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O fantasma sai de cena
5 de maio de 2016
Para
o governo petista, é tarde – como presidente da Câmara e condutor do
processo do impeachment, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já havia feito o
estrago que Dilma Rousseff e aliados (os que sobraram) temiam que fizesse.
Para
Michel Temer, seu colega de partido, é o melhor dos mundos. Confirmado o
afastamento da presidenta, o vice assume o comando do país a certa
distância de um réu no Supremo Tribunal Federal como substituto imediato
na linha sucessória. Um réu acusado de receber U$ 5 milhões em propinas
de contratos de navio-sonda da Petrobras e alvo de três inquéritos,
três pedidos de inquéritos e uma denúncia da Procuradoria Geral da
República.
Para o ministro do STF Teori Zavascki, que afastou Cunha do mandato
– e consequentemente da presidência da Câmara – pesou contra o
“delinquente”, nas palavras do procurador-geral da República, 11
situações que comprovariam o uso do cargo para “constranger, intimidar
parlamentares, réus, colaboradores, advogados e agentes públicos com o
objetivo de embaraçar e retardar investigações”.
Foram quatro meses para avaliar o óbvio, mas Zavascki preferiu divulgar decisão após o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski,
marcar para o mesmo dia uma sessão no plenário para discutir outra ação
sobre Cunha, apresentada pela Rede, que também pedia o afastamento do
cargo.
Até
aqui, Cunha era o grande aliado de Temer e da oposição. Numa situação
tarantinesca, em que todos apontam os revolveres para todos e a única
dúvida era sobre quem daria o primeiro tiro, Cunha negociou sua salvação
no Conselho de Ética da Câmara, na qual era acusado de quebra de decoro
por mentir sobre contas na Suíça, e, sem os votos dos deputados
petistas, vingou-se da presidenta no dia seguinte ao aceitar o pedido de
impeachment encomendado pelos opositores. Era o começo do fim do
governo Dilma.
A
decisão abriu caminho para a solução Temer, 1% das intenções de voto no
Datafolha, 6% das preferências como “solução para crise” no Ibope,
inelegível não pelo carisma de quem não tinha votos para se eleger
deputado, mas pela Lei da Ficha Limpa.
Temer,
no entanto, está prestes a assumir o cargo sem o constrangimento de ter
Eduardo Cunha como “vice”, em tese, e chefe, na prática – pois ao menor
desentendimento Cunha poderia abrir outro processo de impeachment já
enviado à sua mesa, desta vez contra o correligionário, pelos mesmos
argumentos político-jurídicos utilizados contra Dilma. No teatro
político desenhado para o dia seguinte da provável queda de Dilma
Rousseff, trocam-se os pescoços, ficam as facas.
Zavascki
tirou a faca do alcance do vice e poupou a oposição do constrangimento
de salvar a pele do deputado como prêmio aos serviços prestados na
condução do impeachment até aqui.
Fosse
este articulista um juiz, e não um articulista, talvez fosse menor a
tentação de dizer que Eduardo Cunha deveria estar preso, e não apenas
com o mandato cassado. Livre de circulação, ele sai de cena para se
tornar a eminência parda do grupo sobre o qual tem e seguirá tendo
ascendência no Congresso – o que não é pouca coisa.
Basta
dizer que ele será substituído por um aliado de primeira hora: o
deputado Waldir Maranhão (PP-MA), também investigado na Lava Jato. Na
prática, pode seguir no comando pelo telefone.
É
cedo para avaliar como esta relação de forças se dará a partir do
submundo, o lugar de origem do agora deputado afastado. Para quem
acredita que ele sairá de cena, é melhor começar a acreditar em
fantasmas.
Foto: Lula Marques/Agência PT
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