Abismo
separa melhores e piores resultados do Brasil
DESTAQUES EM BRASIL
RIO - Nas melhores e piores escolas ou redes do
país, é fácil perceber o que leva ao caminho do bom aprendizado e o que condena
os alunos a um mau desempenho. Nas melhores, há foco nos alunos e participação
dos pais. Nas piores, a infraestrutura é precária e ninguém assume a
responsabilidade pelos maus resultados.
Com cerca de 200 alunos, a Escola Municipal Santa
Rita de Cássia, em Foz do Iguaçu (PR), recebeu nota 8,6 no Ideb 2011 e empatou
com a Escola Municipal Carmélia Dramis Malaguti, de Itaú de Minas (MG), no topo
do ranking das melhores escolas públicas para os anos iniciais do ensino
fundamental. A diretora Shirlei de Oliveira, que comanda há cinco anos uma
equipe de dez professores, uma supervisora e uma secretária - todos com curso
superior e pós-graduação -, atribui o sucesso ao trabalho que faz junto aos
pais e ao reforço escolar que oferece para todos os alunos. Os que têm boas
notas assistem a aulas extras três vezes por semana. Os que têm notas baixas,
todos os dias.
As professoras Maria Isabel Gomes Vieira e Leda
Márcia Dal Gin vêem ainda mais um ingrediente na receita do sucesso: dividiram
as turmas conforme a afinidade que têm com as disciplinas. Uma ensina português
e ciências. A outra, matemática, história e geografia. Um terceiro professor
completa o currículo com jogos matemáticos, literatura, dicionário e
informática.
Na Escola Municipal Carmélia Dramis Malaguti, que
fica a 360km de Belo Horizonte e divide o posto de melhor com a Santa Rita de
Cássia, o enfoque no aluno também é o que explica o bom resultado.
- Nossa prioridade é descobrir o que está por trás
das dificuldades do aluno. Por isso, a relação olho no olho entre professor e
aluno é fundamental - destaca a diretora da escola, Maria Flávia Oliveira.
Se não há receita, há um conjunto de fatores que
tem funcionado. A escola subiu 2,6 pontos no Ideb desde 2007. No mesmo período,
a prefeitura de Itaú de Minas fez um programa de capacitação de professores que
não exige participação, mas valoriza o profissional presente com uma
gratificação no fim do ano.
Outra característica em comum entre as duas
melhores escolas do país é a boa relação com os pais. A diretora Carmélia
Malaguti diz se orgulhar de telefonar à família no caso de três faltas
seguidas. Também costuma encaminhar, para fonoaudiólogos e psicólogos, alunos
com dificuldades. Os tratamentos são todos custeados pela prefeitura.
Nos anos finais do ensino fundamental, o melhor
resultado por escola foi encontrado em Pernambuco, no Colégio de Aplicação da
Universidade Federal de Pernambuco. O 8,1 do Ideb coroa um espaço que
praticamente não tem evasão - só houve uma desistência no ano passado - e exibe
percentuais de aprovação que chegam a 98%.
Além do alto grau de especialização dos
profissionais, o CAp estimula os estudantes a monitorar não só o desempenho de
suas turmas, como também o dos professores. A iniciativa dá chance aos alunos
de reconhecerem suas deficiências e ajuda os professores a descobrir novos
caminhos em sala de aula.
- O que tentamos fazer é criar um ambiente para o
aluno aprender junto com o professor, e o professor, junto com ele - diz o
diretor do CAp, Alfredo Matos.
No pior município, precaridade é total
Do outro lado do espectro, está a cidade de
Monteirópolis, situada a 194km de Maceió (AL). É dela a pior rede municipal de
educação de todo o país no que diz respeito aos anos iniciais do ensino
fundamental. Segundo o Ideb, as cinco escolas da cidade tiveram média 2,3.
- A estrutura das escolas é precária, a merenda tem
problemas. No cardápio de hoje, era arroz com frango, mas só tem bolacha com
suco. Nem manteiga ou margarina - conta a professora Rose Braga.
Segundo ela, além do problema com a merenda, os
alunos sofrem também com o cheiro das fezes dos pardais que se acumulam no
telhado. Apesar da seca que afetou a cidade neste ano, os alunos não comemoram
quando chove:
- As escolas viram uma cachoeira. Imagine a cena:
alunos com fome, mau cheiro de pardais e goteiras.
Na escola de Rose Braga, a direção prefere não
falar sobre o assunto. Na Secretaria municipal de Educação, ninguém atende os
telefonemas.
O pior resultado entre as redes estaduais de ensino
médio também ficou com Alagoas, com nota 3,8 (0,2 a menos do que na pesquisa
anterior). O secretário estadual de Educação, Adriano Soares da Costa, promete
agir em cinco frentes para reverter a situação. Até outubro, realizará provas
para contratar 2.500 professores e mil monitores. Até meados de 2013, reformará
as 334 escolas que comanda e, em 60 delas, instalará uma espécie de ponto
eletrônico para reduzir a evasão de alunos.
No caso de escolas, a pior pública dos anos
iniciais do ensino fundamental é o Grupo Escolar Dr. Antônio Carlos Magalhães,
que fica no município de Cairu, a 83km de Salvador. O 0,9 registrado pela
pesquisa causou estranhamento à Secretaria municipal de Educação já que, nas
duas últimas edições da pesquisa, o município teve média 3,8. O prefeito
Hildécio Meireles acredita que houve um problema isolado, mas já pediu o
levantamento dos dados da escola.
A pior escola pública para os anos finais do ensino
fundamental também é baiana: o Colégio Estadual 29 de Março, em Salvador. A
Secretaria estadual de Educação do Estado afirmou que houve um erro no preenchimento
de dados que fez com que as taxas de aprovação, em vez de serem de 50%, fossem
registradas como 3%.
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