Coronavírus e o Macroorganismo Planeta Terra
A pandemia que estamos testemunhando já foi
anunciada pelos nossos ancestrais. Talvez não exatamente dessa forma, mas
certamente com esses mesmos efeitos de nações não-resilientes e despreparadas.
Uma visão sistêmica da nossa vida, integrada com tudo o que nos cerca, sem
dúvida, facilita compreender esse momento.
O grande mestre da agrofloresta sintrópica, Ernst
Gotsch, costuma dizer que se temos alguma dúvida, basta olharmos para a
natureza. Muitas vezes esquecemos que somos parte desse organismo vivo,
grandioso e inteligente. Vemos a natureza de um lado e nós – homo sapiens,
do outro. Como se fôssemos algo externo a tudo que nos cerca, distantes de
todas as árvores, animais, fungos, bactérias e vírus.
Em 1979, o cientista inglês James Lovelock elaborou
a hipótese de Gaia, que finalmente trouxe a comprovação científica dos saberes
tradicionais sobre a unidade desse sistema que se auto-regula. Posteriormente,
essa teoria foi fortalecida pelos estudos da bióloga norte-americana Lynn
Margulis e o macroorganismo planeta Terra pode ser compreendido de forma muito
mais complexa, embora suas relações residam justamente na simplicidade.
Talvez a nossa grande dificuldade em compreender a
natureza e seus fenômenos seja pelo fato de que não nos consideramos parte
dela. Nosso planeta é um ser em si mesmo e fazemos parte dele como, em nosso
corpo, os órgãos fazem parte de nós. Outra forma de visualizar isso seria como
numa grande empresa – com funcionários, diversas áreas e hierarquias – onde
existem valores específicos e únicos que se complementam para formar uma
corporação de sucesso. Tudo é equipe, tudo é sincronia e cada um tem o seu
valor individual que, somado aos outros, faz a diferença. Na natureza também é
assim e essa, sem dúvida, é uma das grandes mensagens que a floresta nos
transmite, sobre união e parceria.
Imagem: Alice Worcman, Organicidade
Em qualquer plantação, quando alguma coisa não está
em equilíbrio, emergem outros seres que vem para mostrar o que está acontecendo
ali. São elementos bioindicadores, mas, ainda mais do que isso, são fiscalizadores.
Se aparecem formigas, chamamos de praga, mas elas são mensageiras e chamam
atenção para o desequilíbrio. Se aparecem plantas indesejadas, diferente
daquelas que a monocultura do campo e da mente estavam esperando, chamamos de
ervas daninhas, de invasoras. Quando na verdade, em um ambiente saudável, em um
mundo ideal e equilibrado, não existem pragas, tudo são sinais.
Quando nós, seres humanos, estamos em
desequilíbrio, seja físico, mental, emocional ou espiritual, nossa imunidade
baixa permitindo que outros seres venham fiscalizar a nossa saúde também. Eles
servem de alerta, sinalizam rapidamente que algo não está certo com nosso
organismo corpo-mente-alma. Já diz o ditado, “o corpo fala”, não é mesmo?
Nosso macroorganismo planeta Terra está claramente
em desequilíbrio. O coronavírus é um mensageiro, um fiscalizador. Ele traz luz
à falta de resiliência das nossas cidades, à desigualdade do nosso sistema
econômico, à injustiça social, ao individualismo, ao medo. Ilumina todas as
nossas sombras e coloca a todos nós como ameaça constante um para o outro. O
agente fiscalizador traz um perigo que mora no toque, no encontro e na troca.
Mas o ser humano padece de uma doença ainda mais
grave que o COVID-19, a miopia da consciência, que não nos torna aptos a enxergar
os recursos e possibilidades que o universo nos envia. Nos cega diante das
inúmeras oportunidades desse momento e continuamos sem entender que a maioria
das doenças da humanidade vem justamente dos nossos pensamentos, emoções e
ações em total desequilíbrio com a nossa natureza. Quando a gente se distancia
da fonte daquilo que nos adoece, não conseguimos enxergar a cura.
Imagem:
Alice Worcman, Organicidade
Vivemos imersos em uma cultura materialista, onde o
foco dos nossos sentidos se resume ao plano material e à dimensão daquilo que
os olhos podem ver. Nossa medicina ocidental acompanha esse mesmo paradigma e é
exatamente o que nos limita. Nosso mundo está imerso em emoções primitivas e
densas de ganância e ódio, que afetam a saúde do nosso corpo, das nossas
cidades, das nossas florestas, dos nossos oceanos e até do ar que respiramos.
Enquanto não nos educarmos para ver os processos de cura de forma holística e
integrada, percebendo e sentindo que tudo está conectado, o vírus não vai
embora daqui.
Plataforma que tem a missão de desconstruir a
Sustentabilidade, mostrando que pequenas atitudes do cotidiano podem
transformar o mundo.
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