua parceira. E nós não podemos simplesmente aceitar.
O corpo da mulher não é dela. O corpo da mulher, na nossa sociedade, é visto como um meio de satisfazer desejos e expectativas. Ele é feito para dar satisfação sexual, trazer filhos ao mundo e servir a classe dominante.
Os reflexos disso na sociedade são como o caso acima em que a mulher não tem o direito a ter filhos, assim como as mulheres não têm direitos a não quererem ter filhos. Na Índia, meninas são mortas ao nascer. No Brasil, elas morrem diariamente pelos abusos sofridos. Nossos mundos não estão tão distantes como muita gente acha.
É obrigação de cada pessoa lutar por uma sociedade respeitosa, que garanta dignidade a todas as pessoas, independentemente do seu gênero. A violência não é culpa da vítima e essa mentalidade precisa ser combatida.
Para fechar, deixo aqui um e-mail que recebi por causa da coluna e que me deixou com lágrimas nos olhos. Misoginia é o ódio e o desprezo pela mulher apenas por ela ser mulher. Não é uma doença ou um problema psicológio e emocional, é uma escolha, uma maneira de ver o mundo e lidar com as pessoas a sua volta. E talvez seja um dos maiores males modernos e culpados pela sociedade agressiva em que vivemos.
“Olá Carol. Gostaria que você escrevesse sobre misoginia. Como vivem mulheres que são casada com misóginos; se elas apresentam quadros de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, causados pela alta pressão em que vivem, e com o pouco afeto que recebem, principalmente as que não têm filhos. Também poderia ser pesquisado se este tipo de personalidade tem cura. Seria possível ele se reconhecer como doente, que precisa de ajuda. Se não qual a melhor forma de lidar com os misóginos para não adoecer com ou por causa do seu comportamento, ou se só resta o divórcio como solução. Obrigada pela atenção”.
A única saída para essa e tantas outras mulheres é a mudança da sociedade inteira. E essa mudança começa nas suas mãos. De que mundo você quer fazer parte?
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