sábado, 29 de junho de 2019

Pare e pense

Divulgando da companheira Goretti SINPRO DF


FEMINISMO SALETE Gorett
Salete é minha amiga pessoal, mestre em direito, doutora em gênero e feminismo. Penso como ela: “A dominação masculina (também conhecida como patriarcado) é tão estrutural, tão profunda, tão nefasta e tão escrota, que consegue articular uma diversidade de vozes, discursos, interesses e sujeitos sociais numa mesma direção e propósito, qual seja: a manutenção do status quo de gênero e dos privilégios dos homens, independente de serem eles anônimos ou famosos, sobretudo, quando apontados como violadores dos direitos humanos das mulheres, em contextos de acusações falsas ou comprovadamente verdadeiras. O trunfo patriarcal é que, a priori, os homens tem, historicamente, merecido respeito e credibilidade pelo simples e só fato de serem homens, ao passo que as mulheres tem menor valor social em distintos contextos culturais. Ponto. É por isso que mesmo num país onde há elevadíssimos índices de violência de gênero (especialmente feminicídios) e inúmeros crimes sexuais com autoria e materialidade COMPROVADAS contra mulheres e meninas, há quem tente (inclusive com argumentos jurídicos, invocados como tecnicamente neutros) tornar natural e até "prudente" a "garantia" da inocência masculina antes e acima de qualquer coisa, ao passo em que virou regra suspeitar e até detonar com qualquer mulher que ouse denunciar qualquer homem por práticas violentas e/ou abusivas. E, se neste momento as vozes que se levantam (pagas ou não) são, em sua maioria, em prol do "menino Neymar" [e todas são eloquentes e midiaticamente avaliadas como merecedoras de crédito, independente das provas ou do desenrolar de um eventual processo criminal], isto só corrobora o quão eficiente são os artifícios patriarcais e suas infinitas trampas e possibilidades, que visam sempre confundir até mesmo os/as mais ferrenhas opositores/as deste sistema de opressão/exploração de vidas, corpos e vontades femininas. Eis porque todos agora falam e creem em convicções, até mesmo os/as que outrora questionavam este absurdo "meio de prova" processual. E isso explica porque o próprio Neymar, o pai de Neymar, o PRESIDENTE DA REPÚBLICA que também "põe a mão no fogo por Neymar", o canal de televisão que se coloca a favor de Neymar, os fãs de Neymar, os amigos de Neymar, a advogada feminista que defende Neymar e até os ex-advogados da mulher que acusa Neymar consideram que estão todos antecipadamente certos, já que "a verdade social e real está com eles", independente do que será provado posteriormente... A única dúvida que está sendo convertida quase que num consenso nacional, é quanto à índole da mulher que está acusando Neymar, pois sua palavra, sua imagem, sua vida pregressa, seus desejos e seus direitos merecem ser questionados profundamente, antes que qualquer coisa, porque ela só pode estar errada (e não há outra possibilidade, porque ela é uma mulher), como todas as outras, inclusive as vítimas dos crimes sexuais que só foram descobertos porque houve flagrante delito, como os estupros ocorridos dentro das casas de famílias tradicionais. Ponto. E embora eu não esteja afirmando que há sempre uma "verdade única, absoluta e inquestionável" na palavra de todas mulheres, o que está em discussão é a naturalização do julgamento prévio das mulheres, o linchamento moral e as certezas absolutas em favor dos homens, neste e em todos os demais casos. Ademais, apesar desta situação ter maior visibilidade porque Neymar é um ídolo do futebol internacional, isto não afasta a presença do privilégio de gênero em todas as outras situações de denúncia de crimes sexuais, pois os tais privilégios masculinos também operam a favor do José de Tal que anonimamente responde processo de estupro, inclusive de vulnerável, nos mais recônditos municípios interioranos do Brasil, conforme pude verificar em diversos casos que acompanhei como advogada de vítimas durante anos e anos de advocacia feminista e libertária, sem qualquer arrego. Isto dito, reafirmo que precisamos seguir enfrentando esta cultura patriarcal antes que ela, articulada com as inúmeras ofertas e seduções capitalistas, coopte mais pessoas que lutam, palestram e/ou advogam em defesa dos direitos das mulheres...Sigamos!”