Divulgando...
Boa
tarde povo!
Dia
de Pensamento Inquieto! Continuamos com os textos anunciados na primeira
postagem. Os mesmos serão divididos em várias postagens pra facilitar a
leitura.
Obs.:
Lembrando que temos uma novidade! Se você estiver sem tempo para ler o texto, a
partir de agora disponibilizaremos um link para que você possa ouvir o texto
sintetizado em MP3 (Haverá alguns sotaques visto que são sintetizadores
estrangeiros)! O(s) Link(s) estará(ão) sempre entre o primeiro e o segundo
parágrafo do texto postado.
Degustem!
CONTINUANDO...
Tudo é a busca de uma coisa mais imediata que a sua
sobrevivência, que todos os animais buscam, que é a sobrevivência de sua
espécie e a transcendência ao seu período de existência. Nessa procura de ir para o antes e para o depois, o homem desenvolve a
noção de tempo. Desenvolve história, passado e futuro. Nessa construção de conhecimento, que é absolutamente mesclado,
que hoje a gente chama de ciência e religião, um ato de filosofia é a mesma
coisa, é tudo uma busca pela sobrevivência e transcendência. Mas não
separadas, porque a nossa própria busca pela sobrevivência, através da
alimentação, está mesclada também por essa busca pela transcendência.
Na busca de alimentação, por exemplo, o homem desenvolve
uma alimentação ritual. O homem é capaz de fazer um ritual com a sua alimentação.
Nenhuma outra espécie animal é capaz de fazer isso. Quer dizer, é uma
alimentação que associa a sobrevivência com a transcendência. A nossa
procriação, quer dizer, o ato que permite a continuação da espécie, nosso ato
sexual, é um ato mesclado com algo que escapa à mera sobrevivência. É com
emoção, com amor, e se insere nessa busca de algo que á mais do que o que
palpável e imediato. E assim a Humanidade se desenvolve, cria conhecimento,
motivada sempre por sobrevivência e transcendência.
Na construção
desse conhecimento há a dimensão de muitas naturezas. Claro, há uma dimensão
sensorial, os primeiros impulsos, as primeiras informações que a gente recebe
do ambiente. É óbvio que, no Pólo Norte, o esquimó desenvolve as
suas explicações, as sua maneiras de sobreviver e transcender de maneira
completamente diferente de uma pessoa na Amazônia. A informação que vem através do sensorial, do intuitivo, do emocional,
do próprio racional, depende do lugar onde está localizado esse grupo, essa
espécie. Então, na verdade, o que nós temos são gerações de conhecimentos. Conhecimentos
que se dão de uma forma aqui e de outra forma ali.
Hoje, temos o
desenvolvimento de coisas como etnomatemática, como etnociência, coisas que
vinham sendo sempre mencionadas. Bom, isso é absoluto, é igual para o mundo
inteiro. Quer dizer, temos que nos desenvolver pensando no ambiente que dá a
partida, que inicia esse processo de construção do conhecimento e que envolve
um processo sensorial, intuitivo, emocional e racional, e, obviamente, está
intimamente ligado à realidade que estamos vivendo.
Mas, voltando ao percurso, a essa grande migração do
homem para ocupar todo o planeta, muito disso é possível ser verificado através
de restos. Quando o homem fica mais tempo em um lugar, obviamente os
arqueólogos conseguem recuperar algumas das coisas deixadas. Hoje, fazemos
análises muito boas dessas peças deixadas; através de ossos podemos, inclusive,
com o exame do DNA, estudar os restos de milhares de anos. O que notamos é que
esses registros chegam a nós de maneira muito espalhada, os restos estão
espalhados pelo mundo inteiro. Às vezes encontramos uma certa concentração, em
algumas regiões, que nos permite estudar mais essas chamadas ‘paradas’ ou
construção de culturas, civilizações.
E as grandes civilizações encontradas estão espalhadas
pelo mundo, mas as conhecemos melhor, tivemos mais acesso, e elas foram mais
estudadas porque existem mais elementos sobre algumas grandes civilizações que
são chamadas de civilizações da antiguidade. E neste período começamos a falar
em história. Porque os registros que temos são melhores, já existindo,
em alguns casos, coisas escritas ou grafadas, ou pintadas ou algum tipo de
registro que tem facilitado a análise, como os monumentos.
Essas grandes civilizações da antiguidade, se colocarmos
mais ou menos na ordem de dez mil anos antes do presente, começam a aparecer em
torno do Mediterrâneo, na civilização do Egito, seguindo o rio Nilo,
civilização da Babilônia, da Mesopotâmia, onde hoje se localiza o Iraque; a
civilização da china e as civilizações dos Altiplanos americanos. É muito
interessante, outras civilizações diferentes dessas que mencionei, são
civilizações de altura; os Maias, os Incas, os Astecas, essas que parecem um
pouco mais novas, são civilizações que começaram a se estabelecer há mais ou
menos uns dez mil anos, e floresceram em torno de uns cinco mil anos, e temos
aí um período chamado história. Nesse período, a história nos mostra o que conseguimos
recuperar através dos monumentos, dos escritos, e são as maneiras, os modos
como essas civilizações explicavam o seu ambiente, como manejavam o seu sistema
social, tudo isso produto de conhecimento acumulado desde as primeiras
migrações. Isto é, de milhares de anos.
Esses conhecimentos, que reconhecemos hoje através dos
achados arqueológicos, são maneiras distintas de explicações. Os chineses explicavam de um jeito, os
hindus de outro, os egípcios e os babilônios de outro, e de uma maneira muito
diferente, ainda, os maias, incas e astecas. Explicavam, manejavam e trabalhavam a sua
realidade, construíam o seu sistema social, tinham a sua filosofia dentro de
esquemas diferentes. Algum intercâmbio entre essas filosofias
poderia existir. Estamos descobrindo, recuperando algumas evidências de
contatos entre civilizações do Oriente e da América. Parece que havia contato
na navegação, inclusive há possibilidade de ter se desenvolvido algum tipo de
comércio. Parece que havia contatos, também, há alguns milhares de anos, entre
as civilizações do velho mundo e do novo.
Sem dívida, entre as civilizações do Extremo Oriente e da
Europa a dinâmica cultural não pode ser deixada de lado em todas essas
considerações. Mas a dinâmica cultural
que põe em contato dois sistemas distintos e com isso produz alguma coisa
distinta, torna-os diferentes. Os dois sistemas não ficam iguais,
necessariamente.
Insisto no fato de que essas culturas, essas
civilizações, desenvolvem suas maneiras de explicar, suas maneiras de conhecer,
de maneira distinta. Ora, neste processo
o que sempre notamos é que a maneira de construção deste conhecimento segue um
trajeto que é mais ou menos o mesmo. É a realidade impactando o indivíduo
através dos sentidos, emoção, intuição, ação ou o que for, impactando
indivíduos que se comunicam – portanto povos – e esses povos gerando
conhecimento para manejar, explicar, entender, para se desenvolver nessa
realidade. Ao fazer isso, esse conhecimento é de alguma maneira estruturado e
expropriado pela estrutura de poder, que depois devolve ao povo o conhecimento,
devidamente elaborado e filtrado. Essa política da devolução do conhecimento é
extremamente importante, e sobretudo afeta os dias de hoje.
Bom, no curso dessa produção o que estamos notando, e a
história nos dá muitos elementos para isso, é o aparecimento de um conhecimento
em torno do Mediterrâneo, que tem as suas características diferentes daquilo
que acontecia na China ou entre os Maias, que acaba sendo expropriado e manejado pela estrutura de
poder dominante. É um conhecimento que os gregos, os babilônios, os
egípcios, os romanos desenvolvem, e acaba ficando na mão daqueles que têm mais
poder, acaba ficando na mão de mundo romano.
E ao iniciar o que hoje chamamos de Era Cristã, os
romanos absorveram todo o conhecimento grego, muito bem, (ao contrário do que
muitos historiadores dizem, por que os romanos dominavam a língua grega e
sabiam ler Aristóteles, Euclides, etc.). dominavam aquele conhecimento, e por
sua vez absorveram muita coisa da Ásia, do Egito e da Babilônia. Os
romanos empregaram daquele conhecimento o que lhes interessava na construção do
seu império. E a
construção do Império Romano é extremamente importante e interessante porque,
na verdade, é a construção do mundo moderno. É ali que se estabelecem as bases deste mundo onde estamos vivendo, e
se estabelecem os princípios básicos de legislação, de vida social e de vida
urbana. Acho que a melhor fonte para sentirmos o que foi o Império Romano é
um livro, que é rechaçado por razões fáceis de serem explicadas, chamado Os dez
livros de arquitetura de Bitruvius. Ele nos dá um belo quadro da filosofia do
Império Romano, o que se pretendia nele e qual o grau de conhecimento daquele
império.
O que notamos é que o Império Romano se desenvolve, tem o
seu apogeu entre os anos 50 e 60 desta era, quando os judeus são dispersados e
espalham um outro tipo de conhecimento que tem de ser preservado e mantido e
que se instala nos principais centros do Império Romano. Isso também tem sido
pouco estudado pelos historiadores da ciência, e esse conhecimento é
extremamente importante na construção do mundo moderno. Instala-se no mundo
romano e se mantém, enquanto este começa a desenvolver outro conhecimento cuja
grande finalidade é a construção de uma nova religião, que é a religião adotada
pelo Império Romano. Uma religião que foi adotada quando Constantino fez as
pazes com a Igreja, e o imperador Teodósio reconheceu a Igreja como uma
instituição ligada ao Império Romano, oficializando o cristianismo. O
cristianismo não existia.
O que é o cristianismo? É uma série de escritos que estão
soltos, quatrocentos, quinhentos, seiscentos escritos falando de um homem que,
historicamente, naquela época, não tinha tido importância. Um homem que ninguém
havia conhecido, que não representava nenhuma estrutura de poder. E o
cristianismo entra nesse processo maravilhoso de construir uma teologia,
construir uma coisa nova, e sua grande primeira figura é Santo Agostinho. E
entrada de Santo Agostinho na história é decisiva, porque ele começa a impor
credibilidade. Imagine uma religião que é adotada por um império, que
era o império dominante! Como é que se podia dizer: “Bom, esses são os
fundamentos filosóficos da religião”, utilizando alguns evangelhos, alguns deles
de uma pobreza literária e filosófica enorme, e confrontar isso com outros
sistemas filosóficos, como por exemplo o dos gregos, que o Império Romano
dominava. Alexandria era uma cidade do Império Romano. Atenas era uma cidade do
Império Romano. Os filósofos romanos, naturalmente, frequentavam Alexandria e
Atenas. Dizer que romano não entende de grego é uma besteira total.
Mas, claro, na hora em que o império oficializa uma
religião, ela tem que ter fundamentos filosóficos. E esses fundamentos não podiam
sair dos judeus que existiam lá pela Europa, porque eles estavam procurando
preservar o seu judaísmo. E seria uma contradição, o romano liquidar o reino de
Israel, espalhar os judeus e de repente adotar sua religião. Não podia! Tinha
que ser uma religião nova que, de alguma maneira, tivesse um certo atrativo
para aqueles que estavam dando trabalho aos romanos, e que passaram a dar menos
trabalho porque se cristianizaram, se incorporaram ao império. Uma religião
atrativa para eles, que é a religião cristã, misturando elementos de paganismo
e ao mesmo tempo com uma base filosófica sólida. E daí entra Agostinho na
história, e culmina essa construção da base filosófica com São Tomás de Aquino.
Ora, em todo esse
processo, tudo o que se faz, a construção do conhecimento científico, do
conhecimento religioso, conhecimento artístico, quer dizer, as catedrais, o
gótico, Gioto... O que são? Estão todos em torno desse grande projeto nacional,
que é o projeto de construção do Império Romano, agora cristão. Aonde
conhecimento se mescla com ciência, religião, arte, com tudo. E essa construção é
a base do pensamento moderno e o que fundamenta suas bases sai dos mosteiros.
Lord Backer veio de um mosteiro, Okar era monge, todos eram monges e são os
precursores, são aqueles que trabalharam na Idade Média na construção desse
conhecimento que hoje a gente chama de moderno.
Um outro grupo vinha da prosperidade, eram os
comerciantes. Finobate, que era o filho de Bonate, um grande mercador que
introduziu todo sistema de numeração na Europa, mudou totalmente o tipo de
explicações que se dava, através de uma coisa chamada ciência. Os árabes, com toda a ciência dos gregos,
não utilizaram a numeração arábica da maneira como os europeus utilizaram.
E daí, provavelmente, porque a grande revolução científica de Newton não ocorre
entre os árabes, que tinham os mesmos elementos para fazer essa revolução.
Mas o grande desenvolvimento do Mercantilismo na Europa
iniciou-se com as cruzadas. E o que
foram as cruzadas? Abrem novas rotas, quer dizer, mais comércio, vão buscar
mais coisas, lá na Índia. Abrem as navegações. O que significa a navegação? Quer dizer mais comércio. Por que os
portugueses estão interessadíssimos em dar a volta ao mundo e chegar à Índia?
Porque era uma rota melhor. Por que entrar pela rota europeia e competir com os
países maiores? Descobrir uma rota
própria, aí sim, fazia-se um bom negócio.
E os portugueses desenvolveram toda a navegação. Por que
os espanhóis foram navegadores? Também queriam superar a Itália e vão por sua
própria rota. O
mundo é redondo, todo mundo sabia. E daí se desenvolve a grande força do comércio, com aquele suporte da
construção do cristianismo que foi dominante no Império Romano. E surgem
elementos importantíssimos vindos dos escandinavos, dos germanos, um pensamento
científico nos séculos XV, XVI.
Os historiadores da ciência têm produzido uma grande
distorção nos séculos XVII e XIX, para atribuir esse pensamento científico ao
pensamento grego, como se fosse um passo além, um produto do pensamento grego. Não é nada disso,
é um pensamento inteiramente novo, produto da construção de um sistema religioso e de um sistema
comercial que se associam, a partir do século XVII, com Newton, numa empresa
enorme que é a empresa colonial. Até aí não se pensava em descoberta
de novos povos que pudessem ser trabalhados, ou novas terras que pudessem
entrar no sistema de produção, da maneira como entraram as colônias.
CONTINUA NA PRÓXIMA
QUARTA...
Obs.: Os negritos
itálicos são os destaques do texto original; os [ ], os negritos
e os negritos
vermelhos são destaques nossos.
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