Divulgando...
A
melhor das análise que vi.
Tereza
Cruvinel
Colunista
do 247, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
RETOMADA
A OFENSIVA CONTRA LULA PARA FECHAR O ROTEIRO DO GOLPE
7 de
Setembro de 2017
São
redundantes e ociosas as considerações morais sobre o que fez Antonio Pallocci,
o primeiro petista a delatar o ex-presidente Lula em busca da salvação numa
delação premiada. Há algum tempo circula no PT um diagnóstico atribuído a José
Dirceu: "Pallocci já virou cachorro". Na ditadura, cachorros eram os
militantes que se tornavam colaboradores da repressão, levando companheiros à
prisão e à morte. Certo é que a Lava Jato, Janot e Moro retomaram a ofensiva
contra o PT e o ex-presidente, apesar das lambanças envolvendo Temer, Geddel e
outros partidos da coalizão governista, e pode estar em curso uma ação
coordenada para fechar o cerco com a prisão de Lula. E Pallocci, com seu
depoimento, forneceu uma das peças mais importantes para o roteiro que começou
a ser montado esta semana. Um roteiro de filme de ação vertiginosa, em que o
telespectador perde o encadeamento das cenas e o significado da narrativa.
É
preciso que o telespectador se confunda e permaneça assistindo passivamente ao
filme, sem compreender claramente o papel dos personagens, até que venha o
desfecho.
Até
à semana passada, tudo apontava para a apresentação de uma segunda denúncia
contra Temer que tinha chances de vingar. Base rachada, tucanos em crise,
munição esgotada para comprar votos, Rodrigo Maia sendo tentado a tornar-se
condutor alternativo (e mais eficiente) da agenda neoliberal. Eis que esta
semana ocorre uma reviravolta no enredo, numa sequência vertiginosa que parece
levar a um final já programado.
Segunda-feira,
4 - O dia havia sido pasmacento e de poucas notícias em Brasília mas o início
da noite foi agitado pela informação de que Janot daria um coletiva para fazer
revelações graves e urgentes. Era a confissão das trapalhadas da PGR na
condução do acordo de delação da JBS, que forneceu oxigênio a Temer e deixou o
procurador fragilizado e exposto. Lula chega neste dia a São Luis (MA) para o
encerramento de sua caravana pelo Nordeste, onde foi recebido por multidões em
clima de reencontro.
Terça-feira,
5 - Janot, humilhado em todas as manchetes do dia, volta seu arcabuz contra o
PT e denuncia o partido, Lula, Dilma e outros por formação de organização
criminosa. Na mesma terça-feira a Polícia Federal estoura o depósito de
dinheiro de Geddel Vieira Lima, com R$ 51 milhões, mas o fato gravíssimo,
envolvendo um dos arqueiros do golpe, acabou servindo foi à ofensiva contra
Lula. A manchete do jornal O Globo – Janot denuncia Lula, Dilma e PT por
organização criminosa – foi ilustrada por foto das malas de dinheiro de Geddel.
Para quem apenas olha, lá estava o fruto da roubalheira petista. No mesmo dia
começou a circular nas redes um vídeo assinado pela Polícia Federal, mas que
pode ser fake. OPTesouro perdido, é o título. As cenas mostram apenas a
contagem da dinheirama de Geddel. O título remete ao nome da Operação Tesouro
Perdido mas a montagem gráfica, juntando P e T sem espaço, é de uma má fé
repugnante. Nesta altura deve ter gente pensando que o tesouro de Geddel era
mesmo do PT.
Quarta-feira,
6 – Janot volta a denunciar Lula, agora por obstrução da Justiça, por conta de
fatos já desidratados e inconsequentes, como sua nomeação frustrada para o
ministério de Dilma. Em Curitiba, Moro chama novamente Pallocci a depor em
momento estratégico, faltando uma semana para o depoimento de Lula. Pallocci
faz o que se esperava dele: muda o depoimento anterior, em que defendeu Lula,
capricha na retórica, falando num "pacto de sangue" que Lula teria
feito com a Odebrecht, e que teria garantido ao PT, a partir de 2010, uma
conta-propina de R$ 300 milhões. O caso JBS e o dinheiro de Geddel perdem
evidência e crescem os sinais de que o cerco a Lula está se fechando.
Quinta-feira,
7 – As manchetes do jornais são sobre o "pacto de sangue"
Lula-Odebrecht. No desfile da Independência, um Temer agora reoxigenado pelas
trapalhadas da JBS e de Janot, consegue ficar diante do público sem receber
vaias nem aplausos. Ele é um morto-vivo mas agora tem chances efetivas de ficar
no cargo até o final do mandato.
O
golpe segue seu roteiro com a eficiência de sempre. Para completar-se com pleno
êxito, é preciso que Lula seja logo preso ou inabilitado para disputar a
Presidência no ano que vem. É preciso fazer isso logo, antes que estas
caravanas comecem a reunir multidões em outras regiões. Antes que a candidatura
torne-se um bode de remoção complicada. Inabilitar Lula talvez seja pouco, pois
não sendo candidato ele ainda pode ser um cabo eleitoral decisivo. Já elegeu
dois postes, todos se lembram. Então, prendê-lo pode ser a solução. As condições
estão sendo criadas. Vá tratando o PT de ter mesmo um plano B para o caso de
haver eleições, pois nem isso parece certo nesta altura. Estamos em pleno
avanço da exceção mas queremos continuar acreditando em normalidade.
Conversando
com um diplomata estrangeiro esta semana ele riu-se do que chama nossa
inocência. Só nós (brasileiros desolados com o descarrilhamento nacional)
achamos que o golpe, a Lava Jato, a demonização da política e a caçada a Lula
são tramas conduzidas apenas por gente do Brasil, como Moro, Janot, Temer,
parte do Judiciário, mídia, Polícia Federal etc. Enquanto o filme passa, as
transnacionais avançam sobre o petróleo, o pré-sal, o sistema elétrico, o
subsolo e a Amazônia. O mesmo filme, diz ele, que está em cartaz em outros países
da América Latina, inclusive no Equador, onde o sucessor de Rafael Corrêa, tal
como Pallocci, passou-se para o outro lado. Talvez tenha razão, talvez seja
paranoico, mas a precisão do roteiro e a impotência geral diante de seu avanço
são impressionantes.
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