sexta-feira, 10 de maio de 2019

Reforma da Previdência - a controvérsia entre os interesses da nação e os interesses do mercado financeiro de SINPRO DF


Governo e mídia usam fake news e terrorismo para convencer e intimidar população a aceitar reforma da Previdência
  • Jornalista: Maria Carla
  • 15 de abril de 2019
Está prevista para ser entregue, nesta terça-feira (9), o parecer do relator da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Marcelo Freitas (PSL-MG), sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2019 (reforma da Previdência). O parecer é favorável à PEC que visa a fazer profundas mudanças conceituais no Sistema de Seguridade Social, o qual é formado pela Saúde, Assistência e Previdência Social.
O governo federal atua com fake news para manter a população desinformada e até mesmo confusa sobre gastos e despesas da Previdência Social. Omitem todos as informações reais sobre o Sistema de Seguridade Social do qual a Previdência faz parte. Além de desinformar e confundir, tentam também aterrorizar as pessoas para que elas pensem que a Previdência está falida e que precisa de uma reforma que modifique sua concepção solidária entre gerações.
A mídia trabalha diariamente para convencer a população dessa reforma. Faz pressão de todo tipo e usa fake news para aliciar os(as) trabalhadores(as) a fim de que ele se compenetre de que será beneficiada com a PEC 06/2019. Outro terrorismo psicológico com a classe trabalhadora é dizer que, se a reforma não for materializada, não haverá recursos financeiros para aposentadoria no futuro e o desemprego irá aumentar.
Também ameaça os(as) brasileiros(as) ao dizer que as oscilações do dólar e da Bolsa de Valores estão diretamente ligadas à falta da reforma da Previdência. Insiste em convencer a classe trabalhadora de que, se não houver reforma da Previdência, o Brasil não voltará a se desenvolver.
Nada disso é verdade. A diretoria colegiada do Sinpro-DF alerta para o fato de que é justamente o contrário: não haverá aposentadoria para todos se a reforma de Bolsonaro for aprovada e informa que a reforma da Previdência não tem nada que ver com as oscilações do mercado financeiro e muito menos com as variáveis econômicas denominadas de “emprego” e “desemprego”.
“É importante as pessoas saberem que a mídia se esforça para asseguram aos banqueiros a reforma da Constituição para abocanhar os superávits da Seguridade Social. Não respeitam nada nem ninguém ao divulgarem falsas notícias e análises mentirosas com argumentos dissimulados para insuflar o terrorismo no país e as pessoas aceitarem a jogada do mercado financeiro de privatizar o direito social à previdência social pública”, alerta.
A diretoria lembra que a mídia atua agora, na reforma da Previdência, como agiu na reforma trabalhista, dizendo que se a reforma não fosse aprovada o desemprego iria aumentar e que, com a reforma trabalhista o mercado de trabalho voltaria a ofertar emprego aos brasileiros. As pessoas creram e o resultado é que a reforma trabalhista não gerou nenhum emprego e destruiu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regredindo e piorando em mais de 100 anos as relações trabalhistas no Brasil.
Emprego e desemprego não tem nada que ver com a reforma da Previdência
Alexandre Sampaio Ferraz, economista, doutor em ciência política e técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que, diferentemente do anunciado pela mídia, sobretudo pela Rede Globo, o desemprego do Brasil não tem nada que ver com a reforma da Previdência.
Ele assegura que, ao contrário do que diz a mídia, a relação entre o desemprego em alta no Brasil e a necessidade de se fazer uma reforma da Previdência no Brasil é nulo. “Não tem relação entre a reforma da Previdência e o desemprego porque o país teve um crescimento brutal do emprego entre 2004 e 2014 em reforma da Previdência. A reforma feita em 2003 foi feita para combater privilégios, que foi importante. Emprego e desemprego não têm nada que ver com reforma da Previdência. Emprego e desemprego é uma variável macroeconômica e tem que ver com o crescimento ou com a crise econômica”, explica.
Reforma da Previdência não tem nada que ver com a crise econômica e com o desemprego
Ao contrário do que diz a mídia, a crise econômica, por sua vez, também não tem nada que ver com a reforma da Previdência. Uma parte da crise econômica tem que ver com a crise de confiança que levou à crise de investimentos no país, que tem que ver com alguns erros de política econômica com a crise do capitalismo desde 2008.
“Nossa crise econômica, em parte, é fruto de coisas como a Operação Lava Jato, o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Ela é uma crise de confiança dos investidores. O país está à deriva, sem projeto e não é a reforma da Previdência, assim como não foi a reforma trabalhista, que vai gerar emprego no país”, afirma.
O economista diz que não é preciso fazer reforma da Previdência para resolver o problema do desemprego, mas alerta para o necessário monitoramento do Sistema de Seguridade Social e da Previdência.
Proposta de Bolsonaro para Previdência não corrige distorções e deprecia baixos salários
“O país deve sim se preocupar, no futuro, com a Previdência porque ela precisa de aperfeiçoamento constante. Se a situação demográfica do país muda, é preciso repensar a Previdência. Mas isso não justifica uma mudança profunda como esta proposta pela PEC 06/2019, de Jair Bolsonaro, que desmonta a Seguridade Social”, alerta o economista.
Ele lembra que foi justamente para adaptar a Previdência às novas realidades do país que o governo Lula fez uma reforma da Previdência importante, em 2003, e também foi por isso que o governo Dilma consolidou a reforma para os funcionários públicos da União em 2013. “Tudo feito sem mexer na concepção e nem ameaçar de desmonte o Sistema de Seguridade Social”.
Ferraz diz que “é preciso continuar pensando em modificações que busquem corrigir os problemas da Previdência que o país possa vir a ter. Mas isso não passa por nenhuma mudança do modelo previdenciário de repartição solidário que temos no Brasil. Isso passa pelo combate dos privilégios que, de fato, existem. Tem pessoas que aposentam com R$ 90 mil, R$ 40 mil”, denuncia o economista.
Ele esclarece que a atual proposta de reforma da Previdência não busca corrigir esse tipo de distorção. Ao contrário, busca depreciar o benefício do trabalhador que ganha salário mínimo e que esteja na faixa salarial entre R$ 1 mil, R$ 2 mil, R$ 8 mil, que não é o trabalhador privilegiado. Ele observa que, antes de o governo ilegítimo de Michel Temer executar a reforma trabalhista, políticos e empresários acusavam as leis que defendiam a classe trabalhadora de serem as responsáveis pelo desemprego.
Após a reforma, ficou provado que não eram as leis. Tanto é que nos governos Lula, com a CLT em pleno vigor, o desemprego caiu para 5,7% em relação ao governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que chegou a 12,2% no fim do governo, bem como em comparação ao governo ilegítimo de Temer, com 13,1%, e com o governo Bolsonaro, com 12,4% de desempregados no país em março de 2019.

A "ilusão" dos economistas liberais de SINPRO DF


Fiori: a impotência dos economistas liberais
  • Jornalista: Maria Carla
  • 11 de abril de 2019
A produção declina, o desemprego volta a crescer, os investimentos não voltarão tão cedo. Mas eles insistem na miragem “Reforma da Previdência” – como se quisessem voltar a Pinochet, aos banhos de sangue, ao fascismo de mercado.
“Quem diria que no começo do mandato de um governo liberal ele iria sancionar subsídios e discutir a retomada de proteções setoriais. Não é só a tarifa do leite, é a proteção de bens de capital”.
Marcos Lisboa, O Globo, 18/02/2019
Súbito, fez-se o consenso, e já não é mais possível tapar o sol com a peneira: no primeiro trimestre de 2019, a economia brasileira entrou em marcha forçada na direção do colapso. Em apenas três meses, o mercado reduziu quatro vezes seguidas seu prognóstico com relação ao crescimento do PIB de 2019, que caiu de 3% para 1.8%. E tudo indica que seguirá caindo, tanto que o próprio mercado reconhece que não haverá retomada dos investimentos neste ano, qualquer que seja a circunstância. Pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (o IBC-BR), a economia brasileira recuou 0,41% no mês de janeiro, enquanto a produção industrial despencava 0,8% no mesmo mês, segundo o IBGE. No acumulado do trimestre, o preço da gasolina subiu 28,3% e, no mês de março, a produção de veículos caiu 6,4% com relação a fevereiro, enquanto a capacidade ociosa da indústria química chegou a 25%, e a da economia brasileira ronda os 40%. A taxa de desemprego subiu de 11,6% para 12,4%, e o número de desempregados chegou aos 13 milhões, com aumento de um milhão em apenas três meses, numa economia que já tem 27,9 milhões de subempregados, em uma sociedade que voltou a ter 21% da sua população abaixo da linha da pobreza. Por fim, as receitas federais e o otimismo dos empresários e da população vêm caindo de forma acelerada e contínua.
Tudo isto poderia ser apenas um soluço econômico, mas não é. Na década de 2011 a 2020, a taxa média esperada do crescimento anual da economia brasileira deverá ser de apenas 0,9%, segundo estudo publicado pelo IBRE, da Fundação Getúlio Vargas. Uma taxa média menor que a da década de 80, que foi de 1,6%, e por isso chamada de “década perdida”. Segundo esse mesmo estudo do IBRE/FGV, o crescimento médio desta década deverá ser o pior dos últimos 120 anos da história brasileira, implicando um empobrecimento anual dos brasileiros na ordem de 0,3% do PIB ao ano. E não há no momento a menor perspectiva de reversão deste quadro, com a taxa de investimento da economia brasileira girando em torno dos 15,5%, taxa muito inferior à do Chile ou do México, que está na casa dos 20%, e muitíssimo inferior à taxa de investimento de alguns sócios brasileiros do BRICS, como é o caso da China, que investiu 44,18% do PIB em 2018, ou mesmo da Índia, que investiu 31,4% no mesmo período, segundo dados do FMI.
Uma situação que fica ainda mais difícil para o Brasil, num momento em que o mercado mundial de bônus vem caindo, sobretudo no caso dos bônus do governo alemão e dos títulos do tesouro norte-americano, tornando os investidores internacionais cada vez mais reticentes, apesar do afrouxamento da política monetária do BCE e do FED. O economista Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano, considera que a economia mundial está entrando num longo ciclo de “estagnação global”, enquanto outros economistas falam do descenso de mais um ciclo de Kondratiev, mas a consequência é a mesma: para sair do buraco nessa conjuntura internacional, o Brasil terá que contar com seus próprios recursos e estímulos, para poder crescer de maneira contínua, a taxas de 3 e 4%, em um período de pelo menos 5 a 10 anos. É a única forma de absorver a capacidade ociosa e eliminar o desemprego, retomando o caminho do crescimento indispensável para que uma economia “atrasada” ou “imatura” consiga vencer sua miséria, reduzir sua desigualdade social e participar, em igualdade de condições, da competição entre as nações pela riqueza mundial.
Para enfrentar esse desafio, os economistas liberais têm uma proposta simples e recorrente: reformar a Previdência, privatizar empresas estatais e fazer reformas institucionais que abram e desregulem os mercados. Com relação à proposta de privatização da Previdência, balanço recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) constata que dos 30 países que fizeram a mesma reforma, entre 1981 e 2014, 18 já voltaram atrás em decorrência do fracasso de seus novos sistemas de capitalização, iguais ao que está sendo proposto no Brasil. E a própria reforma chilena, que foi concebida pelo economista José Piñera, do grupo dos Chicago Boys, e depois imposta por decreto ditatorial do General Pinochet em 1981 (ou seja, oito anos depois do golpe militar de 1973), hoje vem sendo questionada de forma cada dia mais agressiva, por uma verdadeira massa de idosos, pobres ou miseráveis, frustrados com os resultados desastrosos do novo sistema.
De qualquer maneira, independentemente do seu custo social e do seu verdadeiro impacto fiscal, o que importa destacar é que a privatização da Previdência não tem, nem nunca teve, nenhuma conexão direta com a taxa de investimento da economia, e portanto também não tem nenhuma capacidade de induzir crescimento econômico. E tudo o que os economistas liberais dizem sobre este assunto envolve uma especulação mágica e psicológica sobre as “expectativas dos investidores”, que não tem nenhuma base teórica nem evidência empírica, inclusive porque os “investidores” já podem ter perdido sua “confiança” e seu “interesse” na “sobre-oferta” mundial de reformas da Previdência. Por outro lado, a privatização das demais empresas estatais só gera recursos do tipo once for all, e não garante nenhum tipo de investimento posterior dentro da economia brasileira.
O mesmo pode ser dito com relação às demais “reformas” de que falam os economistas liberais, visando desregular e abrir os mercados. Qualquer economista, de qualquer tendência teórica, sabe que nenhuma dessas reformas irá reacender, por si mesma, o “animal spirit” dos investidores, capaz de recolocar a economia brasileira na trilha do crescimento. Deste ponto de vista, é bom olhar para a experiência recente da Argentina de Mauricio Macri, que depois de três anos adotando políticas ortodoxas e reformas liberais – incluindo a reforma da Previdência – teve um crescimento negativo do PIB de 2,5% em 2018, e tem uma previsão de queda de 3,1% para 2019. Um resultado desastroso, que se soma a uma taxa de inflação que está na casa dos 47%, com um desemprego de 9,1 % e com 32% da população argentina situada abaixo da linha de pobreza.
Nada disso, entretanto, parece atingir ou afetar a inabalável crença dos economistas liberais, no cálculo utilitário do homo economicus, na existência de mercados abertos e desregulados, e na possibilidade de separar a economia capitalista do poder do Estado. É quase impossível para um economista liberal entender e aceitar que a economia envolve relações sociais de poder, e é parte de uma luta pela riqueza entre as grandes corporações e os grandes Estados nacionais. Os economistas liberais raciocinam como se estivessem no ponto zero da história, dentro de uma economia homogênea e com atores equipotentes quando, de fato, vivem numa sociedade que já é, de partida, desigual e heterogênea, envolvendo interesses econômicos e sociais excludentes e conflitivos. E tudo isto dentro de um sistema internacional em que os grandes Estados se valem de suas economias nacionais como instrumentos na sua luta pelo poder e a riqueza internacionais.
Dentro deste pensamento abstrato e irreal dos economistas liberais, é um grande passo teórico e um avanço realista a redescoberta da teoria estatal da moeda, de Georg Knapp, com o reconhecimento da relação indissolúvel entre o poder e a moeda – mesmo quando seja necessário acrescentar ao raciocínio de Knapp que a autonomia econômica dos Estados com relação ao manejo de suas próprias moedas também depende da sua posição dentro da hierarquia mundial do poder político e militar. Mas este já seria outro assunto e outra discussão.
Por isso voltemos ao ponto central do nosso argumento quanto à impotência da resposta dos economistas liberais frente ao desafio que o Brasil está enfrentando neste final da segunda década do século XXI. Do nosso ponto de vista, como já dissemos, os economistas liberais partem de premissas teóricas que desconhecem a complexidade do mundo real, nacional e internacional, e defendem um pacote de “reformas” que não leva em conta a heterogeneidade dos interesses e as hierarquias de poder que separam e contrapõem os capitais individuais e as classes sociais e, finalmente, propõem políticas e medidas que não foram concebidas para promover o crescimento acelerado de países “atrasados” ou “imaturos”. Isso talvez ajude a entender por que os empresários e economistas liberais sejam sempre os primeiros a ser chamados, mas sejam também os primeiros a ser dispensados pelos governos brasileiros que nasceram dos golpes militares – de 24 de outubro 1930, de 19 de novembro de 1937, de 29 de outubro de 1945, de 24 de agosto de 1954 e de 31 março de 1964.
No sentido inverso, talvez também sejam essas mesmas recorrências históricas do passado que expliquem a paradoxal admiração contemporânea de alguns economistas liberais brasileiros pelo Sr. Augusto Pinochet, a figura por excelência de governante violento, ignorante e corrupto, que se dedicou durante 15 anos à eliminação física de seus adversários e de toda a atividade política dissidente do seu país. Um verdadeiro “banho de sangue” que permitiu, em última instância, que os Chicago Boys chilenos pudessem impor ditatorialmente suas políticas e reformas, por cima de 3 mil pessoas mortas e mais 20 mil chilenos torturados, em nome do regime que outro economista norte-americano, Paul Samuelson, chamou de “fascismo de mercado”.
Artigo de José Luís Fiori | Imagem: Salvador Dalí,O sono (1937) | Fonte: Outras Palavras