10 Conselhos para os militantes de esquerda - Frei Betto
1- Mantenha viva a indignação: Criamos vícios de direita,
perdemos o entusiasmo de ser criativos na luta. Mantenhamos viva a indignação:
um militante não pode nunca perder seu senso crítico. Muitas vezes, por
interesses pessoais, não se critica o outro. Será que estamos perdendo o poder
de criticar de maneira construtiva? O poder não redime ninguém, o poder revela.
Me lembro de uma vez ter ouvido um ditado que nunca mais esqueci: “Se queres
saber quem é Juanito, dê-lhe um carguito”. Então eu pergunto: Será que estamos
repetindo nos nossos Movimentos o sistema burguês, de lideranças burras, que
fazem críticas pelas costas? A crítica é importante para rever os passos da
caminhada.
2 – A cabeça pensa aonde os pés pisam: Não dá para ser de
esquerda sem “sujar” os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e
celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é o jogo da direita. Os
Nossos políticos se descolaram da base. Penso que se há um problema com os
partidos de esquerda no Brasil, é ter eleitores e não ter militantes. Não se
pode deixar de caminhar nas bases populares, mesmo que se vire presidente do
país. É mantendo o vínculo com movimentos sociais que encontramos o gás que nos
alimenta nessa luta.
3 – Não se envergonhe de acreditar no socialismo: Sempre me
questionaram o seguinte: Você que é frade e se mete em política? Eu como
cristão, sou discípulo de um preso político, Jesus foi preso, torturado e
condenado por dois pesos do Estado, assim como Vladimir Herzog. Não podemos
confundir os princípios com as experiências negativas, o modelo stalinista de
socialismo fracassou, mas não o socialismo. A humanidade não tem futuro fora da
partilha dos bens da terra. Todo mundo está de acordo que o Brasil precisa
fazer ajustes fiscais, mas esses ajustes não podem ficar só no colo do
trabalhador.
4 – Seja crítico sem perder a autocrítica: Seja crítico, sem
perder a autocrítica. Temos facilidade a dirigir críticas ao governo. Como
ninguém é juiz de si mesmo, é preciso que outro fale aonde estamos vacilando.
5 – Saiba a diferença entre militante e “militonto”: É
preciso que saibamos a diferença entre militante e militonto. Cada um de nós
devemos saber onde está nossa trincheira. Entramos na luta por alguma porta.
Vivemos numa sociedade burguesa, com a cabeça feita pela grande mídia. Exemplo
disso é a nossa mídia que enfia na cabeça do brasileiro que alimento
envenenado, cheio de agrotóxico e de elementos cancerígenos é bom.
6 – Seja rigoroso na ética da militância: Certa vez ouvi de
Fidel, “Frei Betto: Um revolucionário pode perder tudo, menos a moral. O
patrimônio ético do militante é o que ele tem de mais importante”. A direita
não posa de ética, mas nós, a esquerda sim. Por isso, quando pisamos na bola, a
cobrança é tão pesada. O verdadeiro militante é um servidor, disposto a dar a
própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar
no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.
7 – Alimente-se na tradição da esquerda: Ande sempre com um
livro ainda que você tenha certeza de que não tenha tempo de abri-lo.
Precisamos de elementos para debater a atual esquerda, assim, não cometermos
hoje os mesmos erros do passado.
8 – Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão
de acertar sem eles: Os pobres agem por princípio de necessidade, a elite age
por interesse. É importante que saibamos que não existe pessoa mais culta que a
outra, existem culturas distintas e socialmente complementares. O nosso povo é
culto, só não sabe que é.
9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não
tenha razão: Quando criticam as ocupações do MST, dizendo que são agressivas ou
coisa parecida, sempre respondo lembrando a quem perguntou que agressivo é o
colonialismo, a escravatura, a política para os imigrantes. O exagero que o
pequeno faz não é nada diante das enormes atrocidades organizadas pelos grandes
para dominar o mundo.
10 – Faça da espiritualidade um antídoto contra a alienação:
Não falo de fé. A espiritualidade pode ser religiosa ou não. É importante que
cultivemos a nossa subjetividade. Falamos como militantes e vivemos como
burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta. Os dons da
vida são um mistério, a vida é toda centrada na experiência do amor, e o amor é
um mistério. Não importa se uma pessoa é atéia ou à toa, tem é que ser
revolucionária. E sem tem uma coisa da qual nós podermos ter certeza é a de que
o amor é revolucionário.
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