Divulgando de GGN...
Carta pública aos ex-colegas da Lava-Jato, por Eugênio Aragão
Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu
ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e
arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga.
Por Eugenio Aragão - 27/08/2019
Carta
pública aos ex-colegas da Lava-Jato
por Eugênio
Aragão
Sim. Ex-colegas, porque, a despeito de a
Constituição me conferir a vitaliciedade no cargo de membro do Ministério
Público Federal, nada há, hoje, que me identifique com vocês, a não ser uma
ilusão passada de que a instituição a que pertenci podia fazer uma diferença
transformadora na precária democracia brasileira. Superada a ilusão diante das
péssimas práticas de seus membros, nego-os como colegas.
Já há semanas venho sentindo náuseas ao ler suas
mensagens, trocadas pelo aplicativo Telegram e agora reveladas pelo
sítio The Intercept Brasil, num serviço de inestimável valor para nossa
sociedade deformada pela polarização que vocês provocaram. Na verdade, já sabia
que esse era o tom de suas maquinações, porque já os conheço bem, uns
trogloditas que espasmam arrogância e megalomania pela rede interna da casa.
Quando aí estava, tentei discutir com vocês, mostrar erros em que estavam
incidindo no discurso pequeno e pretensioso que pululava pelos computadores de
serviço. Fui rejeitado por isso, porque Narciso rejeita tudo que não é espelho.
E me recusava a me espelhar em vocês, fedelhos incorrigíveis.
O GGN
prepara uma série de vídeos sobre a interferência dos EUA na Lava Jato e a
indústria do compliance. Quer se aliar a nós? Acesse: www.catarse.me/LavaJatoLadoB
A mim vocês não convencem com seu pobre refrão de
que “não reconhecem a autenticidade de mensagens obtidas por meio criminoso”.
Por muito menos, vocês “reconheceram” diálogo da Presidenta legitimamente
eleita Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, interceptado e divulgado de
forma criminosa. Seu guru, hoje ministro da justiça de um desqualificado, ainda
teve o desplante de dizer que era irrelevante a forma como fora obtido acesso
ao diálogo, pois relevaria mais o seu conteúdo. Tomem! Isso serve que nem uma
luva nas mãos ignóbeis de vocês. Quem faz coisa errada e não se emenda acaba
por ser atropelado pelo próprio erro.
Subiu-lhes
à cabeça. Perderam toda capacidade de discernir entre o certo e o errado, entre
o público e o privado, tamanha a prepotência que os cega. Não têm qualquer
autocrítica. Nem diante do desnudamento de sua vilania, são capazes de um gesto
de satisfação, de um pedido de desculpas e do reconhecimento do erro. Covardes,
escondem-se na formalidade que negaram àqueles que elegeram para seus inimigos.
Esquecem-se que o celular de serviço não se presta
a garantir privacidade ao agente público que o usa. Celulares de serviço são
instrumentos de trabalho, para comunicação no trabalho. Submete-se, seu uso,
aos princípios da administração, entre eles o da publicidade, que demanda
transparência nas ações dos agentes públicos. Conversas de cunho pessoal ali
não devem ter lugar e, diante do risco de intrusão, também não devem por eles
trafegar mensagens confidenciais. Se houver quebra de confidencialidade pela
invasão do celular, a culpa pelo dano ao serviço é do agente público que agiu
com pouco caso para com o interesse da administração e depositou sigilo
funcional na rede ou na nuvem virtual. Pode por isso ser responsabilizado, seja
na via da improbidade administrativa, seja na via disciplinar, seja no âmbito
penal por dolo eventual na violação do sigilo funcional. Não há, portanto, que
apontarem o dedo para os jornalistas que tornaram público o que público devesse
ser.
De qualquer sorte, tenho as mensagens como
autênticas, porque o estilo de vocês – ou a falta dele – é inconfundível. Mesmo
um ficcionista genial não conseguiria inventar tamanha empáfia. Tem que ser
membro do MPF concurseiro para chegar a tanto! Umas menininhas e uns menininhos
“remplis de soi-mêmes”, filhinhas e filhinhos de papai que nunca
souberam o que é sofrer restrições de ordem material e discriminação no dia a
dia. Sempre tiveram sua bola levantada, a levar o ego junto. Pessimamente
educados por seus pais que não lhes puxaram as orelhas, vocês são uns
monstrengos incapazes de qualquer compaixão. A única forma de solidariedade que
conhecem é a de uma horda de malfeitores entre si, um encobrindo um ao outro,
condescendentes com os ilícitos que cada um pratica em suas maquinações que
ousam chamar de “causa”. Matilhas de hienas também conhecem a solidariedade no
reparto da carniça, mas, como vocês, não têm empatia.
Digo isso com o asco que sinto de vocês hoje.
Sinto-me mal. Tenho vontade de vomitar. Ao ler as mensagens trocadas entre si
em momentos dramáticos da vida pessoal do Ex-Presidente Lula, tenho a prova do
que sempre suspeitei: de que tem um quê de psicopatas nessa turma de jovens
procuradores, uma deformação de caráter decorrente, talvez, do inebriamento
pelo sucesso. Quando passaram no concurso, acharam que levaram o bilhete da
sorte, que lhes garantia poder, prestígio e dinheiro, sem qualquer
contrapartida em responsabilidade.
Sim,
dinheiro! Alguns de vocês venderam sua atuação pública em palestras privadas,
em troca de quarenta moedas de prata. Mas negaram ao Ex-Presidente Lula o
direito de, já sem vínculo com a administração, fazer palestras empresariais. As
palestras de vocês, a passarem o trator sobre a presunção de inocência, são
sagradas. Mas as de Lula, que dão conta de sua visão de Estado como ator
político que é, são profanas. E tudo fizeram na sorrelfa, enganando até o
corregedor e o CNMP.
Agora, a cerejinha do bolo. Chamam Lula de
“safado”, fazem troça de seu sofrimento, sugerem que a trágica morte de Dona
Mariza foi queima de arquivo… chamam o luto de “mimimi” e negam o caráter
humano àquele que tão odienta e doentiamente perseguem! Só me resta perguntar:
onde vocês aprenderam a ser nazistas? Pois tenho certeza que o desprezo de
vocês pelo padecimento alheio não é diferente daqueles que empurravam multidões
para as câmaras de gás sem qualquer remorso, escorando-se no “dever para com o
povo alemão”. Ao externarem tamanha crueldade para com o Ex-Presidente Lula,
vocês também invocarão o dever para com o Brasil?
Declarem-se suspeitos em relação ao alvo de seu
ódio. Ainda é tempo de porem a mão na consciência, mostrarem sincero remorso e
arrependimento, porque aqui se faz e aqui se paga. A mão à palmatória pode
redimi-los, desde que o façam com a humildade que até hoje não souberam
cultivar e empreendam seu caminho a Canossa, para pedirem perdão a quem
ofenderam. Do contrário, a história não lhes perdoará, por mais que os órgãos
de controle, imbuídos de espírito de corpo, os queiram proteger. A hora da
verdade chegou e, nela, Lula se revela como vítima da mais sórdida ação de
perseguição política empreendida pelo judiciário contra um líder popular na
história de nosso país. Mais cedo ou mais tarde ele estará solto e inocentado,
já vocês…
Despeço-me aqui com uma dor pungente no coração.
Sangro na alma sempre que constato a monstruosidade em que se transformou o
Ministério Público Federal. E vocês são a toxina que acometeu o órgão. São tudo
que não queríamos ser quando lutamos, na Constituinte, pelo fortalecimento
institucional. Esse desvio de vocês é nosso fracasso. Temos que dormir com
isso.
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