Divulgando...
A origem do medo: Porque a segurança é uma ilusão
Desde que nascemos, somos
condicionados a ter medo. O medo é fruto de uma cultura que nasceu junto com o
homem e se converteu em estratégia de domínio e poder sobre o povo.
A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
(Charles Chaplin)
Ainda quando você é um bebezinho
e está começando a andar, você aprende que não pode subir na janela, nem soltar
a mão da mamãe na rua. Você descobre que se pegar na panela do fogão vai se
queimar ou vai se arrepender se colocar o dedo na tomada. A criança pode até
fazer alguma dessas coisas, mas a primeira lição que ela aprende é que SE ela
fizer isso, algo ruim acontece.
Desde o inicio da humanidade o
homem descobriu que o medo é capaz de dominar povos inteiros. No Egito antigo,
os faraós já usavam dessa estratégia para construir impérios e se fortalecer
cada vez mais. O mesmo foi feito por grandes líderes das civilizações antigas.
No entanto, o caso mais bem sucedido até hoje é o cristianismo. Os valores
judaico cristãos estão enraizados na cultura ocidental e refletem em nós direta
e indiretamente. Até quem se diz não religioso, sofre com o pecado e a culpa
impostos em nós inconscientemente.
E é inevitável, o medo nasce no
pensamento. Não dá para saber qual medo é instintivo e qual medo é imposto,
seja através do meio em que se vive ou das experiências particulares de cada
um. O medo é decorrente do desejo, componente que dá movimento ao ser humano.
No entanto, o medo não é mau, o
medo é o elemento de sobrevivência do homem. Um mecanismo de aprendizagem. Tudo
que fazemos é porque temos medo de morrer e tentamos prolongar nossa vida ao
máximo - nos alimentamos, usamos remédios e vacinas, buscamos uma forma de nos
sustentarmos, trancamos a porta da casa a noite e evitamos mudar a temperatura
do chuveiro com ele ligado. - tudo que o homem faz desde que nasce é retardar a
sua morte.
O problema é quando o homem usa o
medo como ferramenta de controle. É o que acontece na televisão, com a religião
e nos próprios valores morais. A sociedade vive em uma atmosfera de ansiedade e
fragilidade emocional. Algumas pessoas levam uma vida regrada e cautelosa
alimentadas pelo bicho papão pós moderno, a cultura do medo.
O próprio sistema capitalista que
prega em sua essência o individualismo ajuda a fomentar a cultura do medo. O
consumismo e a competição levam o individuo a participar de um modelo egoísta e
alienante. A pessoa teme perder o que ela conquistou, teme ser vista como fraca
ou pobre. O mérito é a chave para alcançar uma posição de destaque.
O terror pregado pela televisão
(em outras mídias também) tem provocado recentemente um clima de preocupação
com seus programas policiais de banalização da violência. Nesses programas, o
objetivo não é informar e sim causar choque, pânico. A pessoa assiste a crimes
horrendos tratados com naturalidade, já que a violência é vista como implacável
e parte do cotidiano. O telespectador passa a ter medo de sair de casa - e de
ficar em casa também.
Criou-se a ilusão da segurança. A
segurança não passa de uma palavra inventada para trazer conforto a gente. De
fato, as pessoas podem prevenir certos acontecimentos, mas ninguém tem domínio
sobre eles e por isso, não se deve acreditar em uma vida livre de possíveis
riscos. Segurança não é garantia, é alimento para o medo.
Assim como Foucault disse sobre os
meios docilização do homem - hospital, escola, hospício - o medo tem o mesmo
princípio que essas instituições. A ‘instituições de sequestro’ cuidam de
disciplinar o indivíduo, adestrar, faze-lo aprender as regras fundamentais da
sociedade (ou confina-lo caso não obedeça). O medo não é uma instituição, com
corredores cheios de salas e pessoas uniformes, mas pretende
"ensinar" o homem a se adequar na sociedade. E por isso pode ser
considerado também como uma relação de poder.
Seja pela forma de governo imperialista
dos Estados Unidos ou pelo valentão que te batia na escola, a liberdade do
homem é ceifada no momento em que o medo lhe é imposto e passa a ser sua
condição de sobrevivência.
Sempre que nos vemos tentados a
fazer um coisa nova, imediatamente pensamos em algo que nos impeça de fazer.
Sentimos medo de nos arriscar porque crescemos vendo e ouvindo que apenas os
tolos ignoram seus medos. Ou que homem é livre mas deve temer as consequências
dos seus atos, quando na verdade ele deve apenas ser responsável. Há uma
diferença entre o temor e o bom senso, que muita gente confunde. E justamente
no bom senso que cabe a árdua tarefa de decidir o que é ou não viável.
O medo é nossa prisão diária, que
nos mantém vivos e ao mesmo tempo nos afasta de viver em liberdade. Em um mundo
onde todos querem o nosso medo, terminamos condenados a amar nossas amarras.
Ninguém leva a sério. Ama comer, ver filme e faz
jornalismo porque gosta das palavras.
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