Divulgando de Carta Capital...
Boa
tarde povo!
Dia
de Pensamento Inquieto! Continuamos com os textos anunciados na primeira
postagem. Os mesmos serão divididos em várias postagens pra facilitar a
leitura.
Obs.:
Lembrando que temos uma novidade! Se você estiver sem tempo para ler o texto, a
partir de agora disponibilizaremos um link para que você possa ouvir o texto
sintetizado em MP3 (Haverá alguns sotaques visto que são sintetizadores
estrangeiros)! O(s) Link(s) estará(ão) sempre entre o primeiro e o segundo
parágrafo do texto postado.
Degustem!
Sociedade História
Historiador citado por Toffoli rejeita chamar ditadura de 'movimento'
Em seminário sobre Constituição de 1988, o
presidente do STF afirmou que prefere chamar a ditadura civil-militar de
"movimento de 1964".
Arquivo Nacional
Ele também afirma que esquerda e direita não têm as
mesmas responsabilidades no processo de radicalização que levou ao golpe.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro
Dias Toffoli, afirmou nesta segunda-feira 1º que não usa, ao falar do período
da ditadura civil-militar no Brasil, os termos "golpe" ou
"revolução". "Me refiro a movimento de 1964", disse. A fala
foi feita em um seminário que tratava dos 30 anos da Constituição de 1988.
Ao falar do período da ditadura militar, Toffoli mencionou o historiador Daniel Aarão
Reis. Segundo o presidente do STF, sua pesquisa indicaria que tanto a esquerda
quanto a direita conservadora, naquele período, tiveram a conveniência de não
assumir seus erros anteriores a 1964, passando a atribuir os problemas aos militares.
Leia também:
O conceito elaborado por Toffoli nesta
segunda-feira não é, no entanto, o mesmo utilizado por sua fonte. O historiador
Daniel Aarão Reis, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense,
afirmou, em entrevista a CartaCapital, que chamar a ditadura militar de
'movimento de 1964' é impróprio, assim como igualar "os que lutavam por
justiça social com os que queriam eternizar a injustiça social."
Carta Capital: O senhor
concorda com a interpretação do ministro Dias Toffoli sobre as
responsabilidades das diferentes correntes ideológicas que antecederam o golpe
militar de 1964?
Daniel Reis Aarão: Ele (o
ministro) cometeu um equívoco. Ele deveria ter citado uma outra estudiosa do
assunto, que é a Argelina Figueiredo. Ela fala realmente disso, que a gente
(historiadores) chama da doutrina dos dois demônios. Essa doutrina foi criada
na Argentina, e atribuía às esquerdas e às direitas as mesmas
responsabilidades.
Então seriam dois demônios que a sociedade deveria
exorcizar. Essa corrente foi extremamente combatida lá (na Argentina), e está
superada. Essa doutrina foi importada para o Brasil, e a Argelina Figueiredo
que se incumbiu disso. Ela requentou para o Brasil. Na interpretação dela a
radicalização anterior a 1964 deve ser atribuída igualmente às esquerdas e às
direitas. Porque foi essa radicalização, segundo ela, que levou ao golpe.
CC: O senhor, como pesquisador, avalia como coerente
essa interpretação da história?
DAR: Essa interpretação dos dois demônios eu rejeito
categoricamente. Eu não nego que antes do golpe havia um processo de
radicalização no Brasil. Mas parece utópico igualar camponeses que lutam pela
terra a latifundiários. Me parece impróprio igualar aqueles que lutam por
justiça social com os que querem eternizar a injustiça social. Me parece
impróprio, em relação à conjuntura anterior a 1964, igualar os marinheiros que
queriam ter o direito de voto às oligarquias que não queriam democratizar o
voto.
No Brasil, antes de 64, os analfabetos, que eram
mais de 50% da população, não votavam. Então, havia um movimento muito grande
no Brasil antes de 64 por justiça social e democracia, e comparar esses (a
esquerda) aos que recusavam a democracia me parece um procedimento vesgo, que o
ministro Toffoli teve a infelicidade de atribuir a mim.
CC: É correto chamar o período da ditadura militar de
movimento de 64?
DAR: Foi muito infeliz da parte dele dizer que abandona
a terminologia ditadura, que expressa perfeitamente o estado de exceção que se
passou no País, pra assumir um outro conceito. Vindo da parte de um juiz,
presidente do STF, é uma coisa que provoca espanto. Eu estou estarrecido de ver
um juiz, que deveria ser o guardião da lei, relativizando o desrespeito à lei.
CC: O senhor avalia, então, que é ruim para a
história um autoridade jurídica assumir esse tipo de conceito.
DAR: Devemos lembrar, para desgraça nossa, que na época
de 64, o então presidente STF, ministro Ribeiro da Costa, sem consultar seus
colegas, apoiou o golpe de 64. Então o ministro Ribeiro da Costa foi cúmplice
do golpe. Fato lamentável para a tradição jurídica brasileira. E é uma pena que
o ministro Toffoli, de alguma maneira, recupere essa tradição triste que foi
assumida pelo Ribeiro da Costa na época. Depois o Ribeiro da Costa entrou em
conflito com a ditadura, mas ai já era tarde. Acho que hoje muitos estão
namorando a hipótese de uma nova ditadura, e depois irão se arrepender, mas ai
também será tarde.
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